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Estado de Minas SOS TRÂNSITO

Só HPS atende por dia 38 vítimas do trânsito

Balanço mais detalhado já divulgado pelo HPS revela que 38 vítimas de acidentes automobilísticos foram atendidas por dia em 2011. um "exército" de 2,5 mil pessoas se desdobra para salvar vidas


postado em 21/01/2012 06:00 / atualizado em 21/01/2012 07:13

 

Uma das enfermarias do João XXIII, no Bairro Santa Efigênia: hospital é referência em traumas(foto: cristina horta/EM/D.A Press)
Uma das enfermarias do João XXIII, no Bairro Santa Efigênia: hospital é referência em traumas (foto: cristina horta/EM/D.A Press)


Socorrista por convicção, Eduardo Cerqueira, de 57 anos, madruga todos os dias para uma jornada de salvação. É ele quem comanda uma das maiores casas de saúde do Brasil, com população média, diária, do tamanho de Bom Jesus do Amparo, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, com cerca de 5 mil habitantes. O trabalho é cada vez mais pesado. Referência no atendimento de traumas, intoxicação e queimaduras, o Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS), mantido pela Fundação Hospital do Estado de Minas Gerais (Fhemig), acaba de divulgar o mais detalhado balanço de suas atividades. O relatório, obtido pelo Estado de Minas, dá a dimensão dos atendimentos realizados no complexo – foram 97.806 pacientes em 2011 – e é retrato dos problemas que mais contribuem para lotar as salas de emergência. Quedas e acidentes de trânsito responderam, juntos, por mais de 35% dos casos.

Segundo o balanço, que pela primeira vez foi feito por meio de um sistema de apuração mais preciso para identificar os atendimentos, 13.848 vítimas do trânsito deram entrada no HPS no ano passado. Em média, foram 38 motoristas, passageiros ou pedestres por dia. Mais da metade (6.981) dos pacientes eram motociclistas. Os casos envolvendo acidentes de trânsito só perdem para as chamadas “quedas da própria altura”. São ferimentos causados por tropeços, escorregões e tombos provocados por buracos, por exemplo. No ano passado, foram atendidas 20.642 pessoas (21% do total), ou seja, 57 por dia. Por causa de nova metodologia, o hospital diz não ser possível fazer comparações com anos anteriores.

O diretor-geral do HPS, Eduardo Cerqueira: %u201CAcidentes são epidemia%u201D(foto: marcos michelin/EM/D.A Press)
O diretor-geral do HPS, Eduardo Cerqueira: %u201CAcidentes são epidemia%u201D (foto: marcos michelin/EM/D.A Press)
“Os acidentes de trânsito são uma verdadeira epidemia”, alerta Eduardo Cerqueira, diretor-geral do HPS. “As agressões por arma de fogo, por sua vez, confirmam uma guerra civil silenciosa”, acrescenta. Todos os dias, 13 pessoas (4.528 no ano) chegam ao HPS porque foram agredidas. A maior parte por conflitos corpo a corpo (1.808), seguidos por arma de fogo (1.060) e arma branca (569). “Há 10 anos, para cada três facadas era um tiro. Hoje é o contrário. O trauma por arma de fogo é a doença deste século”, considera.

Intoxicação também é um problema. Em 2011, foram registrados 4.362 casos (4,6% do total) – média de 12 por dia. E, nesta época do ano, com a trégua das chuvas e com a chegada do sol, é ainda maior o número de emergências por causa de acidentes envolvendo animais peçonhentos, como cobra, escorpião e aranha. Ainda entre as especialidades mais alarmantes, queimaduras somam 2,5% do atendimento no ano passado, com a entrada de 2.451 pacientes. “Pode parecer pouco, mas as queimaduras representam alto índice de mortalidade e taxa elevada de permanência no hospital”, destaca o administrador.

Sem ‘frescura’ Para lidar com tantos casos, há uma cidade de prontidão, dirigida por Cerqueira, um leitor apaixonado, amante da escrita de José Saramago, Eça de Queirós e Machado de Assis. O João XXIII é referência nacional e estudo de caso no exterior. São 2.500 funcionários, dos quais 660 médicos. Entre eles, os neurocirurgiões Raul Starling, de 66, e Rodrigo Faleiro, de 39, duas gerações comprometidas com o atendimento no HPS.
O primeiro, artista, ator nos tempos de sobra, para ajudar a aquietar as angústias da lida com a medicina. O outro, atleta, corredor de meias maratonas. Raul Starling, casado, pai de uma médica e de um arquiteto, há mais de 40 anos salvando vidas, diz que no João XXIII “não há frescura”. “Todo hospital vê se tem vaga primeiro. Aqui não. Aqui, a gente primeiro atende para depois ver se tem vaga”, ressalta.

Para Rodrigo Faleiro, desde os tempos de residência na casa da salvação, o HPS ensina a fé na vida. “É comum o médico desacreditar. No João XXIII a gente aprende a acreditar. É uma escola”, diz. A paixão da dupla é a mesma percebida no diretor geral, Eduardo Cerqueira, plantonista 24 horas, que chama a atenção para o fato de que só consegue ficar no hospital quem tem amor pela urgência. “São mais de 600 cirurgias por mês.” Com entusiasmo, diz que não há mais pacientes nos corredores. “Antes, eram 22, 25”, conta. Fala também de “plano de catástrofe”, com pontos de oxigênio distribuídos estrategicamente pelo hospital.

“O João é o hospital do nosso coração”, diz Jair Raso, médico desde 1980, que já chefiou o departamento de neurocirurgia do HPS e, mesmo não sendo mais funcionário, não arreda o pé da casa. Para o doutor, professor, dramaturgo e produtor cultural, todos os médicos que passaram pelo João XXIII sabem da importância do hospital, não só para Belo Horizonte, mas para todo o estado. Ele destaca encontro semanal promovido há anos pelo médico Francisco Otaviano, que reúne equipe de neurocirurgia de quase todos os hospitais da cidade, nas noites de terças-feiras, para troca de experiências e debate científico.

Raul faz parte do grupo e, como o colega Jair, diz que o encontro promove discussão importante, “aberta”, sobre os mais diferentes casos de sucessos e insucessos. Rodrigo, o corredor, chefe de departamento e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é outro que tem experiências de sobra para compartilhar. Chega a realizar duas cirurgias por dia e já passou 20 horas, em duas etapas, no mesmo procedimento.

 

 


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