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Estado de Minas

Após devastação que causou mortes, Nicolândia teme novos temporais

Comunidade do estado mais atingida até agora na temporada chuvosa, Nicolândia tenta se recuperar dos estragos da tempestade de sexta-feira temendo pela previsão de mais temporais


postado em 23/11/2016 06:00 / atualizado em 23/11/2016 09:04

Muros, paredes e até casas inteiras foram arrastados durante a cheia de córregos que cortam o povoado. Prefeito anuncia que desabrigados serão reassentados em outros locais(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Muros, paredes e até casas inteiras foram arrastados durante a cheia de córregos que cortam o povoado. Prefeito anuncia que desabrigados serão reassentados em outros locais (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Passados quatro dias, em meio à perplexidade e à falta de explicação para a tragédia que tirou pelo menos quatro vidas e destruiu ou danificou cerca de 160 casas, a população de Nicolândia, distrito do município de Resplendor, no Vale do Rio Doce, ainda busca em meio à lama recuperar o que a água não levou. Comunidade mais duramente castigada no estado até hoje nesta estação chuvosa, o povoado se soma a outras seis cidades mineiras afetadas por algum impacto decorrente da chuva, que já tirou mais de 500 pessoas de suas casas e deixou 14 feridas no estado.


“Foi sem explicação.”; “A água subiu muito rápido.”; “Eu me salvei com meus filhos com a força de Deus.”. Essas são algumas das descrições feitas por moradores do lugar, sobre o temporal que devastou a comunidade na última sexta-feira. Na esperança de retomar sua rotina, famílias continuam às procura de pertences nos escombros das casas que desabaram. Outras limpam o barro e tentam salvar objetos ainda molhados e sujos. Mesmo assim, fica a incerteza sobre quando a vida vai voltar ao normal e o medo de novos desastres, já que há previsão de mais chuva forte na região. Segundo o Instituto ClimaTempo, uma frente fria que vem do litoral do Rio de Janeiro pode resultar em temporais no Vale do Rio Doce até a noite de hoje.

O prefeito de Resplendor, César Romero e Silva,  espera que o decreto de emergência editado pelo município seja oficializado pelo governo de Minas, para poder realojar os moradores. Mas ele já anunciou que as famílias terão que viver em outros lugares. “Esses locais são bem próximos dos córregos e sempre alagaram. Vamos encontrar um terreno para realocar as pessoas”, afirmou. Em meio à preocupação, as buscas prosseguem para encontrar Maria Soares Ferreira, de 68, que pode se tornar a quinta vítima da tragédia.

Antes mesmo de entrar no distrito, já é possível notar a força que água adquiriu. A ponte sobre o Córrego Floriano Vitt sofreu avarias e foi interditada. Somente ontem, na base do improviso, o tráfego foi liberado. Nos  20 quilômetros entre a comunidade de Calixto e Nicolândia é possível ver árvores que foram arrancadas pela raiz, postes caídos e marcas nas casas que mostram a altura que a inundação chegou.

Vídeo mostra os estrados da chuva em Nicolândia; assista


Nicolândia foi o lugar que mais sofreu. Os ribeirões Santa Cruzinha, Resplendor e Paciência encheram rapidamente e surpreenderam os moradores. Alguns não conseguiram sair de casa e outros foram arrastados. O resultado ainda se vê pelas ruas: geladeiras, televisões, sofás, roupas e brinquedos estão espalhados por todo canto.

Uma das casas mais atingidas foi a de Nilzimar de Souza Santos, conhecida como Branca, de 53 anos. Ela estava com o filho de 3 anos e a sogra quando começou o temporal. “Minha sogra começou a me gritar, dizendo que a água estava subindo rapidamente. Foi tão surpreendente que cavalos e bois ficaram presos contra a parede do barracão”, disse. “O muro quebrou e a água entrou bem forte. Coloquei meu filho em cima de uma mesa e ele ficou desesperado”, completou.

Por toda a cidade se ouvem relatos de gente que se salvou por pouco. Em um dos quarteirões, casas foram totalmente destruídas, como a de André Firmino, de 34. Ele morava em um imóvel de quatro cômodos. Apenas o banheiro ficou de pé. “A água levou minha casa com a fundação e tudo”,  lamentou. “Tive que sair para outras casas correndo com minha mãe e sogra, que são idosas. Elas ficaram em cima de um sofá que ficou boiando dentro de uma das moradias”, completou.

Os corpos de quatro pessoas mortas durante o temporal já foram resgatados: Hermínio Gomes, de 64, marido da mulher desaparecida, Hildo Damasceno, de 73, Rita de Fátima Rufino, de 42, e o marido dela, Roberto Carlos Rufino, de 46. Irmão dele, Valdir Rufino contou que Roberto e a mulher foram ajudar outros vizinhos e acabaram sendo levados pela enxurrada. “Eles eram muito prestativos”, disse, acrescentando que o casal era muito querido na cidade. “A hora que você vinha na casa tinha comida. Eles adoravam receber as pessoas aqui”, comentou.

A saudade também bate forte no peito do jovem Kevini Marques, de 18, neto de Maria Soares e Hermínio, arrastados pela água. O garoto morava ao lado da casa do casal, que foi levada pela correnteza. “Deu tempo apenas de correr. Nessa hora, o muro da casa dos meus avós estourou e a água arrastou tudo”, disse.

Quatro dias após o temporal, carros, móveis, eletrodomésticos e todo tipo de objeto continuavam espalhados pelas ruas, dando a dimensão do tamanho do prejuízo em Nicolândia(foto: Beto Novaes/EM/DA Press)
Quatro dias após o temporal, carros, móveis, eletrodomésticos e todo tipo de objeto continuavam espalhados pelas ruas, dando a dimensão do tamanho do prejuízo em Nicolândia (foto: Beto Novaes/EM/DA Press)


Para ajudar

Quem quiser fazer doações para a população de Nicolândia pode obter mais informações nos telefones (33) 3263-2997, da Defesa Civil, ou na Prefeitura de Resplendor, no (33) 3263-1255, em horário comercial. Uma conta bancária, denominada S.O.S Nicolândia, foi aberta para receber contribuições em dinheiro. Os depósitos podem ser feitos na conta 23482-6, agência 0468-5, do Banco do Brasil.

Outras seis cidades foram castigadas


Balanço da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec) divulgado na tarde desta terça-feira mostra que, além de Resplendor, no Vale do Rio Doce, que decretou situação de emergência no domingo por causa da enchente na zona rural, seis cidades mineiras foram afetadas por algum impacto decorrente da chuva.

Em Aimorés, na mesma região, pelo menos 100 pessoas ainda estão desalojadas por causa dos efeitos do temporal que atingiu a cidade. Dos três cursos d’água que cortam o município, dois transbordaram na última sexta-feira e a água invadiu casas e lojas, causando muita destruição. Também no Vale do Rio Doce, Itueta registrou problemas no último dia 18, quando foi castigada por uma tempestade.

No balanço da Cedec estão ainda as cidades de Conselheiro Lafaiete, na Região Central, onde houve alagamento no dia 14, Carlos Chagas, No Vale do Mucuri, que sofreu com as chuvas no sábado, e duas no Vale do Jequitinhonha: Santo Antônio do Jacinto e Pedra Azul. Santo Antônio do Jacinto foi a primeira a entrar no balanço do estado, ainda em outubro, no dia 11. Na ocasião, registrou chuvas intensas e alagamento em algumas ruas. Em Pedra Azul os problemas ocorreram em 18 de outubro, quando a cidade teve diversos pontos de inundação por causa de enxurradas em vias públicas. (Valquíria Lopes)


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