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Estado de Minas

Famílias exigem empenho do governo na apuração de mortes no Peru


postado em 08/08/2011 06:05

Lima - Perto de completar duas semanas sem respostas, parentes do engenheiro mineiro Mário Bittencourt, de 61 anos, e do geólogo paulista Mário Guedes, de 57 anos, cobram mais empenho do Itamaraty na apuração das mortes dos dois brasileiros enviados a trabalho de campo para construção de hidrelétrica no Norte do Peru. Um dia depois de o Estado de Minas mostrar que dois peruanos estão sendo investigados pelo Ministério Público local por suspeita de terem assassinado os dois brasileiros e que houve conflitos na região onde eles estavam, familiares exigem que o governo brasileiro acompanhe com firmeza as apurações.

Conforme publicou o EM no domingo, a promotora provincial de Cumba, Mariela Gurreonero, abriu investigação contra Jesús Sánchez e Juan Zorrilla Bravo, este um líder comunitário que já participou de manifestações contra hidrelétricas na região. Em uma delas, cinco funcionários da empresa que faz estudos sobre hidrelétrica foram expulsos de uma cidade próxima à zona na qual os brasileiros morreram. A promotora decidiu investigá-los com base em informações prestadas à polícia pelos dois engenheiros peruanos que acompanharam Mário Bittencourt e Mário Guedes no trabalho de topografia. Zorrilla teria confundido peruanos que realizavam a busca aos brasileiros. Sánchez, dono de uma cabana no início da estrada, teria oferecido água ao grupo no começo da caminhada. Pelo menos Mário Bittencourt, apontam os depoimentos, tomou imediatamente sua água.

“O Itamaraty não se manifestou, não soltou nota, não se sensibilizou. Parece que estão ignorando que dois brasileiros, profissionais de alto nível foram mortos misteriosamente em um país estrangeiro. Duas famílias estão despedaçadas e ninguém dá importância”, desabafou Liliana Guedes, 57 anos, esposa de Mário Guedes, que falou ontem pela primeira vez sobre o caso. Mário Guedes era aguardado na quinta-feira em Uberlândia, para o noivado da filha médica Júlia Guedes. Na sexta-feira, embarcaria de férias com a mulher para a Europa.

Depois de saber mais detalhes da investigação, Liliana Guedes diz não entender por que o marido e Mário Bittencourt foram mandados a pé, sem escolta, pela Leme Engenharia para uma região de conflitos no Peru, com resistência à instalação de usinas, com dezenas de mortos em confrontos com a polícia e expulsão de trabalhadores. Ela também acha estranha a informação de que os dois embrenharam na mata sem telefones celulares, conforme consta no inquérito policial peruano. “Meu marido não ia nem ao banheiro sem o celular. Não combina com o estilo dele”, afirma.

Sem segurança

“Faltou proteção policial, rádio-comunicadores, celulares e guia. Para nós, isso é negligência da Leme Engenharia, sem dúvida”, protestou o também engenheiro Felipe Ribeiro Bittencourt, de 29, sobrinho de Mário Bittencourt e porta-voz da família. Felipe, porém, diz que a família reconhece que a empresa tomou providências ao contratar advogado criminalista no Peru para acompanhar as investigações policiais e que deverá fazer o mesmo em Belo Horizonte. A reportagem do Estado de Minas tentou contato com a assessoria da Leme, mas até o fechamento desta edição, não havia obtido retorno.

Até tomarem conhecimento dos conflitos na região, as famílias dos profissionais contratados pela Leme haviam sido informados apenas de que o local havia sido palco de manifestação há três anos. Nada havia sido dito a Bittencourt nem a Guedes sobre o confronto ocorrido em 2009, em Bagua, região próxima a Pión, quando a desapropriação de terras indígenas terminou com 22 policiais mortos, alguns deles degolados. O episódio de 5 de junho daquele ano ficou conhecido como Baguazo e provocou à abertura de uma Comissão de Inquérito no Congresso peruano, comparável a uma CPI brasileira.

“A Leme não é uma pequena empresa de Minas. Ela pertence a um grupo multinacional (a franco-belga GDF Suez) que deveria ter como procedimento padrão fazer uma preparação anterior da comunidade e não simplesmente impor um projeto milionário, o que pode se tornar perigoso para os trabalhadores e até inviabilizar uma obra”, alerta o administrador Milton Bittencourt, de 33 anos, sobrinho de Mário Bittencourt. Ele atua em projetos do tipo na área de responsabilidade social internacional da Petrobras, no Rio de Janeiro (RJ).

Dúvidas

Os corpos dos brasileiros só foram encontrados na manhã de quarta-feira, no dia 27, a 100 metros da estrada principal. Até a sexta-feira passada, ainda não havia sido tomado o depoimento de Zorrilla, segundo a promotora provincial Mariela Gurreonero. “Se o Zorrilla ainda não foi ouvido até agora ele só pode estar foragido. Se é uma liderança comunitária e foi teoricamente nomeado representante de uma entidade, ele teria de ser encontrado”, reclama Felipe Bittencourt. Na semana passada, a família e representantes da empresa conversaram longamente com os dois engenheiros peruanos que estavam com os brasileiros no trabalho de campo. “Nós conversamos durante três horas e em momento algum eles tocaram no nome do Zorrilla e do Sanchez. Para nós, tudo isso é uma grande interrogação”, diz.

Promessa de empenho


Em entrevista ao Estado de Minas na quinta-feira em Lima, o embaixador do Brasil no Peru, Carlos Alfredo Lazary Teixeira, lamentou as mortes dos dois brasileiros e garantiu que a embaixada acompanha o caso de perto. Ontem, um diplomata brasileiro garantiu que o governo fará tudo o que estiver a seu alcance para ajudar a esclarecer as mortes de Mário Guedes e Mário Bittencourt e prestará todo o auxílio necessário às famílias.


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