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Estado de Minas CARNAVAL BH

Apesar do sucesso de público, carnaval de BH luta por mais patrocinadores

Grandes blocos da festa de Momo em BH lutam para financiar os desfiles, diante do aumento de foliões muito superior à oferta de verbas para equacionar as despesas


postado em 26/02/2019 06:00 / atualizado em 26/02/2019 13:02

O Baianas Ozadas buscou investimento privado para pagar despesas que alcançam cerca de R$ 200 mil (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press 6/1/19)
O Baianas Ozadas buscou investimento privado para pagar despesas que alcançam cerca de R$ 200 mil (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press 6/1/19)

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De festa de abnegados no início da década a evento com expectativa de atrair 4,8 milhões de pessoas neste ano, o carnaval de Belo Horizonte multiplicou de tamanho em velocidade muito superior à capacidade dos blocos de atrair investimentos para equacionar as contas da festa. Colocar o bloco na rua continua sendo uma luta hercúlea dos organizadores, que, antes de esquentar os tamborins, precisam lidar com planilhas, documentação, alvarás e outras burocracias.

Uma das principais agremiações da cidade, o Baianas Ozadas utilizava recursos próprios até 2016, provenientes de venda de camisas e shows. Desde 2017, com o número de foliões aumentando a cada ano, o bloco passou a contar com patrocínio privado, além de recurso de edital da Prefeitura de BH – que, este ano, foi de R$ 10 mil. Segundo a produtora Pollyana Paixão, o custo total para o bloco sair na segunda-feira de carnaval (4 de março) pelas ruas do Centro da capital é de cerca de R$ 200 mil.

Só o aluguel do trio elétrico custa cerca de R$ 35 mil, de acordo com a produtora. “Quem faz o carnaval são os blocos. Atraímos turistas, movimentamos a cidade. E o custo é cada vez maior. Antes ensaiávamos no nosso tempo livre, o caminhão de som era só para a voz. Agora multiplicou de tamanho. Por isso, os blocos devem agir como players”, afirma.

Ainda que diante de mídia espontânea e milhares de foliões, Polly afirma que o financiamento é difícil. Para o carnaval deste ano, o Baianas Ozadas tentou e não conseguiu o dinheiro suficiente para trazer a BH o Olodum, expoente da cultura afro do carnaval baiano “Estávamos fechados, eles estavam dispostos, mas não conseguimos angariar fundos”, conta.

Só para operacionalizar custo alto de saída às ruas, o tradicional Bloco da Calixto necessita de R$ 80 mil (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 10/2/18)
Só para operacionalizar custo alto de saída às ruas, o tradicional Bloco da Calixto necessita de R$ 80 mil (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press - 10/2/18)

À frente do Bloco da Calixto – que em 2019 traz a temática “nas estrelas” para a folia, da qual participa desde 2014 –, a cantora e compositora Aline Calixto explica que o carnaval de BH foi se firmando como atração cultural e, em paralelo, o evento encareceu. Com mais pessoas na festa, argumenta, estruturas maiores e mais gastos são necessários para que todo o público seja contemplado de forma satisfatória.

Apesar disso, pela primeira vez desde o ano passado, o bloco liderado por Calixto não contará com apoio da Belotur e arrecada recursos, principalmente, da iniciativa privada. A artista ressalta a importância do setor privado para a folia e diz que parcerias são bem-vindas. “Os custos são altos e só a parte da operação do bloco custa da ordem de R$ 80 mil. Precisamos arrecadar recursos para levar uma festa à altura do público”, explica.

Superlativo Na festa deste ano, 590 blocos se cadastraram na Empresa Municipal de Turismo (Belotur), com 700 desfiles programados. A Belotur vai gastar em torno de R$ 14,5 milhões, segundo o diretor de eventos, Gilberto Castro. Desse valor, R$ 12,5 milhões serão aportados pela iniciativa privada, por meio de edital vencido por uma agência que pode ativar até seis marcas de contrapartida. Os outros R$ 2 milhões sairão de um fundo de orçamento do carnaval.

Utilizando-se de edital de subvenção, a Belotur distribuiu R$ 564 mil para 84 blocos, divididos em quatro categorias, com valores variando de R$ 3 mil a R$ 10 mil, para apoiar a produção e operação dos desfiles. “Conseguimos contemplar, assim, blocos de vários tamanhos e formatos, que são importantes para as comunidades, até os maiores”, conta Gilberto Castro.

Falta dinheiro e sobra disputa


“Esse é um ano atípico”, afirma Lelo Lobão, fundador, vocalista e contrabaixista do Bloco Baianeiros, que desde o ano passado participa do carnaval belo-horizontino. Segundo ele, além do crescimento da folia na capital mineira, vários elementos políticos e econômicos contribuem para que os custos de produção dos cortejos tenham aumentado em 2019.

O artista também relata ter ouvido de vários outros blocos que há um menor apoio da iniciativa privada, neste ano, em comparação com outros carnavais. “Há uma mudança no comando político federal, que de uma forma ou de outra, acaba fazendo com que empresas demorem a definir e tomem cuidado maior com certos tipos de investimento”, afirma Lobão.

Além disso, ele acredita que a Belotur não tem estrutura para suportar a festa na qual o carnaval de Belo Horizonte se tornou. “Ela está muito sobrecarregada para segurar sozinha essa grandeza. O carnaval não é mais de Belo Horizonte, mas de Minas Gerais e espero que o governo do estado enxergue esse potencial”, argumenta.

O Bloco Baianeiros, de acordo com Lobão, tem gastos em dobro se comparados aos de alguns outros cortejos da capital, uma vez que o desfile ocorre em dois dias. Os gastos totais chegam a R$ 200 mil.
No entanto, nem só de grandes multidões, estruturas faraônicas e custos elevados vive o carnaval belo-horizontino. Blocos de pequeno e médio porte também agitam a folia na capital e abrigam públicos distintos, que vão de os fãs de jazz a moradores de bairros distantes do Centro. Exemplo disso é o Bloco Magnólia, que desde 2014 agita o Bairro Caiçara, na Região Noroeste de BH. O cortejo, que pretende levar 20 mil pessoas às ruas, custa em torno de R$ 30 mil, revela o coordenador e fundador do bloco, Flávio Maia.

Apesar de ter tentado participar do edital aberto pela Belotur no ano passado, o bloco não conseguiu a verba de R$ 10 mil que foi ofertada. Com isso, e sem muitos patrocínios certos, o Magnólia busca parceiros. “Queremos colocar o bloco na rua, temos um parceiro, mas ainda não arrecadamos o suficiente. Estamos buscando empresas que possam nos apoiar”, explica Flávio.

‘Invisível’ Financiamento também é a principal dificuldade do bloco afro Afoxé Bandarerê. “A gente nunca colocou na ponta do lápis, mas para o trio, vestir o corpo de baile, a charanga, o custo deve girar em torno de R$ 50 mil”, conta Agnaldo Muller, um dos coordenadores da agremiação, que sairá nas ruas do Concórdia no domingo de carnaval, a partir das 13h, com concentração na Praça México. “Em 2013, nossa estrutura era mínima, nosso carro de som era um Uno. Hoje crescemos, mas não conseguimos chegar aos patrocínios privados, pois há toda uma questão da invisibilidade da cultura negra, temos uma cultura verdadeira.”

 

(*) Estagiário sob a supervisão da subeditora Marta Vieira


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