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Estado de Minas

Maiores que o PIB de alguns países, supersalários estão com os dias contados

Grandes companhias começam a ser pressionadas a pagar menos para executivos, já que estudos revelam que remunerações elevadas nem sempre trazem bons resultados


postado em 13/06/2019 04:09 / atualizado em 13/06/2019 08:22

Elon Musk, presidente da Tesla, tem ganhos maiores do que o PIB de países como Cabo Verde e Libéria (foto: Frederic J. Brown/AFP)
Elon Musk, presidente da Tesla, tem ganhos maiores do que o PIB de países como Cabo Verde e Libéria (foto: Frederic J. Brown/AFP)

São Paulo – Há duas semanas, Sundar Pichai, o indiano de 46 anos que comanda o Google, tomou uma decisão raríssima no universo das grandes corporações: ele recusou um enorme bônus. O valor não foi revelado. Considerando o histórico da gigante de tecnologia, é de se supor que o montante alcançaria a casa das centenas dos milhões de dólares. Em 2014, pouco antes de Pichai ser promovido, Larry Page, o cofundador do Google que liderava a empresa, recebeu US$ 250 milhões em ações.

Pichai não se pronunciou oficialmente, mas, segundo reportagem publicada pela Bloomberg, ele alegou que já teria uma remuneração satisfatória. David Larcker, professor de governança corporativa da Stanford Graduate School of Business, que foi entrevistado pela agência, afirmou que Pichai pode estar apenas querendo “administrar a imagem sobre o seu salário”.

Seja qual for o motivo que levou Pichai a tomar a decisão, a verdade é que os líderes das grandes companhias – principalmente da área de tecnologia – estão ganhando dinheiro demais. Numa sociedade preocupada com a transparência dos negócios e das atividades empresariais, salários estratosféricos podem soar não apenas como desnecessários, mas também ofensivos.

“Isso é ainda pior num momento em que o crescimento econômico global começa a dar sinais de esgotamento”, diz Eduardo Tancinsky, consultor especializado na área de tecnologia. “Até quando as empresas vão suportar pagar fortunas aos funcionários do topo – e são fortunas mesmo –, se o seu desempenho financeiro não for mais tão satisfatório?”

O debate a respeito dos salários extravagantes nas corporações está apenas começando e deve ganhar intensidade no futuro próximo. Por enquanto, os executivos-chefes continuam surfando na onda do crescimento da economia americana, que assegurou ganhos suculentos para as empresas e para seus acionistas.

Agora, no entanto, algumas nuvens estão se formando no horizonte, o que é reflexo principalmente do acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Em maio, o S&P, principal índice da bolsa americana, sofreu a maior baixa para o mês desde 2010, após a ameaça das tarifas do presidente americano, Donald Trump, contra o México alimentar o temor de uma disputa comercial em várias frentes.
Sem um cenário de ações em queda e menos ganhos para as empresas, como ficarão as remunerações dos CEOs? Nos últimos anos, os salários dos grandes executivos não pararam de crescer. Segundo estudo da consultoria Equilar, que publica anualmente um relatório com as remunerações dos 200 executivos-chefes mais bem pagos dos Estados Unidos, a cada fechamento contável eles acabam recebendo mais dinheiro.

Em 2018, de acordo com o trabalho mais recente da Equilar, os 200 campeões em salários tiveram rendimentos médios de US$ 18,6 milhões, ou 6,3% a mais (o equivalente a US$ 1,1 milhão) na comparação com o ano anterior.

Uma comparação simples mostra como eles se deram bem. Em 2018, o trabalhador médio americano do setor privado obteve um aumento de remuneração de 3,2%. Ou seja, os CEOs, que já recebem muito, tiveram o dobro do aumento dos trabalhadores convencionais. O que explica isso?

Para o consultor Eduardo Tancinsky, nos últimos anos, os CEOs se tornaram popstars e passaram a ser cultuados como se fossem grandes astros. “Nesse contexto, a divulgação dos salários estratosféricos reforça a imagem de pessoas que estão muito acima do restante da sociedade e que, portanto, merecem cada centavo que recebem”.

Na nova era tecnológica, os CEOs ganharam ainda mais notoriedade. Eles começaram a ser vistos como semideuses que sabem exatamente o que as pessoas querem, moldando gostos e influenciando bilhões de pessoas no mundo inteiro.

Não à toa, lideram os rankings de salários os profissionais da área de tecnologia. No topo da lista da Equilar está o excêntrico Elon Musk, da Tesla, que recentemente deu uma entrevista fumando maconha e que se diverte fazendo postagens polêmicas nas redes sociais, com provocações a políticos e empresários rivais. Para liderar a fabricação de carros elétricos da Tesla, Musk recebeu no ano passado US$ 2,28 bilhões – é mais do que o PIB de países como Cabo Verde e Libéria.

Depois de Musk, aparecem David Zasla, CEO da empresa de entretenimento Discovery (uma exceção na lista dominada por corporações tecnológicas), com ganhos de US$ 129,5 milhões (ou US$ 2 bilhões a menos que Musk), e Nikesh Arona, presidente da Palo Alto Networks, empresa especializada em serviços de cibersegurança. Completam a relação dos cinco primeiros Mark Hurd, copresidente da Oracle, segunda maior empresa de software do mundo, com salário de US$ 108,29 milhões, e Safra Catz, também copresidente da Oracle, com ganhos de US$ 108,28 milhões.

O curioso nas remunerações dos executivos do topo é que elas são crescentes, a despeito da performance financeira ou até dos danos de imagens enfrentados pelas empresas. Musk foi no ano passado o executivo com a maior remuneração da história mesmo em uma temporada difícil para a Tesla, que não cumpriu a meta de entrega de carros elétricos e que, por isso, enfrentou forte queda no valor de suas ações.

217 vezes o salário 


Um estudo realizado pelo instituto americano Economic Policy Institute (EPI) confirma que a remuneração de executivos de alto escalão vem crescendo num ritmo maior do que os ganhos do trabalhador comum. Segundo a pesquisa, os presidentes das maiores empresas dos Estados Unidos recebem, em média, 271 vezes o salário de um empregado típico. Em 1985, essa relação era de 59 vezes. Em 1965, apenas 20.

Os efeitos do aumento da disparidade podem ser danosos para a sociedade. De acordo com o EPI, o excesso de desigualdade é um fator de desestabilização, podendo levar até a conflitos sociais. Em períodos de crescimento econômico, como se observa nos Estados Unidos, essa diferença não incomoda tanto. Em tempos de crise, ela pode trazer problemas.

A situação é tão preocupante que alguns bilionários estão engajados em reduzir a diferença. Bill Gates, da Microsoft, e Warren Buffett, da Berkshire Hathaway, dois mitos do capitalismo americano, querem pagar mais impostos para diminuir seus ganhos, e a ideia tem conquistado adeptos entre diversos empresários do país.

No Brasil, empresas divulgam salários


No Brasil, não existem estudos que comparem os maiores salários dos presidentes de empresas com os ganhos do trabalhador médio, mas alguns levantamentos mostram que a disparidade é grande. De acordo com uma pesquisa da empresa de benefícios e soluções corporativas Mercer, o salário de um executivo no mercado brasileiro é, em média, 34 vezes maior que o de um operário. Nos Estados Unidos, essa diferença é de 11 vezes. Na Alemanha, cinco vezes.

Ao contrário do estudo do instituto americano Economic Policy Institute (EPI), a pesquisa da Mercer considera diversos cargos executivos e não apenas os presidentes. No Brasil, os presidentes das maiores empresas obviamente ganham bem, mas seus ganhos nem se comparam aos dos grandes astros corporativos americanos.

No ano passado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) determinou a divulgação dos salários de presidentes de companhias de capital aberto. Segundo valores relativos a 2018, e que incluem salários, bônus e participação nos lucros, o maior salário é do presidente do Itaú, que recebe R$ 46,8 milhões anuais, o equivalente a US$ 12,2 milhões. É muito menos do que Elon Musk, o campeão de remuneração nos Estados Unidos, com seus US$ 2,28 bilhões anuais.


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