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Estado de Minas ENTREVISTA/SÉRGIO LEITE

'Somos uma democracia e o país vai crescer', diz o presidente da Usiminas

No comando da maior siderúrgica de aços planos do país, Sergio Leite avalia perspectivas de expansão da economia em ano de eleições, e destaca oportunidades


20/02/2022 04:00 - atualizado 20/02/2022 07:36

Sergio Leite, presidente da Usiminas
Sergio Leite diz manter visão positiva diante de dificuldades (foto: Divulgação/Usiminas)

Nem só de desafios vive o Brasil que patina na recuperação da economia, pressionado por inflação, juros e desemprego elevados em ano de eleições. Determinado a manter a visão sempre positiva que demonstra diante das dificuldades, o presidente da Usiminas, Sergio Leite, vê oportunidades em 2022 e comunga das perspectivas de crescimento do país, embora menor do que no ano passado.

Depois do resultado recorde obtido pela siderúrgica em 2021, com lucro de R$ 10,1 bilhões e expansão em todas as áreas de negócio, a companhia vai reforçar estratégias para disputar mercados. Uma das premissas é de que demanda de aço e crescimento econômico andam juntos. “O consumo per capita está estagnado há mais de quatro décadas”, lembra o executivo.

 

As tensões políticas fazem parte do jogo e não representam ameaça, para o presidente da Usiminas. “O Brasil tem uma democracia consolidada e a expectativa é de que o país continue crescendo”, diz Sergio Leite nesta entrevista, em que avalia também a necessidade de aprovação das reformas estruturais, sobretudo a tributária e fiscal, como pressuposto para empresas competitivas e que garantam a força das exportações. Internamente, a Usiminas, segundo o executivo, trabalha com a meta de se tornar mais inclusiva e  valorizar sempre a diversidade, com equidade de gênero e raça.

“Queremos ser uma empresa em que todos possam ser quem realmente são e onde o respeito é inegociável”, destaca o executivo.

 

No Brasil que, em campanha eleitoral, enfrenta nova onda da COVID-19, desemprego e inflação altos, como é a rotina do senhor para conduzir projeções e projetos de investimentos diante dessa combinação de fatores?

A Usiminas é uma empresa com quase seis décadas de operações e ao longo de sua trajetória consolidou-se no mercado de aço, tornando-se o maior complexo siderúrgico da América Latina e líder brasileiro de aços planos. É uma empresa que desde suas origens foi capaz de superar grandes desafios e apresentar resultados. No ano passado, por exemplo, mesmo em um cenário particularmente complexo imposto pelo segundo ano consecutivo de pandemia, conseguimos apresentar uma série de recordes no nosso desempenho, construindo o melhor resultado na história da empresa. Isso foi fruto do intenso trabalho de uma equipe preparada e motivada e de uma gestão que nos permitiu tomar as decisões adequadas nos momentos certos. E é isso que vai nos permitir enfrentar os novos desafios que estão por vir neste e nos próximos anos.

 

Quais são as expectativas do senhor para a recuperação da economia, tendo em vista também as tensões políticas de um ano de eleições?

Busco sempre ter uma postura positiva diante das dificuldades. A Usiminas segue as projeções do Instituto Aço Brasil, que prevê uma redução no ritmo de crescimento da economia e, consequentemente, do setor. De qualquer forma, o Brasil tem uma democracia consolidada e a expectativa é de que o país continue crescendo. Na Usiminas, estaremos prontos para continuar atendendo às demandas do mercado e gerando valor para o público com quem ela se relaciona.

 

O senhor assumiu a presidência do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração (ABM) destacando as reformas tributária e administrativa como urgentes no Brasil. Acredita em mudanças de curso nessas áreas em ano de eleições?

Tanto o mercado global quanto o brasileiro enfrentam grandes desafios, como uma grande capacidade ociosa e uma alta concentração de mercado na China, mas também de oportunidades. No Brasil, temos um importante potencial de crescimento no consumo de aço, mas, para torná-lo realidade, é fundamental uma agenda de iniciativas do governo e a modernização da economia. Demanda de aço e crescimento econômico andam juntos e no Brasil o consumo per capita está estagnado há mais de quatro décadas. Para captar o potencial extraordinário que temos em áreas como óleo e gás, ferrovias, entre outras, precisamos adotar medidas urgentes, como a implementação da agenda de reformas do governo, em particular as reformas tributária e fiscal; aprimorar marcos regulatórios – seja para aumento da demanda ou da competitividade da indústria; promover a isonomia entre as empresas do país e garantir a força das exportações de produtos manufaturados.

 

Considerando o cenário da recuperação do país e do setor minerometalúrgico, como o senhor avalia a possibilidade de a empresa repetir o bom resultado de 2021 neste ano?

A Usiminas sempre buscou inovar em produtos e processos, investindo em tecnologias e gerando soluções que respondam às demandas dos seus clientes. A necessidade de as empresas de se manterem competitivas em um mercado cada vez mais acirrado, como o de produção e beneficiamento do aço, leva as companhias a investirem estrategicamente em pesquisa e desenvolvimento, criando soluções para aprimorar os seus processos e serem cada vez mais eficientes e sustentáveis. Então, é nesse sentido que vamos continuar seguindo nossa trajetória e buscando sempre apresentar os melhores resultados possíveis. Esse trabalho, em 2022, não será diferente.

 

Quais são as prioridades em investimentos da Usiminas neste ano?

Em 2022, a Usiminas comemora 60 anos de operação e a expectativa para o ano é a melhor possível, principalmente após os resultados históricos que alcançamos no ano passado. O foco da nossa atuação será, principalmente, em pessoas e comunidades; clientes e mercados e competitividade. Temos muito a comemorar pelos importantes avanços que tivemos em 2021, mas agora é tempo de preparar as bases que darão sustentação às nossas operações nos próximos anos. Temas como saúde e segurança das pessoas, prosperidade para as comunidades e redução cada vez maior dos impactos ambientais concentrarão ainda mais esforços da companhia. Com relação ao mercado e à competitividade da empresa, merecerão destaque a expansão das vendas com rentabilidade e a redução dos custos operacionais por meio da excelência operacional, entre outras iniciativas. Para este ano, prevemos fortes investimentos na reforma do nosso alto-forno 3, instalado em Ipatinga. A expectativa é começar a preparação para darmos início ao projeto já no ano que vem, gerando novos empregos para a região do Vale do Aço e contribuindo para o desenvolvimento econômico de todo o estado. O futuro vai continuar nos apresentando grandes desafios, mas também imensas oportunidades.

 

A agência de classficação de risco Moody's Local BR elevou a nota da companhia. Que condições o senhor deve priorizar em 2022, num período que adiciona a tensão das eleições ao crédito caro?

O perfil de crédito reflete a posição de liderança no mercado brasileiro de aços planos, e seus custos de produção competitivos, que se beneficiam de um sistema produtivo integrado, bem como da capacidade da companhia de adaptar suas operações às condições de mercado. Essa classificação apresenta robusta posição de liquidez, além de gestão financeira comprometida com a sustentabilidade do nosso negócio. É graças a esse empenho que alcançamos resultados significativos para nossa empresa e para as comunidades onde estamos presentes. Ou seja, vamos continuar priorizando o cliente.

 

A empresa anunciou equidade de gênero, raça e etnia como algumas das frentes na organização interna. Que resultados tem alcançado?

Um dos principais compromissos da Usiminas é se tornar uma empresa mais diversa e inclusiva. Os ganhos e o aprofundamento da companhia nos temas da agenda ESG (sigla inglesa para a expressão governança ambiental, social e corporativa), composta por uma série de iniciativas ambientais e sociais, se tornam cada vez mais decisivos no mercado global de aço. Para nos ajudar a atingir esse objetivo, criamos, em 2019, o Programa de Diversidade e Inclusão Usiminas. Temos diversas ações e a atuação dos grupos de afinidade dos cinco pilares: equidade de gênero, LGBTI+, gerações, pessoas com deficiência e raça e etnia. Trabalhamos para equilibrar a presença de homens e mulheres em nossas atividades, porque acreditamos no poder da diversidade para os resultados do negócio e, principalmente, na produção de um ambiente que faça as pessoas mais felizes. Em nossa agenda ESG, a meta relacionada à diversidade é elevarmos o número de mulheres na área industrial da Usiminas. Seguimos atuando fortemente para alcançar este objetivo e para isso já temos ações concretas, como programas de estágio abertos apenas para mulheres. Acabamos de anunciar a meta de alcançar, até o final deste ano, 55% de mulheres nas nossas turmas de formação de aprendizes. Na prática, isso quer dizer que queremos ser uma empresa em que todos possam ser quem realmente são e onde o respeito é inegociável.

 

A Usiminas inaugurou o seu processo de disposição a seco de rejeitos da mineração de ferro, sistema considerado mais seguro, mas que também tem seus riscos. Que medidas de segurança estão sendo tomadas?

A inauguração do dry stacking foi um importante passo para o avanço na Agenda ESG da Usiminas. A inauguração do sistema de disposição de rejeitos filtrados, em Itatiaiuçu (MG), reafirmou o nosso compromisso com a segurança e a sustentabilidade das operações. Esse projeto representa muito mais do que um simples projeto de sustentabilidade da companhia. Continuamos com as medidas de segurança, como inspeção de segurança para monitoramento de pilhas, controle topográfico rígido;  contamos com um sistema de drenagem interno e superficial bem projetados; implantação de um sistema de monitoramento geotécnico de pilhas, por exemplo. Além, é claro, de treinamento da equipe de campo em inspeções de segurança, instrumentação e monitoramento de pilhas; definição de critérios de classificação de risco (CRI) e dano potencial associado (DPA) de pilhas; ou seja, todos os protocolos orientados pelos órgãos competentes.

 

O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da companhia, instalado em Ipatinga, considerado o maior da siderurgia na América Latina, completou 50 anos em 2021, com novas iniciativas. Qual é o foco, agora?

Com uma equipe de profissionais altamente qualificados, o Centro de Pesquisa tem sido responsável pelo desenvolvimento de aços de alto valor agregado para diversos setores, inclusive a indústria automobilística, produzindo automóveis mais leves, seguros e com menos impacto ambiental. Esses aços também são aplicados para a instalação de torres de energia eólica e solar, além de tantas outras aplicações que passaram a ser demandas da indústria brasileira, com foco na sustentabilidade. Um exemplo importante de pesquisa, no momento, são os estudos para tentar reduzir as emissões de carbono. Estamos desenvolvendo iniciativas capazes de diminuir esse impacto no meio ambiente. O desafio da descarbonização ainda é um tema complexo que precisa de muita pesquisa, principalmente no setor siderúrgico. O Centro de P&D está integrado com todas as unidades da Usiminas e vem sendo um dos grandes diferenciais competitivos da companhia nessas cinco décadas de operação. 

 

 


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