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Estado de Minas ENTREVISTA

Alongamento e preenchimento capilar vão além da beleza, agem na autoestima

Renata Pacheco, que acaba de abrir mais uma unidade de sua Hair Clinic em BH, conta como a melhoria da aparência do cabelo influenciou a sua trajetória de vida


24/07/2022 04:00 - atualizado 24/07/2022 10:54

renata pacheco
(foto: Trumpas/Divulgação)
 
Quem conhece Renata Pacheco se depara com uma linda mulher, alegre, simpática, extrovertida, segura e determinada e jamais poderá imaginar o que ela passou na infância e adolescência. Renata veio de família muito pobre e era filha de pai alcoólatra, que passava meses fora de casa. Apanhou muito, sofreu ameaça de estupro, começou a trabalhar aos oito anos e ouvia, com frequência, que era muito feia.
 
Na adolescência, ganhou um alongamento capilar, com sobras de cabelo, se achou linda e ganhou o primeiro elogio por parte de seu pai. Viu que aquilo poderia mudar a vida das pessoas e encontrou o seu propósito. Hoje, é uma renomada profissional, com 12 anos de mercado. Tem uma unidade da Renata Pacheco Hair Clinic no Bairro Gutierrez e acaba de abrir a segunda na Mansão dos Abras, em Lourdes. Renata transformou todo o seu sofrimento em força e aprendizado para vencer, e conseguiu.
 
Conta um pouco da sua história.
Sabe aquela vida ruim, era a minha. Sofri com pai, mãe, fui espancada, sofri tentativa de estupro, passei fome. A minha infância foi muito sofrida. Morava em periferia. Meu pai era um homem branco e minha mãe, preta, e ele tinha muito preconceito do meu cabelo, porque era curtinho, afro, mas que não dava molde, ruinzinho mesmo. Ele era alcoólatra e sempre falava do meu cabelo. Eu tinha uma amiga, a Bruna, que tinha um cabelo lindo e meu pai olhava para ela e para mim e sempre fala, “porque Deus me deu uma filha feia com esse cabelo ruim assim”. E isso ficou na minha cabeça. O único momento que eu lembro que fui feliz foi quando ganhei meu primeiro cabelo. Me senti a Bruna, e teria a aceitação do meu pai.

Como ganhou o cabelo?
Minha mãe trabalhava em um salão que fazia megahair e eu ficava lá varrendo o salão. Eu ficava enlouquecida com os cabelos. Meu cabelo não cresce, ele é extremamente fino, e quando chega em um determinado tamanho, quebra. Ele não não tem peso e minha fase telógena (queda) é crônica. Hoje, ele está assim porque já fiz muito tratamento. Alguns pontos da cabeça ele não cresce por causa da tração dos métodos antigos de alongamento. Enfim, eu tinha uns 10 anos e a dona do salão me doou um alongamento. Na época era  amarração com gominha, e como meu cabelo era muito curto, as gominhas apareciam, mas eu estava me achando linda, porque tinha cabelo. Cada cabelo era de um tamanho, porque era doação, estava horrível, mas achei lindo porque podia balançar de um lado para o outro. Estava linda como a minha amiga. Foi o dia mais feliz da minha vida.

O que seu pai disse quando viu?
Meu pai sumia meses por causa da bebida, só pareceu seis meses depois que eu tinha colocado o cabelo. Eu não tinha dinheiro para fazer manutenção – porque a gente passava fome mesmo –, então o cabelo já estava daquele jeito. Mesmo assim, quando ele me viu ele disse “nossa, você está tão bonita”. Foi a única vez que ele me fez um elogio. Ele não era um pai ruim, mas era muito alcoólatra. Hoje sou bem resolvida, ele deu o que podia dar.
 

"Mulheres que tiraram os dois seios por causa do câncer dizem que foi pior perder o cabelo"

 

Como entrou no ramo de cabelo?
Gostava de trabalhar em salão, mas estava sem propósito na vida. Ouvi falar de um método chamado microlink, que era a revolução. Prendia o cabelo com um anelzinho. Propus para uma amiga fazer microlink nela e ela topou. Fui à galeria do ouvidor, comprei o cabelo, aprendi lá como fazia e coloquei nela. Quando terminei – ficou péssimo –, mas ela achou lindo. Se olhou no espelho e o olho brilhou. Nessa hora me lembrei do que senti quando coloquei meu primeiro alongamento, e isso conectou com o que ela sentiu ali. Na hora eu entendi que esse era o meu propósito na vida. Eu era manicure e comecei a estudar pelo Youtube. Vi que só aquilo não daria certo. Comecei a juntar dinheiro, mas a vida era muito difícil. Fiz o primeiro curso de colocação de cabelo amarrado, passei para o microlink, depois queratina.

E aí você já estava trabalhando com cabelo?
Já. Colocava os cabelos, ficava lindo, mas três meses depois a cliente vinha para manutenção e quando a gente tirava a perda capilar era de 10 a 20% do cabelo, por causa do método. Isso me incomodava muito.

Nos cursos eles avisavam dessa perda?
Sim, e eu falava com as clientes. Todo mundo sabia, mas eu não tenho formação acadêmica. Estudei até a 5ª série, não tinha instrução para falar direito com a cliente. Dizia que ela podia perder um pouco de cabelo na retirada, mas não conseguia visualizar o que representava, em volume, esse percentual. Isso me incomodava demais. Depois que saímos do salão de megahair, minha mãe abriu um salão em uma garagem muito pequena, no Prado, onde virei manicure, aos 12 anos. Tudo lá era R$ 1,99. 

O que você fez?
Quando surgiu o alongamento adesivado fiquei enlouquecida porque a primeira coisa que estava escrito é que não danificava o cabelo. Uma profissional estrangeira veio ao Rio de Janeiro dar um curso, vendi meu carro velhinho e fui. Enlouqueci. Como sempre fui ligada na saúde, aproximei cada vez mais as duas coisas. Estudei cada vez mais sobre o tema: tricologia, terapia capilar, etc. A situação financeira melhorou, comecei a fazer cursos no exterior. Tudo que você pensar de estudo na área, eu fiz, até química. Vou a congressos, enfim, tudo de saúde capilar e alongamento eu estudo.

Você foi precursora desse método aqui em Belo Horizonte?
Sim, e me orgulho disso. Acreditei no processo, quebrei todos os paradigmas que tinham sobre alongamento e megahair. Porque antigamente ninguém queria saber. Lutei muito, porque as pessoas não acreditavam.

Hoje, o alongamento ajuda no tratamento?
Ajuda. Tenho clientes que usam alongamento por dois anos e depois não precisam mais porque o cabelo já cresceu e fortaleceu o tanto que precisava.

Teve preconceito no início com relação ao uso de cabelo de pessoas mortas?
Existia todo tipo de preconceito. O primeiro era que só preto usava, que era sujo, de periferia, cabelo de gente morta. Conseguimos introduzir a classe AA no alongamento e preenchimento. Uma vez comprei um quilo de cabelo indiano louro. Coloquei em sete pessoas. Uma delas foi em uma amiga. Com o dinheiro eu e essa amiga fomos com nossos filhos para a praia. Comecei a receber mensagens das clientes que o cabelo estava embolando. Minha amiga foi nadar no mar e eu disse para ela fazer uma trança. Quando ela saiu, o cabelo tinha virado um dread. Voltamos da praia e fiquei um dia inteiro desembaraçando o cabelo. Sou muito observadora, eu vi como ela ficou com a situação. Foi quando decidi que só trabalharia com cabelo brasileiro e do sul do país, que é um cabelo mais fino por causa da miscigenação europeia. Cabelo é muito caro, comprei mais um quilo de cabelo e troquei dela e de todas as clientes.

Como é o processo para colocação de um alongamento?
Primeiro precisamos fazer uma avaliação do cabelo da cliente. Quanto cabelo natural ela tem, a qualidade do fio, para ver se aguenta receber o alongamento, e de que comprimento pode ser. A maioria pode. Às vezes, temos de reduzir um pouco no comprimento desejado. Essa avaliação é feita por mim e pela tricologista. Nossa primeira preocupação é com a saúde do cabelo. Aqui nós temos como premissa a saúde capilar e se alguma coisa vai prejudicar o cabelo, não fazemos. Na avaliação estudo ondulação, cor e textura etc. Faço o diagnóstico e em cima dele escolho a quantidade do cabelo que será colocado, a textura mais próxima do cabelo da cliente, a cor. Cor é essencial, estudei cor por cinco anos. Quando olho o cabelo de alguém sei direitinho onde está o cabelo da pessoa e onde é alongamento por causa da cor. Quando precisa, troco a cor. Tudo isso para ficar o mais parecido com o cabelo real da cliente.

Quanto tempo dura a avaliação?
Depende, no mínimo 40 minutos e pode durar até duas horas. É na primeira avaliação que entendo o cliente. Tanto do cabelo quanto do perfil. A primeira conversa é a mais importante. Trazemos muitos cabelos, mostramos todos, cores próximas, variedade de comprimentos, a pessoa fala o que ela quer, o que sente, conta a história da vida dela com o cabelo. Para nós, o histórico é muito importante. Assim, a chance de errar é mínima.

A cliente tem que vir com o cabelo ao natural?
É o ideal. Ela lava em casa, deixar secar ao natural e vem, ou então traz uma foto. Se não, lavamos e esperamos secar. Mas isso depende muito da rotina da pessoa. Se a pessoa lava e escova o cabelo dia sim dia não, e nunca sai dessa rotina, está apta a receber qualquer tipo de cabelo porque sempre estará arrumada. Mas se ela costuma sair com o cabelo ao natural, tem que ser o mais próximo possível do dela, para não dar diferença, se não, vira escrava do cabelo.

A primeira entrevista acaba sendo uma experiência de autoconhecimento?
Falo sempre que nosso cabelo é nossa coroa. Ele é muito importante para a mulher. A maioria das mulheres, quando chegam aqui estão sofridas, com problemas de autoestima por causa do cabelo, ou da falta dele. O primeiro encontro é o momento do acolhimento. Quando lidamos com cabelo, estamos lidando com sentimento, e quando é a primeira vez, existe muita insegurança, porque está mexendo na imagem da pessoa. Fizemos todo um estudo para que a cliente se sinta extremamente acolhida neste momento, porque ele é único. É só você e a cliente. A manutenção pode ser feita no salão grande, mas os primeiros atendimentos são feitos em salas reservadas para captar o que ela quer.

Você disse que a cliente fica insegura. Elas sabem de fato o que querem?
Sim, mas existe a insegurança que tira um pouco a coragem do desejo real. Muitas vezes a cliente diz que quer cabelo curto, mas, na verdade, quer longo.
 
Como percebem isso?
Prestamos muita atenção na linguagem corporal. Eu tenho 18 cabelos, troco de cabelo igual troco de roupa. No dia que compro um cabelo novo eu não consigo dormir de noite porque fico ansiosa com a colocação no  dia seguinte. E eu uso alongamento a vida toda. Depois de tudo decidido, colocamos o cabelo. Após três dias a cliente volta para sabermos como ela está se sentindo, se gostou  do cabelo e do visual. Se sentiu que o cabelo é dela. Se não estiver satisfeita, trocamos. Se gostou, ensinamos como lavar e cuidar dos cabelos em casa.

O que faz com o cabelo que você retira porque a cliente não gostou?
O percentual de insatisfação é mínimo, porque somos muito assertivas, mas quando ocorre, retiramos, higienizamos e doamos o cabelo para alguém que deseja muito e não tem condições de fazer.

Como faz quando a cliente tem uma alopécia muito extensa?
A gente tenta intercalar. Agora estou trazendo uma profissional de Israel que trabalha com prótese para começarmos esse trabalho, porque tem casos que infelizmente a fita não resolve mais. Tem mulheres que retiram os dois seios por causa do câncer e dizem que o mais difícil foi perder o cabelo.

Pode guardar o cabelo do alongamento?
Sim. A maioria das minhas clientes tem mais de um cabelo. A gente tira, faz a higienização, guarda no estojo, ela leva para casa e colocamos outro. Dura uma vida. Tenho cabelo de nove anos. O cabelo louro é mais complicado porque ele quebra muito por causa da química, mas a durabilidade é muito grande.

Qual o valor para colocar um alongamento?
Cabelo é caro. Vai de R$ 3 mil a R$ 25 mil. A mão de obra, que é a colocação em si, não é cara. Mas fazemos parcelamento e agora estamos fechando uma parceria com um banco para um empréstimo e cartão de crédito com benefícios só para a Renata Pacheco, para viabilizar para pessoas que precisam, assim o juros fica mais em conta.
 
Hoje você tem produtos de tratamento capilar. Por que desenvolveu essa linha?
Todos os produtos de fábricas internacionais são feitos para cabelos americanos ou europeus. Outra questão é que o alongamento adesivado usa uma colinha que sai com óleo e álcool que estão presentes na maioria dos xampus que existem. Condicionador e máscara não têm problema. Para lavar a raiz, precisa ser um xampu especial, sem esses ingredientes para não melar e nem soltar a fita. Outra coisa, nosso cabelo quando cai está morto porque não tem mais célula, mas temos as glândulas sebáceas que trazem óleo que nutre. O cabelo do alongamento não tem isso mais. Eu precisava de uma máscara que fosse regeneradora para os fios do alongamento que não tem mais esse tratamento oleoso. A minha linha é só para quem tem alongamento. Quem não tem, pode usar também porque ela é maravilhosa. Foi toda desenvolvida por mim, por uma dermatologista e por um químico. Testamos por dois anos.

O que sente quando para e vê toda sua vida?
Tenho uma gratidão enorme pelo que eu passei na minha vida, porque se não fosse o que eu passei na minha infância, eu não seria a Renata Pacheco. Foi tudo isso que me fez ser a profissional que sou hoje, com a minha sensibilidade, determinação e certeza da importância do meu trabalho para a felicidade de outra pessoa. Sou grata às minhas clientes, porque eu falava tudo errado, elas me ensinaram a falar. Sempre tiveram muito carinho comigo. Tenho que ter muita gratidão e orgulho de ter conseguido.

Como foi abrir uma segunda unidade em uma mansão em Lourdes?
Os outros profissionais do meu setor são muito distantes. Não somos uma categoria unida, se fossemos, talves já tivéssemos conseguido mais coisas. Ter um espaço que faz alongamento dentro de uma clínica médica, é algo que nenhum de nós poderia imaginar. Fiquei muito lisonjeada e feliz quando o dr. Gustavo Aquino me fez o convite. Quem falou de mim para ele, foi uma cliente em comum. Tem vários médicos que me indicam para suas clientes. Essa é a conquista dessa luta pela saúde que eu me propus a fazer. O alongamento é muito mais que beleza, é saúde também. 


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