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Estado de Minas teares

Designer resgata tradição do tear criando coleções de produtos para casa

Idealizadora da Aveia Tapeçaria, Maíra Sette cresceu em meio ao artesanato de Resende Costa, cidade no Campo das Vertentes


23/05/2021 04:00 - atualizado 23/05/2021 09:49

Maíra Sette (esquerda) se orgulha de ter como parceira Silvânia Machado (direita), filha de dona Dalva, a primeira artesã de Resende Costa(foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
Maíra Sette (esquerda) se orgulha de ter como parceira Silvânia Machado (direita), filha de dona Dalva, a primeira artesã de Resende Costa (foto: Studio Tertúlia/Divulgação)
Ela cresceu em meio à tradição dos teares. Criada em Resende Costa, no Campo das Vertentes, polo de artesãos em Minas, sempre enxergou valor nas técnicas manuais. Por isso, nunca se conformou com a descaracterização do artesanato de lá. Até que chegou a hora de Maíra Sette virar o jogo. Com a Aveia Tapeçaria, que tem loja no Mercado Novo, em Belo Horizonte, a designer de moda dá visibilidade ao trabalho da cidade e mostra toda a sua preciosidade.
 
Maíra trabalhou por quatro anos na marca de jeans Patogê, em BH, e depois mais cinco no Grupo Morena Rosa, dividindo-se entre o Paraná e São Paulo. Nesse tempo, dedicou-se a uma produção de moda em escala industrial, mas sentia falta de se conectar com sua origem. “Queria muito ter um projeto que resgatasse o que achava que fazia mais sentido para mim. Algo que me deixasse mais próxima das pessoas, menos industrial e mais artesanal e afetivo.”
 
Já de volta a BH, a designer abriu com duas amigas a doceria Copa Cozinha, que revive a mais deliciosa mesa de café no interior. Em seguida, unindo o desejo de não perder o vínculo com o tecido e a vontade de se aproximar do artesanato de Resende Costa, emendou o lançamento da Aveia. “Nunca me conformei com o que vinha acontecendo lá. Até por dificuldade comercial, muita gente acaba vendendo produtos zero artesanais e de outros lugares”, comenta.
 
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
Resende Costa é um polo de artesanato em Minas. Quase toda casa tem um tear. É comum, nos bairros menos centrais, ver pessoas na garagem cortando retalhos ou fazendo novelos para tecer. Mulheres, homens, adolescentes, idosos, normalmente todos da família trabalham juntos. Alguns vivem disso, outros tecem para complementar a ren- da. Os artesãos de lá usam mais as fibras naturais, em especial fios de algodão, e são mais conhecidos pelos tapetes de retalhos da indústria têxtil.
 
O nome Aveia é uma homenagem à avó materna de Maíra, dona Angelina. Na casa dela, em Guanhães, era tradição comer mingau de aveia, a única comida de que ela gostava. E como a memória do prato se relaciona com o artesanato? A designer sempre privilegia os tons crus. São eles que direcionam tanto a curadoria quanto o desenvolvimento de produtos exclusivos da loja. A escolha tem a ver com a linguagem estética que ela segue, mas também dá versatilidade aos produtos.
 

Mãe atende no balcão

 
Myriam Sette, mãe de Maíra, é sócia da Aveia. Depois de trabalhar a vida inteira no balcão da sua farmácia, em Resende Costa, para onde se mudou depois de casada, ela agora comanda o balcão da loja. Atende com calma e sorrisos. Incentiva o cliente a passar a mão nos produtos para sentir o toque e tem sempre uma história para contar. Também ajuda no contato com os artesãos. “Como a minha mãe atendeu e cuidou de todos da cidade, somos recebidos como amigos na casa das pessoas”, destaca Maíra.
 
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
A marca só trabalha com artesãos de Resende Costa. Uma das parceiras que tecem produtos exclusivos é Silvânia Machado, filha da dona Dalva, a primeira tecelã da cidade. “A filha carrega todo o conhecimento da mãe, que é a sua grande referência, mas tem um trabalho muito criativo. Não só não deixa a técnica morrer, como também é entusiasta, gosta de desafios e imprime muita inventividade.” Com ela, foram desenvolvidas todas as almofadas.
 
Segundo Maíra, muitas pessoas deixaram de tecer porque o trabalho ficou subvalorizado. Um ano e meio depois de começar a mostrar para os próprios artesãos a beleza e o valor comercial das peças, ela já tem percebido mudanças. “Quando mostro uma imagem extremamente bem cuidada de direção de arte com os produtos, um trabalho respeitoso de apresentação e comunicação, sinto que eles se reconectam com o artesanato e se sentem homenageados. Acho que essa tem sido minha maior contribuição.”

A designer trabalha em duas frentes: uma de curadoria, aplicando seu conhecimento sobre coleção e direção de cores em peças já existentes, e outra de desenvolvimento de novos produtos. Isso vale para retalhos e fios. “A técnica de reaproveitamento dos retalhos era feita só em tapete. Hoje já conseguimos variar os suportes. Fazemos almofadas, mantas para cama, lugares de mesa, estandartes de parede, peseira”, exemplifica.
 

Conexão com a casa

 
A mais recente coleção foi construída a partir da percepção de que as pessoas se reconectaram com as suas casas neste período de pandemia. Maíra diz que seguiu sua intuição. “Tudo o que pensei em trazer era o que estava com vontade de ter na minha casa. Acho que nunca passei tanto tempo no meu quarto, por isso a vontade de ter almofadas, uma cama que fosse aconchegante e ficasse bonita.”
 
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
(foto: Luiza Ananias/Divulgação)
 
Uma das novidades surgiu a partir do desejo da designer de ter uma colcha para cobrir a cama toda, e não apenas uma peseira. “Agora, temos colchas produzidas em tear manual, com desenhos geométricos tradicionais, que estavam em desuso em Resende Costa, porque existem poucos teares grandes. Uma amiga está conseguindo recuperar essa técnica e estou bem feliz”, comemora. Nesta coleção, destaque também para peças com textura rústica e aconchegante.
 
Alguns produtos já se tornaram assinatura da marca, como os tapetes de algodão felpudos com cores bem claras. De uma coleção para outra, a designer muda apenas cores e texturas. Desta vez, os tons mais usados são nude, rosé e marrom café com leite.“Quero trabalhar com produtos perenes, falar sobre uma nova forma de consumo. Não quero entrar no desespero de ter que mostrar produtos novos – tenho a impressão de que isso é apagar o valor do que nasceu.”
 
Ainda não é a intenção, mas Maíra não descarta a possibilidade de transformar o artesanato em uma linha de produtos para vestir. Ela também tem vontade de aprender a tecer.
 

Serviço

Aveia Tapeçaria


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