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Estado de Minas

Luta para concluir calendário escolar vai da infância até a pós-graduação


postado em 03/11/2013 00:12 / atualizado em 03/11/2013 07:46

Simone Lima e Gustavo Werneck

Além de trabalhar e estudar, Amanda Cristina coordena ônibus com colegas: isenção cansativa(foto: Nando Oliveira)
Além de trabalhar e estudar, Amanda Cristina coordena ônibus com colegas: isenção cansativa (foto: Nando Oliveira)
Para realizar o sonho de ser veterinário, o pequeno Carlos Henrique, de apenas 8 anos, encara uma rotina cansativa. Há dois anos o menino acorda às 5h30 para chegar à escola às 7h. Ainda sonolento, ele veste o uniforme, toma o café da manhã, pega o caderno e vai para a porta de casa, na comunidade rural do Inhame, em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas. O menino entra na Kombi que faz o transporte escolar por volta das 6h e tem que esperar mais uma hora até que o motorista busque todos os outros alunos.

A volta não é menos cansativa. A aula termina às 11h30, mas ele só chega em casa por volta das 14h. Segundo a mãe, Marcilei Geralda Tavares Faria, de 41, não foram raras as ocasiões em que o menino teve que faltar à aula. “Na época de chuva, a Kombi não passa pela estrada de terra. Quando dá, ele vai a pé até o asfalto. Mas chega cansado para a aula. Acho que esse desgaste todo atrapalha o aprendizado. Apesar disso, ele tira boas notas e não gosta de faltar”, conta. Tímido, Carlos diz que gostaria de poder acordar um pouco mais tarde. “O pior é levantar. Fico com sono demais. Mas quero ser veterinário, então tem que ir para a escola”, diz.

Mas quem já alcançou o sonho do ensino superior não se livra da batalha para chegar à escola. Foi o que descobriu a estudante de direito Ana Luiza Oliveira Nunes, de 18, que neste semestre pela primeira vez teve que enfrentar um percurso de pelo menos uma hora para estudar. “É muito cansativo. O que eu mais tenho medo é de algum acidente. Na primeira semana, pensei que não ia dar conta.” O ônibus em que ela viaja é coordenado pela estudante de administração Amanda Cristina Lopes Costa, de 26, que também trabalha como gerente financeira de uma empresa em Divinópolis no período da manhã e da tarde. Depois do trajeto até a Universidade de Itaúna, ela entra para a sala de aula às 19h e só chega em casa por volta das 23h30. “Não é fácil. A coordenação do ônibus, por exemplo, dá muito trabalho. Tem que ficar de olho em quem está presente, se não tem ninguém ficando para trás, tanto na ida quanto na volta. É muito difícil, mas fico isenta da mensalidade. Acaba compensando.”

Raquel de Souza Miranda, de 20, enfrenta uma batalha pelo menos tão dura quanto a de Amanda, mas não conseguiu se livrar do custo do transporte. O sonho da universitária, que vive em Congonhas, na Região Central de Minas, é ser delegada de polícia. Aluna do primeiro período de direito, ela está certa de que tem um longo caminho a seguir – tanto nos estudos quanto na estrada. Para isso, segue à noite, de segunda a sexta-feira e sábado pela manhã, de van, para Conselheiro Lafaiete, distante 23 quilômetros, e retorna para casa às 23h30, quando, tomada pelo cansaço, ainda reserva tempo para repassar a matéria. Tudo isso ainda tem de ser conciliado com o trabalho em uma casa de família.

Sem ter conseguido o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), a estudante paga o curso (R$ 800) e o transporte (R$ 175 por mês e mais R$ 15 aos sábado) com o seu salário e a ajuda que o pai manda de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, a 520 quilômetros de Belo Horizonte. “Na minha região, a faculdade de direito mais próxima fica em Diamantina, distante três horas de viagem, sem falar na falta de trabalho que existe por lá. Então, pensei que o melhor seria vir para Congonhas, seguindo a indicação de uma amiga, que me conseguiu o serviço”, diz a jovem. “Os meus patrões são muito bons, me dão tempo para estudar.” Estudar sempre foi um desafio superado com garra. Na infância, morando na zona rural de Minas Novas, Raquel tinha que levantar às 4h para chegar à escola às 7h. “Se chovia, abria os olhos às 3h para ganhar tempo.”

MBA na rodovia

Porém, em muitos casos, mesmo quem já conseguiu o diploma de curso superior e tem emprego garantido mantém a rotina de frequentar as salas de aula e encarar longas viagens em busca do sucesso profissional. Foi pensando nisso que o proprietário da empresa RMC Assessoria e Marketing Digital, Ricardo Costa, de 41 anos, decidiu mudar a rotina. A cada 15 dias ele sai de Araxá e vai para Divinópolis, onde cursa MBA em comunicação digital e projetos web. São quase oito horas de viagem, consideradas ida e volta. A aula começa às 7h30 e só termina às 18h30. “O mais difícil é o desgaste. Quando tenho aula no sábado, tento remanejar o trabalho na sexta e chego em casa mais cedo, para conseguir descansar. Espero que o curso me ajude no trabalho que já faço”, conclui.


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