(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Belo Horizonte registra média de 5 roubos dentro de ônibus por dia

Incidência de assaltos nos coletivos de BH deixa em alerta passageiros, que temem um desfecho trágico, como as mortes do professor da UFMG e de duas outras pessoas neste ano


postado em 16/11/2017 06:00 / atualizado em 16/11/2017 07:22

Alto risco: apesar de as estatísticas oficiais mostrarem um recuo nos roubos nos coletivos, o sindicato dos motoristas indica que há subnotificação(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Alto risco: apesar de as estatísticas oficiais mostrarem um recuo nos roubos nos coletivos, o sindicato dos motoristas indica que há subnotificação (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

Todos os dias, cinco pessoas têm objetos pessoais retirados com violência quando estão dentro dos ônibus que circulam em Belo Horizonte, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), com base nos casos oficialmente registrados nas polícias Civil e Militar. Mas o quadro pode ser ainda pior, pois, segundo o Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários de Belo Horizonte, a entidade trabalha com média mensal de 200 casos, o que significa seis por dia. A quantidade de roubos nos coletivos chama a atenção para o risco no meio de transporte responsável por 1,5 milhão de viagens por dia na capital mineira e liga o alerta para a possibilidade do desfecho mais trágico possível, como ocorreu com o professor da Faculdade de Medicina da UFMG Antônio Leite Alves Radicchi, de 63 anos, assassinado com cerca de 10 facadas após ter a mochila roubada na segunda-feira. Pelo menos outros dois casos terminaram da mesma forma em BH somente em 2017 (veja memória).

Antônio Radicchi estava a caminho do trabalho em um coletivo da linha 9805 (Renascença/Santa Efigênia) quando foi surpreendido por um homem, que tentou levar sua mochila e o golpeou com uma faca. O motorista do ônibus dirigiu até o Hospital Odilon Behrens, mas o professor não resistiu. A tensão que envolve ataques em ônibus deixa as pessoas preocupadas, pois muitas vezes os ladrões estão sob efeito de drogas e esse tipo de crime costuma envolver muitas vítimas, já que é comum que os bandidos assaltem o máximo de pessoas possível dentro de um coletivo.

Os dados de roubos dentro dos ônibus, fornecidos pela Sesp, mostram que há uma queda no número de ocorrências quando comparados os oito primeiros meses de 2017 e o mesmo período do ano passado. Foram 1.386 registros de janeiro a agosto deste ano (média de cinco por dia), contra 1.695 de 2016, queda de 18,24%. Em todo o ano passado foram 2.672 ocorrências. Já o sindicato que representa a categoria de trabalhadores dos ônibus, como motoristas e trocadores, diz que há um aumento nos casos, que eram em média 170 por mês em 2016 e neste ano já giram em torno de 200 assaltos todos os meses. A diferença nos números, segundo a entidade, é explicada pelo fato de nem todos os casos serem registrados. O sindicato informou ainda, via assessoria de imprensa, que se reúne frequentemente com o Comando de Policiamento da Capital (CPC) e repassa para a Polícia Militar todas as informações sobre locais que mais concentram os roubos. Atualmente, o sindicato relata maior concentração de casos em áreas como a Região de Venda Nova, as avenidas Nossa Senhora do Carmo e Raja Gabaglia e o entorno do Shopping Del Rey, no Bairro Caiçara, Noroeste de BH.

"Um dos assaltantes parecia drogado e a situação é muito tensa. Você não sabe o que se passa na cabeça dos bandidos e tudo pode virar uma tragédia em pouco tempo"

Adriana Mattar, 53 anos, artesã

O Comando de Policiamento da Capital da Polícia Militar informou, por meio de nota, que desde o início do ano adota medidas para coibir crimes violentos relacionados ao transporte coletivo, com o objetivo de proteger usuários e profissionais. As ações, segundo a PM, levam em conta o emprego de policiamento nos locais de maior incidência criminal. A corporação informou ainda que, por meio da inteligência policial, autores e infratores ligados a crimes violentos em coletivos têm sido identificados e presos ou apreendidos, se forem menores de idade.

Entre as operações pontuais, a PM destaca as desenvolvidas pelos batalhões da capital e com o suporte do batalhão de trânsito, por meio de blitze preventivas e repressivas nos principais corredores e no entorno desses pontos de maior incidência criminal. A lista inclui a Operação de Prevenção e Repressão a Assaltos em Coletivos (Prepraco), a Operação BH Mais Segura, que mapeia locais de embarque/desembarque e maior fluxo de passageiros para operações dinâmicas em coletivos, além das ações diárias feitas com aporte de motocicletas policiais vinculadas às bases de segurança comunitária, instaladas recentemente na cidade.

TRAUMA O maior temor para a população é que uma ocorrência de roubo termine com morte e configure latrocínio. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostram que no ano passado isso aconteceu 15 vezes na capital mineira, contra 12 casos de 2015. Os dados de latrocínio não se referem apenas a crimes dentro de ônibus e incluem assaltos em qualquer lugar. É exatamente esse o medo da artesã Adriana Mattar, de 53 anos, que já passou por duas situações de muito constrangimento dentro de coletivos. Quando dois homens armados fizeram uma limpa no ônibus em que ela se deslocava de casa para o trabalho, em 2012, a mulher mudou completamente a rotina. Traumatizada com a violência, ela largou um emprego de protética no Centro de BH e montou um ateliê em casa, onde produz suas próprias peças e evita andar de ônibus. “Um dos assaltantes parecia drogado e a situação é muito tensa. Você não sabe o que se passa na cabeça dos bandidos e tudo pode virar uma tragédia em pouco tempo. Hoje eu não me sento perto do trocador e sempre deixo a bolsa bem próxima de mim”, afirma ela, que presenciou também um assalto cuja vítima foi o trocador de outro coletivo em BH. Hoje, o fato de estar no ponto esperando o transporte já a deixa preocupada.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)

Juiz acata pedido de prisão preventiva

 

 

Preso pelo assassinato do professor Antônio Leite Alves Radicchi dentro de um ônibus da linha 9805 na segunda-feira, Alexandre Siqueira de Freitas, de 26 anos, passou ontem pela audiência de custódia, procedimento-padrão em que um preso é apresentado a um juiz após a detenção em flagrante. O delegado Thiago de Oliveira, que investiga o roubo que terminou com a morte do professor da UFMG, representou pela prisão preventiva de Alexandre, o que foi acatado pelo juiz. Ele vai aguardar as investigações e a instrução do processo preso ou até que nova decisão judicial mude sua condição. Já a companheira dele, Daiana Michelle Gonçalves dos Santos, de 27, que também foi presa e passou pela audiência de custódia, teve a prisão relaxada pelo juiz de plantão.

Daiana entrou no ônibus junto com o autor das facadas, mas teria descido antes de ele golpear o professor e roubar sua mochila. Alexandre confessou o crime alegou que o ato seria um acerto de contas, mas familiares e amigos de Antônio Radicchi descartam essa possibilidade. A Polícia Civil vai investigar o caso e terá as imagens gravadas por quatro câmeras dentro do coletivo como prova técnica importante para reconstruir o caso, além dos depoimentos das testemunhas que estavam no veículo.

Segundo a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), Alexandre esteve detido no presídio São Joaquim de Bicas II, na cidade homônima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por 15 meses. Ele deixou a unidade prisional em 14 de setembro. Segundo a assessoria de comunicação do Fórum Lafayette, Alexandre foi condenado em outubro a dois anos de reclusão por tentativa de homicídio. Porém, como já estava preso por quase a totalidade da pena, o juiz fixou o regime aberto. Além dessa condenação, ele também foi condenado por roubo, que aconteceu em 2012. A sentença foi proferida dois anos depois: três anos, seis meses e 20 dias de reclusão em regime aberto. A decisão do regime foi tomada devido ao fato de ele ser réu primário naquele momento.

Depois de passar por assalto, Adriana Mattar evita ao máximo viajar de ônibus e até mesmo deixou um emprego no Centro para evitar deslocamentos(foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)
Depois de passar por assalto, Adriana Mattar evita ao máximo viajar de ônibus e até mesmo deixou um emprego no Centro para evitar deslocamentos (foto: Paulo Filgueiras/EM/DA Press)

 

MEMÓRIA

Violência fatal

Antes do assassinato do professor Antônio Leite Alves Radicchi, pelo menos outros dois casos de assalto que terminaram com morte dentro de coletivos em Belo Horizonte geraram grande repercussão e revolta da população em 2017. Em janeiro, três homens armados entraram dentro de um ônibus da linha 4110 (Dom Cabral/Belvedere) e anunciaram o assalto. Segundo a Polícia Militar, quando o veículo descia a Avenida Raja Gabaglia, na altura do Bairro Luxemburgo (Centro-Sul de BH), os homens ameaçaram atirar se o condutor parasse o ônibus. Alguns passageiros ficaram desesperados e pularam do coletivo, entre eles a advogada Luiza Drumond Reis, de 26 anos, que não resistiu aos ferimentos da queda e morreu no hospital. Em abril, um motorista foi assassinado quando dirigia um coletivo da linha 4155 (Imperial/Terminal São Gabriel), na altura do Bairro Ribeiro de Abreu, Nordeste de BH. O veículo deixou a Estação São Gabriel com vários passageiros, inclusive crianças. Na Via 240, cinco homens entraram no veículo. Três pularam a roleta e os outros ficaram na parte da frente. Três quilômetros depois, anunciaram o assalto. Três dos suspeitos começaram a fazer um arrastão e a recolher pertences dos passageiros. Um dos homens foi em direção ao condutor e atirou contra ele.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)