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Estado de Minas

Bolsonaro se reunirá com área econômica para tratar de impactos da tensão entre EUA e Irã

Morte de general iraniano em ataque autorizado por Trump deve afetar o preço da gasolina, além da inflação e juro, hoje baixo, no Brasil


postado em 04/01/2020 04:00 / atualizado em 04/01/2020 08:56

Em questão de alguns dias, consumidor poderá ver reajuste nas bombas se importadores de combustíveis e analistas do setor estiverem certos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press %u2013 24/5/18 )
Em questão de alguns dias, consumidor poderá ver reajuste nas bombas se importadores de combustíveis e analistas do setor estiverem certos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press %u2013 24/5/18 )


Brasília – O presidente Jair Bolsonaro vai se reunir na próxima segunda-feira com técnicos da Petrobras e da área econômica para discutir os impactos da elevação do preço do barril de petróleo no mercado interno, diante da escalada das cotações internacionais do óleo após o assassinato do general iraniano Qasem Soleimani. Ele foi morto em ação militar comandada pelos Estados Unidos e autorizada pelo presidente Donald Trump no aeroporto de Bagdá. Bolsonaro garante, contudo, que a reunião é apenas para discutir o diagnóstico sobre o cenário e eventuais medidas para mitigar os efeitos sobre os custos da gasolina e do óleo diesel, não havendo quaisquer relações com uma possível intervenção na política de preços da estatal.

A possibilidade de o governo intervir na política de reajustes da Petrobras não está descartada, segundo assessores próximos do presidente, sobretudo se houver agravamento do clima de tensão entre Irã e Estados Unidos. A elevação dos preços dos combustíveis no Brasil é uma questão de tempo e poderá ocorrer na semana que vem, segundo os analistas do mercado do petróleo.

O presidente da República sustenta que a política de reajustes da Petrobras segue ancorada na variação do preço internacional do petróleo e o governo não vai adotar qualquer intervenção. “Nós optamos por isso e não vamos interferir. Agora, sabemos o quanto isso impacta toda nossa economia cujo produto final, gasolina e diesel, já está bastante alto. O povo quer que diminua o preço do combustível, com razão, mas não podemos tabelar”, afirmou, em entrevista por telefone ao programa Brasil Urgente, da TV Band.

O dia ontem começou com a disparada dos preços do barril de petróleo. Os contratos futuros do óleo subiam US$ 3 (R$ 12,09), indicando o temor dos investidores ante a deflagração de uma guerra. China e Rússia são aliados do Irã e já reprovaram o ataque feito pelos EUA.

O barril do petróleo Brent subia US$ 2,95, ou 4,45%, a US$ 69,2 por barril, às 8h19 (horário de Brasília). Nos Estados Unidos, o petróleo avançava US$ 2,62, ou 4,28%, a US$ 63,8 o barril. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que uma dura vingança aguarda os “criminosos” que mataram Soleimani, um sinal claro que retaliações virão.

O presidente Jair Bolsonaro afirmou que a morte do general vai impactar no preço do combustível no Brasil. “Que vai impactar, vai”, previu. Bolsonaro disse que a gasolina já está alta e, se seguir encarecendo, “complica”. “Vamos ver nosso limite”, declarou. A Petrobras, por meio de sua assessoria, informou que não irá se posicionar sobre a elevação dos preços do petróleo.

A Associação dos Importadores de Combustíveis (Abicom) aguarda um posicionamento da estatal para a semana que vem, segundo o presidente da entidade, Sérgio Araújo. “Agora, seria uma precificação de risco. É muito especulativo neste momento. A Petrobras deve aguardar uma estabilização da cotação, o que deve acontecer na próxima semana”, disse.

Os importadores têm papel relevante no mercado interno e costumam pressionar a estatal pelo reajuste dos preços para que também eles tenham espaço para acompanhar o mercado internacional. Por isso, a visão do economista e coordenador técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), Rodrigo Pimentel, é que a posição dos importadores terá influência na reação da Petrobras.

A associação tem recorrido ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica toda vez que avalia que a Petrobras atua descolada do mercado externo. Nessas ocasiões, o argumento é de que, ao segurar os preços internos, a empresa impede a livre a concorrência no mercado.

Petrobras sozinha 


Bolsonaro disse que é preciso mostrar à população brasileira que ele não pode “tabelar (o preço de) nada”. “Já fizemos essa política no passado, de tabelamento, não deu certo. A questão do combustível, nós temos de quebrar o monopólio”, afirmou. A solução defendida pelo presidente para equacionar a alta do preço dos combustíveis é a abertura do mercado. O presidente da estatal, Roberto Castello Branco, e o ministro da Economia, Paulo Guedes, entendem que a quebra do monopólio que a estatal exerce, na prática, sobre o refino, é o caminho para aliviar o bolso dos consumidores. O governo sabe, contudo, que essa não é uma medida a curto prazo.

Atualmente, estão em funcionamento no Brasil 17 refinarias com capacidade instalada de refino diário de cerca de 2,3 milhões de barris. O baixo número de concorrentes no mercado de refino de combustíveis estaria associado ao controle da Petrobras de quase 77% das refinarias no país.


* Estagiária sob supervisão do editor Vicente Nunes


Política monetária pode sofrer revés

As implicações da escalada das tensões entre Estados Unidos e Irã no preço do petróleo e na cotação do dólar “encerram”, na opinião do economista-chefe da Necton, André Perfeito, as chances de haver novo corte da taxa básica de juros no Brasil devido às pressões inflacionárias 'difusas'”. A taxa Selic remunera os títulos do governo no mercado financeiro e serve de referência para as operações nos bancos e no comércio.

A elevação dos preços do petróleo tende a afetar o preço do dólar e, assim, pressionar a inflação, já que sobem os preços dos fretes das mercadorias. Em consequência, com a inflação mais alta, a tendência´é o Banco Central conter a política de redução dos juros, que por sua vez, têm impacto direto nos investimentos das empresas e até na geração do emprego.

O analista André Perfeito também afirmou, em nota, que é preciso observar se o Palácio do Planalto vai interferir em uma eventual alta da gasolina. Além disso, outro ponto a ser monitorado, completa, é se o governo brasileiro se alinhará a Washington nesse conflito. “Além de não fazer parte das nossas tradições diplomáticas (que sempre foram neutras e ambíguas quando se trata de assuntos dessa natureza), pode atrapalhar mais ainda nossa balança comercial”, avalia.


Palavra de especialista

Miguel Daoud
analista político e econômico

Como ataques dos EUA ao Irã afetam o Brasil?

“A alta do dólar e a alta do petróleo já estão acontecendo, o que trará impacto na inflação. O aumento da inflação pode causar uma reversão na taxa de juros no Brasil. Seria uma forma de evitar que a moeda brasileira perdesse valor. Um choque no preço do petróleo representa aumento no custo da gasolina e do diesel, e a alta do dólar representa a fuga de investimentos. A política econômica liberal (do atual governo de Jair Bolsonaro) não consiste em fazer intervenções para segurar o preço do petróleo, como foi feito durante o governo Dilma no passado. A ideia de segurar os preços acabava penalizando a empresa. Então, temos hoje critérios para definir o aumento do preço do combustível, que são os custos do petróleo e o câmbio. Esse é o impacto direto que podemos calcular. Outros impactos dependem de variáveis que podem ou não acontecer.”


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