É difícil uma vitrine passar despercebida às vésperas do Black Friday, marcada para amanhã. E o megaevento de descontos parece preparado para atender aos mais variados gostos da freguesia. Vitrines coloridas, indicando as promoções, tomaram conta das ruas do Centro da capital mineira, na tentativa de concorrer com os atrativos da internet. Por trás de um desses 'cartões de visitas' – que pode ser o diferencial na decisão de entrar numa loja ou não – está o pintor de vitrines Gilson Mário da Silva, de 73 anos. Ele conta que trabalha com a decoração de vidraças desde a década de 1960 e que já estampou mais de 40 estabelecimentos com propagandas só para as atrações desta semana.
Os trabalhos começaram no início do mês. ''Este é o período em que eu mais trabalho. Neste ano, até mais do que o Dia das Mães ou Dia dos Pais'', comemora o flamenguista Gilson, que atende toda a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele nasceu na capital mineira e mora no Bairro São Geraldo, na Região Leste da capital. Na terça-feira, se deslocou até Betim e ontem foi a Mateus Leme, ambas cidades vizinhas.
Ele conta que tudo começou na década de 70, enquanto passava pelo Edifício Central, na Praça da Estação, no Centro de BH. ''Eu estava andando à toa pelo Centro, quando decidi entrar no prédio. Lá, havia um cinema e vi um homem pintando o cartaz. Achei legal e logo pedi 'tem uma vaga pra mim?''', relembra. Gilson diz que a primeira caligrafia saiu toda ''torta''. ''Parece fácil, mas é bem difícil. Tive de treinar bastante'', relatou.
Ele revelou que se lembra de estampar letreiros de filmes como “Sete homens e um destino”, de 1960, “O dólar furado”, de 1965, e o clássico “Dona Flor e seus dois maridos”, de 1976. ''Trabalhei em vários cinemas de rua, como Cine Brasil, Cine Amazonas, Cine São Cristóvão, que agora nem existem mais'', relatou.
Depois de passar anos fazendo cartazes em supermercados e anúncios de lojas em shoppings, agora se dedica à vitrine. ''Nesta Black Friday estou fazendo de tudo, mas as óticas são as que mais me procuram'', detalhou. Ele observa que ouviu pela primeira sobre a megapromoção ainda na década de 1980.
CHAMATIVO O valor cobrado por ele depende do tamanho da vitrine, mas pode variar entre R$ 35 e R$ 80. O trabalho decorativo leva até três horas. ''Gosto de fazer bem caprichadinho, e muitas até me perguntam se é plotagem'', acrescentou. Ele contou que o grande segredo para chamar a atenção da freguesia é um painel bem colorido. Mas existem, segundo ele, as cores que ficam melhores na vidraça, como o vermelho, amarelo, branco e laranja.
Gilson disse que, assim como ele, que está trabalhando bastante neste novembro, a expectativa dos comerciantes é alta para a próxima sexta-feira. ''O último ano foi bem difícil por conta da pandemia. Tive pouca procura. Agora, já está bem melhor pra todo mundo'', avalia. Mas ao ser questionado se ele mesmo iria comprar algo nessa promoção, logo descartou: ''Não vou não''.