A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou os resultados do setor referentes a abril. O número mais impressionante é o volume de produção de autoveículos no país, apenas 1.800 unidades, uma queda de 99% em relação a março, que, mesmo parcialmente impactado pelo coronavírus, registrou 190 mil unidades fabricadas.
Segundo Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, este foi o pior resultado da série histórica, aferida desde 1957, quando por aqui atuavam apenas a Ford, General Motors, Volkswagen, DKW Vemag, Mercedes-Benz e Scania. Comparado com abril de 2019, quando foram produzidos 267,6 mil veículos desta categoria, a queda é ainda maior. No acumulado do ano, a redução da produção é de 39,1%, passando de 965,4 mil veículos nos quatro primeiros meses de 2019 para 587,7 mil até agora.
Apesar de alarmante, o resultado já era esperado, já que são muito poucas as fábricas em atividade. Até 12 de abril, no Brasil, haviam 63 fábricas paralizadas e apenas duas em funcionamento (entre autos, ônibus, caminhões e máquinas), com cerca de 125 mil funcionários parados. A partir de 13 de abril, mais oito fabricas retomaram a produção, com o retorno de 30 mil trabalhadores. O mês de maio começou com 55 fábricas paralizadas e 95 mil funcionários parados, com planos de retomada de algumas ainda neste mês e outras em junho. A associação desenvolveu um protocolo de segurança para o retorno às atividades das fábricas.
Sem produção, o estoque apresentou ligeira queda, de 266,6 mil unidades (sendo 181,3 mil nas concessionárias e 85,3 mil nas fábricas) em março para 237,3 mil (163,4 mil nas concessionárias e 73,9 mil nas fábricas). Este era considerado pela Anfavea um estoque normal para antes da crise, mas, no ritmo atual, é o suficiente para quatro meses.
Recorde de queda também no mercado interno de autoveículos. Com 55,7 mil licenciamentos de veículos novos, abril apresenta redução de 65,9% em relação a março, que teve 163,6 mil emplacamentos. Quando comparado a abril de 2019, que teve 231.936 unidades, a redução é de 76%. Nesta última comparação, Minas Gerais teve uma queda um pouco menor, de 73%, com 52.787 unidade em abril de 2019 contra 14.160 registradas nesse último mês.
Com os demais países (como Argentina, Chile e Colômbia) praticamente fechados, as exportações também vão mal. Em abril foram exportadas apenas 7,2 mil unidades, menos 76,6% comparado com março (que somou 30,8 mil unidades) e 79,3% em relação a abril de 2019 (com 34,9 mil unidades). Este resultado é considerado o pior dos últimos 23 anos.
O nível de empregos também teve pequena variação, passando de 125,7 mil funcionários em março para 125,3 mil em abril, queda de 0,3%. Em abril de 2019 o setor empregava diretamente 130,2 mil pessoas. A Anfavea elogiou as ferramentas criadas pela Medida Provisória 936 - que permitiu reduzir salário e jornadas, além da interrupção temporária do contrato de trabalho -, e a negociação com os sindicatos da categoria. Quanto à possibilidade de demissões em maior escala, Moraes afirmou que é muito dificil falar se as ferramentas já utilizadas serão suficientes para assegurar empregos e que isso depende da retomada do setor e da gestão correta da crise no Brasil.
Ao falar da “deterioração” do câmbio e do Risco Brasil, o presidente da Anfavea levantou o tom contra o Governo Federal: “Parte da instabilidade do câmbio não é econômica e sim política. Quase todo dia temos uma crise além da saúde”. Moraes seguiu apresentando o cenário econômico: a inflação se manteve decrescente, mas em função da baixa demanda, o que para ele não é necessariamente uma boa notícia; a confiança do investidor despencou e a expectativa de crescimento da economia é de -4%; e, apesar da queda da Selic, já existe um movimento de aumento no custo do financiamento de veículos.
“O atual cenário prejudica todos os setores econômicos e poderia ser menos grave se contássemos com a sensibilidade e responsabilidade da classe política”, afirmou. A Anfavea continua não se arriscando a fazer uma projeção do mercado automotivo brasileiro para este ano por ainda desconhecer o tempo em que a doença vai impactar cada cidade e cada região.