Numa corrida contra o tempo para que os veranistas que podem servir de testemunhas para elucidar a morte do parente de 14 anos não deixem a cidade de Guarapari antes de serem ouvidos pela polícia, familiares do adolescente Gabriel Camargo Parreiras buscam contatos com pessoas na cidade capixaba e pressionam as autoridades. Em meio ao que classificaram como “descaso” dos registros policiais e apurações da polícia local, lutam para descobrir pistas que expliquem como e por que um jovem alegre e responsável caiu do terceiro andar de um prédio e morreu, na madrugada de sábado. “Se (a polícia) demorar para ouvir as pessoas que alugaram apartamentos para o carnaval, acabou. Todos vão embora para seus estados até quarta-feira”, disse Gustavo Barreiras, tio de Gabriel.
Acreditando ter entrado no edifício do primo, onde estava em companhia dos tios-avós, Gabriel subiu até o terceiro andar e a família acredita que ele tenha batido na porta do apartamento 301, que corresponde ao andar do local onde estavam seus familiares. Só se sabe que o apartamento estava vazio e a partir daí começa o mistério sobre as circunstâncias da morte do garoto, que a família tenta desesperadamente investigar.
Queda difícil
Uma amiga de João Luís foi até o edifício onde Gabriel morreu e chegou a subir no andar de onde ele caiu. Segundo suas informações, a janela basculante fica no fim do corredor e tem uma abertura ampla, capaz de comportar até duas pessoas. “Só que a janela fica acima da altura do Gabriel, cerca de 1,8 m. Isso mostra que seria difícil de ele ter esbarrado e caído por acidente ou por estar bêbado. O vidro estava quebrado”, conta. Outro detalhe que chamou a atenção foi parte de os pertences do adolescente ter sido deixada para trás pela polícia. “A carteira dele e um pé de tênis foram largados. Se ele foi levado como desconhecido, não faz sentido deixar para trás os pertences, que poderiam identificá-lo”, questiona.
Muitos amigos do adolescente foram ao velório para se despedir de Gabriel e cantaram Parabéns para você no momento do enterro, numa homenagem ao aniversário do garoto, que faria 15 anos dia 25. Emocionado, o tio-avô dele, o funcionário Aires Ferreira, lembra as últimas palavras que disse ao jovem: que era “um hóspede querido” em sua casa de praia. “Falei para ele não voltar depois da meia-noite, porque iríamos viajar cedo para Meaípe, para passear. Ele concordou e saiu para encontrar os colegas de escola.” Ferreira criticou mais uma vez o descaso das autoridades capixabas. “Fomos duas vezes à delegacia, procuramos os bombeiros e todos os hospitais. Ninguém nos deu informações nem sequer quiseram fazer o boletim de ocorrência antes de completar 24 horas de desaparecimento. Nesse meio-tempo, já haviam recolhido o corpo dele e o enviado como desconhecido para o IML de Vitória”, conta.