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Estado de Minas MOSTRA

CASACOR ocupa casarão tombado dos anos 1940 com arquitetura contemporânea

Além da Casa Ferolla e do prédio ao lado em construção, a mostra integrou duas casas dos fundos, menores, mas igualmente antigas e charmosas


16/07/2023 04:00 - atualizado 16/07/2023 08:24
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Tributo aos 20 por Estela Netto casacor 2023
Tributo aos 20, por Estela Netto (foto: Daniel Mansur/Divulgação)
José Ferolla e Dulce Furtado viveram muitas histórias na casa de esquina da Rua São Domingos do Prata com Leopoldina, no Bairro Santo Antônio. Mas não poderiam imaginar que o lugar seria aberto ao público. O casarão tombado dos anos 1940 abriga a 28ª edição da CASACOR Minas, com o tema “Corpo e morada”, que reúne 50 ambientes projetados por 53 profissionais. “Temos certeza de que a família está muito feliz e satisfeita com esse novo ciclo da casa. Uma nova história começa”, destaca o diretor de conteúdo e relacionamento, Eduardo Faleiro.


A equipe da CASACOR teve o primeiro contato com a Casa Ferolla há 10 anos. Foram recebidos pelo próprio dono, o arquiteto José Eduardo Ferolla, quinto filho de José e Dulce. “Achamos a casa maravilhosa e ficamos apaixonados com a história, mas na época só a casa não caberia a mostra e acabamos não usando. Mas nunca mais nos esquecemos dessa casa, ficou na memória, por ser imponente e ter uma arquitetura que mescla vários estilos”, destaca Eduardo.

Muito tempo se passou, eles procuravam um novo pouso (depois de três temporadas no Palácio das Mangabeiras) e descobriram que a casa dos sonhos seria parte de um empreendimento residencial com o nome Casa Ferolla, projetado pelo próprio Ferolla.
 
Varanda Jequitiba por Bruno Câmara e Marcella Machado casacor 2023
Varanda Jequitibá, por Bruno Câmara e Marcella Machado (foto: Estudio NY18/Divulgação)
Nesse momento, retomaram a antiga conversa e conseguiram viabilizar a mostra, unindo vários espaços. Eduardo conta que chegou a reencontrar o arquiteto Ferolla, que veio a falecer em abril.]
 
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“Fizemos o planejamento considerando toda a história da casa, com as suas características originais, que são muito valiosas e significativas. Nesse processo, tivemos uma convivência maravilhosa, tomando decisões juntos diariamente, e ele estava muito feliz que a casa seria aberta ao público.”

Além do prédio em construção, a CASACOR integrou duas casas dos fundos, menores, mas igualmente antigas e charmosas. São elas a Casa Hera e a Casa Branca. Uma área aberta, com café e bar, conecta todos os ambientes e permite uma pausa durante o circuito.

Varanda por Pedro Lázaro casacor 2023
Varanda, por Pedro Lázaro (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
O tema “Corpo e morada” reflete o momento pós-pandemia, quando tivemos que nos relacionar mais intimamente com o lugar onde moramos. É um convite para pensar que a casa é o nosso corpo, e vice-versa.

“A casa é o espaço mais importante da nossa vida, é o nosso refúgio, onde temos que nos sentir bem, descansamos, encontramos amigos, vivemos com a nossa família. Ela acompanha o ciclo da nossa vida e eu acho que não tem exemplo melhor do que a própria casa Ferolla”, aponta Eduardo.

O casarão conta a história de toda uma família. José e Dulce construíram pensando nos filhos que viriam e lá criaram quatro mulheres e um homem. O arquiteto Ferolla nasceu ali, saiu para se casar, voltou quando os pais morreram e montou seu escritório de arquitetura, que funcionou até a venda do imóvel.

Quando ainda sonhava em participar da mostra, Pedro Lázaro ouviu de um amigo: faça o máximo de projetos que puder para ficar na memória das pessoas.
“Foi exatamente o que aconteceu. A CASACOR tem uma grande responsabilidade na minha carreira. Trouxe, não só clientes, mas a possibilidade de trabalhar voltado para outros formatos criativos, passando pelo design gráfico e moda. Sou grato e super parceiro”, destaca.

Como acredita que a história se constrói a cada dia, o arquiteto não deixa de participar de nenhuma edição. Já são 16 em BH. Seu desejo é sempre projetar espaços capazes de emocionar e marcar ao máximo os visitantes, seja pela dimensão ou pela localização. Por isso, ele escolheu ocupar a sala e a varanda da Casa Ferolla, logo no início do circuito.

Lobby Essência por Life Projects (José Lourenço e Marina Figueiredo) casacor 2023
Lobby Essência, por Life Projects (José Lourenço e Marina Figueiredo) (foto: Estudio NY18/Divulgação)
Passando pelo hall de entrada, você vira à esquerda e já sente o impacto de ver a casa habitada. Pedro tem a incrível capacidade de preencher vazios com muitos móveis, sem que fique entulhado. O tapete tramado com restos de redes pesqueiras delimita o espaço, ao mesmo em que provoca certa desordem visual com as suas formas geométricas nada óbvias.

A sala abraça uma mistura interessante de móveis e obras de arte de várias épocas, dos anos 1940 a 2022. Pedro diz que “o design é a testemunha silenciosa de todas as vivências”. Nas paredes, várias peças brincam com a ideia do tempo, relacionando-se com a ocupação da sala de uma casa histórica, onde está a lareira original. Objetos acendem pontos de cores em uma base mais neutra.

Não deixe de se aproximar da janela para admirar figuras da série Jazz do pintor modernista Henri Matisse, que estão expostas no aparador desenhado pelo próprio arquiteto. 

Na varanda, as preciosas cortinas de seda, que ganham um efeito amassado, com uma proposta mais natural e sensorial. Os tecidos emolduram os arcos da fachada de pedra. Duas poltronas se destacam, uma de Oscar Niemeyer e outra da espanhola Patricia Urquiola. Pedro criou o ladrilho hidráulico hexagonal branco inspirado no piso vermelho existe em vários ambientes da casa.

Subindo as escadas, com um belíssimo corrimão de madeira, a área íntima. A amplitude da suíte principal chama a atenção. No projeto de Tânia Salles, ela está integrada à varanda e ao closet, tudo bem espaçoso.

Cozinha Cave por Andrea Buratto casacor 2023
Cozinha Cave, por Andrea Buratto (foto: Daniel Mansur/Divulgação)
Bela surpresa a intervenção nos banheiros da arquiteta Isabela Bethonico com o Studio Tertúlia. Além das misturas felizes de cores, elas acertam nos novos usos dos espaços. A banheira se transforma em jardim e uma penteadeira convida para ficar mais tempo.

Vale a pena subir mais um lance de escada para visitar o sótão. Foi usado para guardar brinquedos até o nascimento do quinto filho do casal, José Eduardo Ferolla, que morou e trabalhou lá até a sua mudança. Agora, dá espaço para o projeto “Pano Território”, de Daniela e Luísa Luz (tia e sobrinha), do Estúdio Veste. Muito interessante ver as plantas da casa bordadas em tecidos de algodão.

De volta ao primeiro piso, o circuito segue pela parte externa do casarão. Estela Netto projetou a área de lazer “Tributo aos 20”, com espaço gourmet, piscina, lounge no jardim e adega, que celebra seus 20 anos de carreira. “Essa é a área da casa onde as pessoas recebem quem amam. Pensei em um lugar para conviver e festejar com muita alegria e conforto, que, ao mesmo tempo, fosse inovador”, explica a arquiteta gaúcha, que já tem oito anos de CASACOR Minas.

Hera uma vez por Laura Carvalho casacor 2023
Hera uma vez, por Laura Carvalho (foto: Osvaldo Castro/Divulgação)
O espaço explora muitos materiais nacionais. Quase todo o mobiliário é do catarinense Jader Almeida, das mesas às espreguiçadeiras. Rochas brasileiras estão espalhadas por todo o ambiente, incluindo mármores e quartzitos, nas paredes, bancadas e piscina.

Poucas cores aparecem no projeto. Estela optou por uma arquitetura mais neutra para que o colorido da natureza realce, tanto do céu de inverno quanto das folhagens que saltam aos olhos no paisagismo proposto por Flávia D'Urso. Com inspiração tropical, os jardins fazem uma homenagem à flora brasileira. De qualquer ponto do ambiente, você enxerga o azul e o verde naturais.

Seguimos o caminho até chegar às duas casas dos fundos incorporadas à mostra, entre elas a Casa Hera, que ganhou esse nome por ser toda tomada por plantas. Outro charme da sua fachada é a parte curva.

No andar de baixo dessa grande coluna, um cômodo que parece ter sido pensado para ser uma adega, e foi o que a arquiteta Sílvia Carvalho fez. Acima está a sala “Hera uma vez”, de Laura Carvalho. Com parede roxa e janelas verdes, tem sofá que acompanha seu formato curvo e propicia conversas.

Ao lado está a chamada Casa Branca. Na entrada, uma impactante estrutura de MDF com formas orgânicas, que lembram o tronco de uma árvore pela cor, mas também podem ser comparadas às ondas do mar pelo movimento.

Quarto por Emanuelly Lara casacor 2023
Quarto, por Emanuelly Lara (foto: Daniel Mansur/Divulgação )
Inicialmente, seu objetivo era esconder uma viga e um pilar, mas acabou virando o grande destaque da “Varanda Jequitibá”, projeto de Bruno Câmara e Marcella Machado. Além do apelo estético, funciona como adega e apoio para uma bancada de mármore flutuante.

Entrando na casa, o primeiro ambiente à esquerda é o “Compact Office”. O nome faz todo o sentido, já que o estreante Túlio Henrique montou um escritório em apenas 10 metros quadrados.

“Existe uma tendência de cada vez mais reduzir espaços comerciais e residenciais e no pós-pandemia a casa se transformou em trabalho. Então, por que não trazer essa proposta de escritório mais compacto para dentro da casa?”, diz o jovem arquiteto de Divinópolis, que tinha como meta participar da CASACOR.

Compact Office por Túlio Henrique casacor 2023
Compact Office, por Túlio Henrique (foto: Estudio NY18/Divulgação )
O projeto prova que dá para criar muitas possibilidades em um espaço minúsculo. As cores claras e os ângulos mais abertos ajudam a dar uma sensação de amplitude, além de despressurizar o ambiente de trabalho e estimular a criatividade.

A mesa de trabalho, com três cadeiras, tem tampo de quartzito em formato irregular, levando fluidez para o espaço (o layout pode ser facilmente mudado). Atrás, armário e bancada para preparar uma bebida. Na frente, um aparador para as obras de arte, na mesma paleta de cores. A cortina translúcida deixa à mostra duas janelas redondas da fachada da casa no estilo art déco.

O circuito termina no empreendimento em construção ao lado da Casa Ferolla. Dois apartamentos decorados recebem os visitantes, um deles com área privativa. Nesse espaço ao ar livre, cercado por muros, está o Terraço Bem-Estar, da arquiteta Andrea Pinto Coelho com a paisagista Kat Rodrigues, que trazem uma ideia de quintal contemporâneo. “Gosto de propor uma conexão com a natureza nos ambientes, misturada com a arte”, resume Andrea.

Ao entrar, você já enxerga três totens em aço corten do artista Jorge dos Anjos. É dele também o quadro (no mesmo material, só que pintado de vermelho) feito exclusivamente para o projeto.

Uma parede toda de ardósia tem ranhuras que formam o desenho de escamas de peixe. Poltrona, sofás e mesa com baquetas altas deixam o ambiente multifuncional. Um lugar para relaxar, apreciar obras de arte, comer, trabalhar, receber os amigos, ler um livro, contemplar a natureza e até se exercitar.

Sala do Apartamento por Renata Machado e André Magalhães Arquitetura e Design casacor 2023
Sala do Apartamento, por Renata Machado e André Magalhães Arquitetura e Design (foto: Daniel Mansur/Divulgação )
Há muito verde no terraço. Andrea e Kat querem que seja uma área de respiro. Muito acertada a solução de colocar a maior parte das plantas suspensas (apoiadas em uma estrutura metálica). Isso dá uma amplitude para o jardim, que, inclusive, fica integrado ao pé de laranja do quintal do vizinho, privacidade e ainda facilita a circulação.

“Nosso espaço é mais estreito, então tivemos que bolar um jeito de subir com as plantas para não atrapalhar o caminhar das pessoas. Fizemos uma jardineira elevada e optamos por vasos mais altos no chão”, aponta Kat.

Além das folhagens exuberantes, árvores frutíferas, temperos e ervas formam um jardim sensorial. Entre as espécies, lichia, laranja kinkan, manjericão, alecrim e lavanda embelezam e perfumam o ambiente. Bambuzas ajudam a camuflar as janelas do apartamento que dão para a área privativa.
A sugestão é encerrar o passeio no restaurante O chef e o cabra, do chef paraibano Onildo Rocha com o designer mineiro Gustavo Greco.

Pela segunda vez no time de profissionais da CASACOR, a arquiteta Betânia Nascimento encarou o desafio de transformar o vão onde será a garagem do prédio (cheio de pilares) em um espaço agradável e aconchegante. “Arredondei com drywall os pilares e consegui fazer com que se tornassem objetos decorativos e o ambiente tivesse fluidez”, comenta.

O ambiente traz um impacto visual por ser monocromático. Betânia escolheu trabalhar com tons terrosos, que aquecem, acolhem e ainda se relacionam com a cozinha de raízes nordestinas do chef. Com isso, o olhar se volta para as formas e as texturas de elementos como mobiliário, tapetes, cortinas e tampos das mesas.

Terraço Bem-Estar por Andrea Pinto Coelho e Kat Ateliê de Flores e Paisagismo casacor 2023
Terraço Bem-Estar, por Andrea Pinto Coelho e Kat Ateliê de Flores e Paisagismo (foto: Jomar Bragança/Divulgação)
Grande janelas deixam a luz natural entrar. Em uma delas está o Jardim das Dobraduras, de Wanderlan Pitangui. Vasos que combinam a rigidez do metal com a delicadeza das dobraduras recebem samambaias, criando uma sensação de frescor.

As mesas ficam em volta da ilha central, onde funciona o wine bar. Na parede dos fundos, fotografias de João Farkas quebram um pouco o monocromático. São paisagens vistas de cima, como areais, praias e plantações, que, pelas nuances de cores, mais parecem telas pintadas.

Betânia mantém o monocromático no banheiro, mas com o verde, que dá uma ideia de floresta. A antessala proporciona momentos de pausa, unindo um banco de “tijolinhos” de ardósia, em um aceno inspirador para a pedra brasileira, tapete e obras de arte.

Não tem como ignorar o quadro de Christus Nóbrega, que retrata um episódio decisivo da sua família. “A mãe dele teve que dar os filhos e esses são os últimos retratos antes de partirem. O artista tampou os rostos com folhas secas, levando à pergunta: como será que estão hoje?”, conta a arquiteta.

Serviço

28ª CASACOR Minas
Onde: Casa Ferolla (Rua São Domingos do Prata, 631, Santo Antônio)
Quando: até 3 de setembro
Informações: (31) 3286-4587 - site - Instagram


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