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Estado de Minas

Consumidor de Belo Horizonte é o que menos se endivida

Belo-horizontino tem menos compromissos financeiros assumidos no país, com percentual de 14,4% nessa condição em setembro, menos da metade da taxa de um ano atrás


postado em 15/10/2017 06:00 / atualizado em 15/10/2017 07:44

Com os filhos Walker, Alice (E) e Aline (D), Adriana pode curtir passeios, depois de ter cortado gastos e ajustado o orçamento (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )
Com os filhos Walker, Alice (E) e Aline (D), Adriana pode curtir passeios, depois de ter cortado gastos e ajustado o orçamento (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press )

Famílias de Belo Horizonte estão menos endividadas em relação aos últimos dois anos e são também as que tem menos dívidas no Brasil. A sequência de títulos, no entanto, está longe de significar que elas estejam com dinheiro no bolso. Economistas apontam que o orçamento curto e a retração no consumo podem ser exatamente as causas de as famílias não firmarem compromissos financeiros. Os números sugerem que, perto do fim do ano, melhor período para o comércio, o consumidor dá indicativos de que ainda está cauteloso em relação às compras.

Entre todas as capitais do país, BH é a que sustenta o menor percentual de famílias endividadas, com 24% delas nessa situação. O dado é da 7º Radiografia do Crédito e do Endividamento das Famílias Brasileiras feitas pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), que analisou informações do Banco Central, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), no período entre 2014 e 2016.

A Fecomércio-MG mostra que esse comportamento conservador tem se mantido. A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) revela que as famílias belo-horizontinas comprometeram menos a renda com o financiamento de imóveis, carros, empréstimos, cartões de crédito, cheques pré-datados. O percentual de endividados em BH passou de 15,4%, em agosto, para 14,4%, em setembro, segundo menor patamar nos últimos dois anos. Em setembro do ano passado, esse índice estava em 32,9%.

“A queda de um ponto percentual no endividamento se deve a um comportamento de cautela familiar. Isso significa o consumo menor”, afirma o coordenador do Departamento de Economia da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida. A partir desses dados, a conclusão é de que a recuperação da economia brasileira virá devagar. “A economia vai se recuperar de forma mais lenta. Em períodos anteriores foi mais rápida, porque se deu com base no crédito, que ainda está bastante restrito”, afirma Almeida.

NOVOS HÁBITOS A chegada da crise econômica no país representou mudança de hábitos na casa da técnica de enfermagem Adriana Eustáquio, de 46 anos. Ela tem cinco filhos, sendo três ainda crianças, Walker, de 12, Aline, de 10, e Alice, de 9. Sem reajuste salarial e com a inflação alta, Adriana e o marido precisaram pôr as contas na ponta do lápis. “Cortamos o cartão de crédito, diminuímos os pontos de TV por assinatura em casa, diminuímos a frequência de almoços fora de casa, restringimos os presentes no Natal”, afirma. Com as adequações, a família conseguiu pagar as dívidas em atraso e agora já ganhou uma folga para passear no feriado do Dia das Crianças.

Com medo de fazer compromissos financeiros em meio a um cenário econômico indefinido, o casal de médicos Rafael Ferreira, de 31, e Maria Isabel Carvalho, de 33, optou por não contratar financiamentos e outras dívidas, mas priorizar sempre pagamentos à vista. “Deixamos de comprar um apartamento, porque não sabemos como vai ficar a situação. Preferimos guardar o dinheiro. Não temos nada, mas, pelo menos, também não temos dívida”, conta Rafael, enquanto passeia com a mulher e a pequena Alice, de 8 meses.

É importante marcar a diferença entre endividamento e inadimplência. Toda família que contrai dívidas é endividada, enquanto todas aquelas que não quitam esse compromisso são inadimplentes. A boa notícia é que a inadimplência está sob controle, segundo a Fecomércio-MG. De agosto para setembro, a variação foi de apenas 0,1 ponto percentual, passando de 4,6%, em agosto, para 4,7%, no mês passado.

DE MOLHO


Percentual de famílias endividadas, em 2016, nas capitais que mais se destacaram na pesquisa da Fecomércio/SP
Curitiba/PR    87%
Florianópolis/SC    86%
Boa Vista/RR    83%
Brasília/DF    78%
Natal/RN    75%
BH/MG    24%
Giânia/GO    27%
Belém/PA    42%

Calote ronda 34% dos inadimplentes


Quando o assunto é dívida, o cartão de crédito continua sendo o calcanhar de aquiles do consumidor. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG), em setembro, 87,5% dos compromissos financeiros estavam atrelados ao chamado dinheiro de plástico. O financiamento de imóveis correspondia a 7,5% das dívidas, cheque especial, 6,6%; e crédito pessoal, 6,4%.

Embora as famílias belo-horizontinas estejam menos endividadas, no caso dos servidores públicos Beatriz, de 34 anos, e Rodrigo Filardi, 32, mesmo com crise não houve outra opção a não ser gastar. Eles se casaram em 2015, planejaram uma reforma no apartamento e, ao mesmo tempo, se depararam com uma doce surpresa: Beatriz ficou grávida de Valentina, atualmente com 6 meses.

“A gente precisou comprar móveis e outro carro, pois um só em casa já não teria jeito. Com a reforma e o carro, temos dívidas para pagar pelos próximos três anos”, conta Beatriz. A família tinha uma reserva e Beatriz, administradora, aplicou os ensinamentos de sua formação dentro de casa, o que evitou com que ficassem no vermelho. “Passamos a sair menos e a fazer mais encontros em casa, porque fica mais barato”, conta Beatriz. Diferentemente da família de Beatriz, a inadimplência é a realidade de 32,7% das famílias endividadas.

Quase um terço delas não conseguiu honrar seus compromissos e está com dívidas em atraso. Desse universo, 34,2% acreditam que não terão condições de quitar os débitos no mês seguinte. A maior parte (38,4%) está com pagamento atrasado há mais de 90 dias. A dívida foi contraída com dois objetivos: aproveitar as boas oportunidades da vida e sair do sufoco. “Quando o consumidor sai dos trilhos, é preciso rever seus hábitos de consumos e suas receitas. Procurar bancos e financeiras para renegociar dívidas”, afirma o professor de finanças do Centro Universitário Unihorizontes, Paulo Vieira.

O economista afirma que, daqui para frente, qualquer análise mais aprofundada sobre comportamento do consumidor pode ser enviesada. “No fim do ano, as pessoas tendem a consumir mais, o que acaba embaçando uma análise mais profunda”, reforça.

MUITA CAUTELA
Estudo da Fecomércio-MG intitulado Intenção de Consumo das Famílias (ICF) aponta que, pelo menos em setembro, o consumidor ficou muito cauteloso em relação às compras. Mais da metade dos entrevistados (52,1%) afirmaram que a família está comprando menos em comparação com o ano passado, e 57,4% pretendem reduzir os gastos nos próximos meses.

No entanto, o comércio trabalha com expectativa positiva. “O comerciante tem uma visão mais otimista porque de outubro a dezembro são meses que abarcam datas de peso para o varejo como Dia das Crianças, Black Friday e Natal”, afirma o coordenador do Departamento de Economia da Fecomércio-MG, Guilherme Almeida.

Ranking do sufoco

Distribuição das dívidas das famílias de Belo Horizonte por modalidade
Cartão de crédito    87,5%
Cheque especial    6,6%
Cheque pré-datado    3,9%
Crédito consignado    0,3%
Crédito pessoal    6,4%
Carnês    1,9%
Financiamento de carro    6,3%
Financiamento de casa    7,5%
Não sabe/não respondeu    0,5%

Fonte: Fecomércio/MG


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