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Estado de Minas FIM DE LINHA

Boeing vai suspender fabricação do 737 Max

Modelo que causou a morte de 346 pessoas por possíveis falhas da fabricante, que também é controladora da brasileira Embraer, ainda enfrenta problemas junto aos órgãos reguladores


postado em 17/12/2019 04:00 / atualizado em 17/12/2019 08:39

(foto: divulgação)
(foto: divulgação)

São Paulo – “Devolver com segurança o 737 Max ao serviço é nossa principal prioridade.” Assim começa o comunicado divulgado ontem pela fabricante de aviões Boeing, numa clara tentativa de sensibilizar o público e os investidores sobre a decisão de deixar de fabricar temporariamente, a partir de janeiro de 2020, o modelo que transportava 346 pessoas que morreram depois de dois graves acidentes aéreos.
 
O 737 Max é produzido na unidade de Renton (Washington) e era considerado o modelo mais importante para a empresa, já que desde o seu lançamento gerou algumas dezenas de bilhões de dólares de vendas. Há nove meses, logo depois de acontecer o segundo acidente fatal, sua produção foi congelada.
 
Agora, com a decisão de interromper temporariamente a produção, o impacto não deve ser apenas nas finanças da gigante do setor aéreo, dona do controle da brasileira Embraer. Também é de esperar que haja um solavanco na economia americana, já que a medida irá reverberar nos fornecedores em todo o país.
 
Para a centenária Boeing, não havia outra saída senão protelar a volta do 737 Max à linha de produção, já que até agora a empresa não conseguiu a aprovação dos órgãos reguladores globais para colocar esses aviões no ar novamente.
 
“Essa decisão é motivada por vários fatores, incluindo a extensão da certificação até 2020, a incerteza sobre o momento e as condições do retorno ao serviço e as aprovações globais de treinamento e a importância de garantir que possamos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas”, informou a Boeing em seu comunicado. “Continuaremos a avaliar nosso progresso em direção ao retorno ao serviço.”
 
Por ora, a Boeing diz que poderá transferir seus trabalhadores da linha do 737 Max para outros projetos, ou que os pouparia das demissões. No entanto, essa decisão não teria impacto na vida dos fornecedores. Maior exportadora de manufaturados dos EUA, a companhia tentará gerenciar a interrupção para os fornecedores. No entanto, até agora a companhia não deu detalhes sobre como pretende colocar seu plano de pé.

Fornecedores

Uma das hipóteses é que a Boeing continue a aceitar a produção de peças de grandes fornecedores. Assim, seus estoques estariam preparados para a retomada e os fornecedores teriam condições de acelerar a produção sem muita demora. Mas essa possibilidade dificilmente abrangerá a todos, por isso, é de se esperar que a perda de um grande contrato como o que essas empresas têm com a Boeing será o fim de linha para parte delas.
 
Gordon Johndroe, porta-voz da Boeing, tentou contornar a ameaça aos fornecedores, como declarou no comunicado: “Nosso objetivo continua sendo garantir a saúde da cadeia de suprimentos e a estabilidade do sistema de produção, incluindo a preparação para uma transição contínua no futuro”. Como a fabricante não declarou estar planejando demissões significativas e seus fornecedores estão espalhados por todo o território americano, é provável que o impacto sobre a economia do país leve algum tempo para ser sentido.
 
O fato é que bastou que a Boeing fizesse seu anúncio ao mercado para que os efeitos colaterais começassem a ser sentidos. Segundo o jornal The New York Times, as ações da Spirit AeroSystems, que faz a fuselagem do Max, caíram quase 2% na segunda-feira. Já os papéis da Boeing sofreram um tropeço superior a 4%.
 
A Boeing já havia reduzido a produção na fábrica após os acidentes com o 737 Max. Em abril, a empresa afirmou que reduziria o número de aviões 737 produzidos todos os meses de 52 para 42. O comunicado de ontem deixou vago quanto ao tempo que a fábrica Max ficará inativa. A data de reabertura deverá estar condicionada à decisão dos órgãos reguladores de aprovar a volta ao serviço do 737 Max.


Negociação

Uma das batalhas para conseguir essa aprovação vem sendo tratada com o órgão Federal Aviation Administration (espécie de Anac dos EUA). As amarras estão tanto na parte técnica quanto processual. Por isso, acredita-se que o737 Max poderá ficar no solo por um ano ou mais.
 
O resultado de embates como o travado com o órgão regulador americano levou a Boeing a repetidamente adiar a data prevista para o retorno ao serviço do Max. Em outubro, um dos executivos da fabricante, Dennis A. Muilenburg, declarou que esperava pela aprovação das aeronaves ainda em 2019. Na semana passada, porém, Stephen Dickson, administrador da agência reguladora, disse que o Max não voaria até 2020.
 
Dois dos clientes da Boeing, Southwest Airlines e United Airlines, adiaram os voos do 737 Max até março. A American Airlines foi mais longe e suspendeu a retomada do avião até abril.
Apesar de as perdas para a Boeing serem inevitáveis, a decisão de interromper a produção tem um lado bom. Até agora, a empresa construiu quase 400 Max que ainda não foram entregues. O processo de entrega de todos esses jatos levará pelo menos um ano. Ao parar a fabricação, a companhia deixa de gastar dinheiro abarrotando seus estoques e ainda reduz o tempo que levará para que toda a produção seja entregue aos clientes, diminuindo a ociosidade das aeronaves.
 
Em seu comunicado, a Boeing lembrou que havia declarado anteriormente que avaliava continuamente os planos de produção caso o Max continuasse em solo mais do que esperava. “Como resultado dessa avaliação contínua, decidimos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas e suspender temporariamente a produção no programa 737 a partir do próximo mês”, declarou.

Efeitos

A primeira vez que a Boeing cogitou que poderia interromper a produção do Max foi em julho. A empresa já anunciou mais de US$ 8 bilhões em encargos relacionados à crise, um número que agora deve aumentar significativamente. Na semana passada, a Boeing chegou a um acordo parcial com a Southwest Airlines para compensar alguns dos custos decorrentes desse período em que o modelo está no solo.
 
Para analistas, apesar de a Boeing ainda ter à sua disposição linhas de crédito e capacidade de contrair novas dívidas, em algum momento terá de parar de sangrar suas finanças por causa do 737 Max. Os impactos contábeis causados pela suspensão da produção serão divulgados no final de janeiro, quando a fabricante tornará públicos os resultados do quarto trimestre de 2019.
 
Ainda segundo o comunicado, a Boeing acredita que a decisão de suspender a produção do modelo é menos impactante para a manutenção da saúde do sistema de produção e da cadeia de suprimentos a longo prazo. “Essa decisão é motivada por vários fatores, incluindo a extensão da certificação até 2020, a incerteza sobre o momento e as condições do retorno ao serviço e as aprovações globais de treinamento e a importância de garantir que possamos priorizar a entrega de aeronaves armazenadas. Continuaremos a avaliar nosso progresso em direção ao retorno aos marcos do serviço e a tomar decisões sobre a retomada da produção e entregas em conformidade”, acrescenta a nota da empresa.


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