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Estado de Minas TRATADO SOBRE O TEMPO

Pedro Lázaro comemora prêmio de melhor ambiente da Casacor Minas

'Sala da Lareira e Varanda', do arquiteto Pedro Lázaro, reúne móveis, objetos decorativos e obras de arte de várias épocas e estilos


03/09/2023 04:00 - atualizado 03/09/2023 13:29
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Pedro Lázaro
'Tenho orgulho do que já fiz, não me arrependo de nada e faço do meu trabalho um grande prazer', comenta Pedro Lázaro (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
“Senti como se fosse a primeira vez”, disse Pedro Lázaro, ao vencer o 2º Prêmio Estado de Minas de Arquitetura e Design de Interiores. Seu projeto “Sala da Lareira e Varanda” foi escolhido como o melhor ambiente da CasaCor Minas deste ano, que ocupou a Casa Ferolla, no Bairro Santo Antônio. Emocionado, o arquiteto mostrou que, mesmo com 55 anos de idade e 25 de uma carreira bem-sucedida, o reconhecimento faz seu coração bater forte e o empolga a continuar a seguir o que acredita.
 
O mais novo troféu transportou Pedro à sua primeira participação na CasaCor Minas, no ano 2000. Naquela ocasião, ele criou um projeto ousado, que beirava o incompreensível, para um corredor. Na verdade, estava mais para uma instalação. Com a intenção de fazer um “estudo de composições e estruturas decorativas”, o arquiteto apenas delimitou as áreas onde ficaria o mobiliário.

Era um tipo de arte difícil de ser compreendida na época, mas, já na estreia, Pedro chamou a atenção de quem passou pela mostra. Aquele projeto cheirava a novidade. “Passei boa parte da vida pensando que estava gritando para o vento, até que veio a CasaCor e mudou a minha vida. Para mim, que não sou de Belo Horizonte, significava muito”, conta o arquiteto, que nasceu em Pedro Leopoldo.
 
mostra de arquitetura
A sensação era de estar em um lugar habitado, e não em uma mostra de arquitetura (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
Pedro estudou engenharia civil, filosofia e arquitetura. Explica que essa formação foi necessária para não ser mais um no mercado. Sobre seu título de filósofo, comenta que isso o ajudou a entender que arquitetura não é uma manifestação estética, mas está a serviço do homem e reflete a realidade. Nas conversas, a filosofia se manifesta em constantes questionamentos e reflexões sobre a vida.

Se é para participar da CasaCor, que seja para causar impacto. E ele sempre consegue. Entrar em uma casa dos anos 1940 toda preservada já era impressionante, mais ainda vê-la preenchida com móveis, objetos decorativos e obras de arte que pareciam estar lá desde sempre.
 
A sensação não era de estar em um ambiente de mostra de arquitetura, mas em um lugar habitado, que testemunha, em silêncio, o cotidiano de quem vive ali. Na hora de desenhar o projeto, Pedro pensou em um morador que preserva memórias, sem ser um acumulador. Poderia muito bem ser ele.

Leia mais: Casacor ocupa casarão tombado dos anos 1940 com arquitetura contemporânea

“Isso se parece com a minha casa. Me reconheço em todos os lugares”, revela o colecionador de preciosidades. O arquiteto tem uma casa só para guardar seus exatos 8.223 livros, outra para as obras de arte.
 
 varanda
Na varanda, a leveza da cortina de seda amassada contrastava com a rigidez das paredes de pedra (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
O ambiente que integra sala e varanda é um tratado sobre o tempo. Logo, não havia como não manter suas características originais, incluindo a lareira, as linhas pretas no teto e o piso de taco de madeira.

Pedro reuniu ali móveis e obras de arte de vários momentos. Desde um fragmento barroco do século 18 e uma cadeira de madeira dos anos 1900 até uma pintura em ondas de Luiz Zerbini do início da década e uma mesa com ladrilhos hidráulicos lançada este ano pelo estúdio Valentino.

Na visão do criador, dois objetos sintetizam o conceito da “Sala da Lareira e Varanda”. Um deles é a obra “Um metro, um ano, um tempo”, da artista de Belo Horizonte Susana Bastos, que relaciona medida e tempo com a seguinte reflexão: quanto tempo caberia em um metro? Inspiradas naquelas réguas de madeira de medir tecido, as três peças ficam posicionadas na vertical, lado a lado.
 
A outra peça que diz muito sobre o espaço é o sofá de couro preto. Datado de 1979, tem design italiano e rompe com a estrutura esperada para um móvel desses.

“Esse sofá está há 40 anos na casa de uma amiga, nunca foi reformado e é lindo em qualquer momento da vida. Isso tem a ver com sustentabilidade”, aponta, destacando o sistema de plumas desenvolvido pela Nasa.

"Tenho orgulho do que já fiz, não me arrependo de nada e faço do meu trabalho um grande prazer"

Pedro Lázaro

 
 
Nos seus projetos, o arquiteto sempre gosta de criar uma imagem de fundo impactante. No caso desse ambiente, estamos falando da parede com janela de fora a fora. Quem entrava na sala já tinha o olhar capturado pela composição de grade com desenho original, orquídeas suspensas, chaise, mesa com cadeira e esculturas de madeira.

banco sala pedro lazaro
As cores apareciam em detalhes, entre elas o verde e o azul do banco que ficava no centro da sala (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
Depois outros elementos se revelavam. E eram muitos. Pedro recorreu a uma numerosa seleção de objetos, com o talento de não deixar parecer entulhado.

Os tons neutros se justificam pelo poder do design. Consciente de que estava diante de desenhos muito significativos, ele preferiu usar como base preto, branco, cinza, marrom e suas variações. As cores apareciam em detalhes, como o verde e o azul do banco ao centro, o amarelo do lustre, o roxo das flores e o laranja de uma escultura.

Questionado por que não pendurou na parede os desenhos ultracoloridos do pintor modernista Henri Matisse, Pedro disse: “Queria que as pessoas percebessem as cores no percurso”, revelou o arquiteto, que deixou as figuras emolduradas no tampo do aparador que ele mesmo desenhou.
 
O tapete não foi escolhido por acaso. Ao ocupar toda a extensão da sala, com formas assimétricas, flexibiliza o layout, que fica mais descontraído e se abre para uma infinidade de possibilidades. Tudo está solto, sem lugar definido.

escultura de madeira do artista José Bento
A escultura de madeira do artista José Bento levava altura e movimento para o ambiente (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
O desejo dele era criar um ambiente de interação e diálogo. O morador imaginário poderia juntar todos os assentos na hora de receber os amigos ou se sentar na mesa enquanto comia para conversar com quem estava deitado no sofá.
 
A um passo do aconchego da sala, estava o frescor da varanda. Falando, especificamente, desse espaço, as cortinas foram as grandes estrelas. Esgotaram de tanto sucesso. Pedro teve a ideia de molhar e torcer a seda à mão para criar efeito amassado. Sua leveza contrasta com a rigidez das paredes de pedra.

É importante registrar também o valor de ter, no mesmo ambiente, poltronas de dois grandes nomes do design: a italiana Patricia Urquiola e o brasileiro Oscar Niemeyer.
 
Depois de receber o prêmio, Pedro disse estar feliz por saber que fez um projeto relevante. Tudo o que ele precisava para continuar seu trabalho, como antes, sem abrir mão do que acredita.

“Tenho orgulho do que já fiz, não me arrependo de nada e faço do meu trabalho um grande prazer”, resumiu o arquiteto, que tem se dedicado a muitos projetos de interiores em parceria com Gustavo Penna.


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