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Estado de Minas

Canteiro de obras de Confins contrasta com o cemitério da Pampulha

Enquanto aeroporto da RMBH conclui expansão de R$ 870 milhões para dobrar a capacidade, terminal da Pampulha estampa ares de cidade fantasma, com operações de apenas duas empresas aéreas


postado em 26/06/2016 06:00 / atualizado em 26/06/2016 08:02

Investimentos no terminal 2 do aeroporto internacional permitirão atender 22 milhões de passageiros ao ano, o dobro do estimado para 2016(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Investimentos no terminal 2 do aeroporto internacional permitirão atender 22 milhões de passageiros ao ano, o dobro do estimado para 2016 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)

Os dois aeroportos de Belo Horizonte vivem realidades avessas. Enquanto as obras para ampliação de Confins (Aeroporto Internacional Tancredo Neves) decolam, e, até dezembro, vão permitir dobrar a capacidade de operação, o terminal de Pampulha (Aeroporto Carlos Drummond de Andrade) opera subutilizado, vazio, com pouquíssimos voos e em nada lembra o movimento do passado, quando recebia grandes aeronaves, como os boeing 737 e 727, e abrigava as maiores companhias aéreas do país.


A pleno vapor, as obras do terminal 2 de Confins terminam em dezembro, ampliando de nove para 26 as pontes de embarque do aeroporto, que servirão a 22 milhões de passageiros ao ano. O ciclo de investimentos iniciado em 2014 é da ordem de R$ 870 milhões. Na Pampulha, a realidade está longe do céu de brigadeiro. Às 17h30 da última quarta-feira, a companhia Flyways avisou sobre o cancelamento de voo que chegaria de Ipatinga, no Vale do Aço. Sozinhos no terminal, os poucos funcionários e prestadores de serviços conversavam entre si, o que não é suficiente para quebrar o silêncio e o vazio da sala de embarque.

“Cemitério à noite, escola em dia de férias e bar fechando têm mais movimento que esse aeroporto. Ai de mim se dependesse só daqui para viver, e não vendesse pão de queijo durante o dia”, suspira o carregador de malas Amaral Andrade, há 15 anos trabalhando nos arredores do terminal. “Fim de linha. Vai fechar até o fim do ano”, lamentam alguns taxistas que na falta de clientes passam o tempo fazendo projeções para o futuro no terminal. “Vai melhorar, novos voos vão chegar depois das olimpíadas”, é a esperança de um comerciante.


Ao mesmo tempo, 1,1 mil trabalhadores garantem o cronograma das obras de Confins no prazo e quem vai ao aeroporto percebe constantes mudanças, novas lojas, salas de embarque, reformas dos velhos banheiros, maior área para circulação. O panorama não é parecido na Pampulha. Longe dos 3 milhões de passageiros de 2002, no ano passado o movimento despencou 24,6% frente ao ano anterior, alcançando 712,5 mil passageiros. Neste ano, de janeiro a maio, não passou de 157,8 mil.

Na antiga base da Pampulha, fluxo de viajantes diminui 25% frente a 2015 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
Na antiga base da Pampulha, fluxo de viajantes diminui 25% frente a 2015 (foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)


Depois da saída da companhia Azul, o cenário piorou, o fraco movimento de passageiros minguou 60%. Na época da retirada, a companhia apontou o cenário econômico como justificativa. Há 15 dias sem ponto de venda para comprar café ou água, passageiros que desciam no terminal de Pampulha tinham que se contentar com os bebedouros. Diante da baixíssima demanda, todo o comércio fechou.

Aposta


Há uma semana Bruno Lourenço, de 30 anos, como ele mesmo conta, decidiu se lançar em uma aventura e abrir a única cafeteria do terminal da Pampulha. Além dele, uma solitária máquina de autoatendimento vende rosas a partir de R$ 9,99. Bruno mantém a esperança de que o aeroporto vá retomar. Seu Aero Coffee é um dos últimos sinais de vida no terminal, onde operam apenas duas companhias para voos regionais, Flyways e Passaredo. “Esperamos que as obras de drenagem sejam feitas pelo poder público. Quando chove a entrada do aeroporto fica toda alagada, molhando os eletrodomésticos”, comenta.

Já em Confins, apesar da crise, que provocou redução de 20% das vendas em lojas do terminal, e leva o consumidor a pechinchar mais, Gabriel Queiróz, gerente da Arte Minas, instalada no Terminal1, projeta crescimento de 18% nas férias. “Julho é o melhor mês para nós.” Segundo ele, as obras trazem transtorno da poeira e do barulho, mas devem melhorar o fluxo de passageiros e os negócios. A família de Gabriel tem quatro pontos comerciais no aeroporto e a Arte Minas vai compor um espaço dedicado aos produtos mineiros.


No aeroporto da Pampulha, Bruno Lourenço, enfrenta a baixa demanda interna e tenta atrair o público trabalhador do entorno. “Quando há cancelamentos de voos, como ocorreu essa semana, o movimento aqui piora demais”, lamenta. No momento, a maior aeronave a operar no terminal é o ATR-72, com capacidade máxima para 72 passageiros.


Em Confins, o diretor-presidente da concessionária BH-Airport, Paulo Rangel, diz que a despeito da crise que reduziu o número de voos dos brasileiros, o aeroporto quer aumentar o volume de decolagens e fazer a receita girar. “A creditamos no crescimento da demanda e por isso fazemos um investimento tão alto.”

 

Destino incerto para decolagens

 

A Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) informa que no momento não há pedidos para novas operações no aeroporto da Pampulha. Em nota, a empresa comentou que alterações, inclusões e cancelamentos de voos são parte da política estratégica de cada empresa aérea. Questionada sobre o futuro de Pampulha, a Infraero respondeu apenas: “O Aeroporto da Pampulha é importante terminal da aviação geral, tendo registrado, até maio de 2016, 16.625 pousos e decolagens dessa modalidade.”


À reportagem do Estado de Minas, a companhia Azul respondeu, sobre seu interesse em voltar a operar linhas no terminal da Pampulha, que sempre estuda a possibilidade de retomada de rotas em aeroportos onde já operou. No entanto, para este ano, diz não haver previsão de retomar atividades no aeroporto. A Latam Airlines (TAM) informou neste momento não prevê voos pelo terminal da Pampulha. A Gol disse, em nota, que no passado solicitou autorização para operar voos regulares na Pampulha, porém o aeroporto não está homologado para realizar pousos e decolagens de aviões a jato. A companhia mantém a intenção de operar no aeroporto, embora a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) tenha informado que, no momento, não há nenhum pedido em análise para operação de jatos no terminal da Pampulha.


Enquanto o destino do aeroporto não se resolve, Amaral Andrade, que há 15 anos trabalha nos arredores do terminal como ajudante de taxistas e carregador de malas, revela o seu desânimo. Ele diz que, neste ano, seus rendimentos caíram 70% e calcula que nos últimos dois anos mais de 100 pessoas deixaram de trabalhar no terminal. “Não tem movimento no aeroporto. Acabou.”


Trabalhando como taxista há 40 anos, Antônio Bragança, de 63, conheceu a boa fase do terminal da Pampulha. “Agora, esse terminal vive de algumas maresias”, diz ele, referindo-se a movimentos isolados, empurrados por voos fretados e aviação executiva. Do outro lado da cidade, no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, 6 mil trabalhadores integram a força motora das operações aeroportuárias, o que inclui desde o pessoal das companhias aéreas aos empregados das empresas prestadoras de serviços de alimentação, contingente que corresponde à população de um pequeno município, como Confins.

 


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