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Estado de Minas

Banco Central admite inflação alta e PIB baixo

Relatório da autoridade monetária projeta para este ano queda de 0,5% na atividade econômica 'o pior resultado desde 1992' e IPCA de 7,9%, acima do teto da meta do governo


postado em 27/03/2015 00:12 / atualizado em 27/03/2015 07:33

Este ano já era: o Brasil está entregue à estagflação (inflação alta sem crescimento econômico). O máximo que o Banco Central (BC) espera salvar é 2016, como mostra o Relatório de Inflação divulgado ontem. Para 2015, a expectativa é de queda de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), o que seria o pior resultado desde 1992. Os analistas ouvidos pelo próprio BC no Boletim Focus já contam com um recuo ainda maior, de 0,83%, o desempenho mais pífio em 25 anos. No ano passado, a redução do PIB esperada pelo BC terá sido de 0,1%, de acordo com a nova previsão. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje esse número.


“Sabemos que a situação de 2015 é de transição. O ajuste que está sendo feito é padrão, importante, relevante e necessário. O objetivo é fortalecer os fundamentos da economia e nos prepararmos para um novo ciclo de crescimento sustentável”, disse ontem o diretor de Política Econômica do BC, Luiz Awazu, em consonância com o discurso do presidente da instituição, Alexandre Tombini, no dia anterior.

A publicação do BC traz uma inequívoca piora de expectativas para crescimento, inflação e emprego. No relatório publicado no trimestre anterior, a projeção de 2014 era de leve alta no PIB do ano, de 0,2%. Aliado à previsão negativa para 2015, o Brasil terá um biênio de recessão econômica. No detalhamento do indicador, a expectativa é de que a indústria desabe mais, com retração de 2,3%, e os investimentos recuem expressivos 6%. “O BC continuará a se surpreender negativamente com a evolução da atividade econômica nos próximos meses”, disse o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn.

Na área de preços, a situação também é de deterioração. A inflação será de 7,9% em 2015, estima o BC, bem acima do teto da meta, de 6,5%, estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). A previsão anterior era de 6,1%. Para 2016, houve ligeira queda na projeção: de 5% na versão anterior para 4,9% na atual. A autoridade monetária espera que o choque de preços se concentre neste ano.

Mais arrocho O mercado vê no relatório reforços dos sinais sobre o aperto monetário. Ontem, Awazu, afirmou que “a política monetária está e continuará vigilante para assegurar a convergência da inflação à meta de 4,5% ao longo de 2016”. O diretor procurou deixar claro, no entanto, que embora exista um consenso sobre condições mais favoráveis para a inflação medida em 2016, “isso não é suficiente”.

Para o diretor, a elevação de preços deste ano, principalmente no primeiro trimestre, é decorrente do alinhamento de itens como energia elétrica e combustíveis, aos demais. “O Banco Central tem dito que é preciso estar vigilante, porque a inflação em 2015 está alta e fortemente impactada pelos ajustes de preços administrados e externos”, afirmou Awazu.

A expectativa é de que seja possível “trabalhar para circunscrever e impedir a transmissão para os próximos anos”, segundo o diretor. “Temos dito isso para evitar a transmissão desses efeitos. Ou seja, queremos, por meio da vigilância da política monetária, que esses choques não se transfiram para o horizonte”, insistiu.

A projeção da autoridade monetária é de que o dólar fique em R$ 3,15, o que nem todo mundo no mercado acredita. As cinco instituições financeiras que mais acertam as projeções no relatório Focus, compilado pelo BC com base em consultas a analistas toda semana, a moeda norte-americana encerrará o ano cotada a R$ 3,25. Mas Awazu não acha que isso levará a inflação a um patamar ainda mais alto do que os 7,9%. “O dólar tem um papel de transmissão do repasse, estamos analisando. O histórico passado não é um bom indicador para medir esse repasse nas condições atuais”.

Argumentos e alta dos juros
Ele discordou também da ideia de que a queda de 0,5% seja otimista e destacou que a redução de investimentos da Petrobras foi incluída no modelo do Banco Central. “(A operação Lava-jato) impacta obviamente no investimento, há efeitos no investimento da cadeia produtiva”, reconheceu. Além disso, o diretor rebateu críticas de que o BC não fez o suficiente para conter a inflação nos últimos anos. “Nossa atuação foi tempestiva, tecnicamente independente.”

Concentrada em transmitir a mensagem de que evitará um prolongamento do atual processo inflacionário, a autoridade monetária se agarra a argumentos como o de que a queda do preço de commodities freará o repasse da alta do dólar ao custo de vida.

O mercado financeiro interpretou o relatório de inflação como sinal de que o ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) deve continuar, ainda que esteja próximo do fim. Os analistas estão bastante divididos, mas prevalece o entendimento de que os aumentos terminem na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para o fim de abril, como apostam os dois maiores bancos privados do país. Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano.

Os argumentos do BC, na avaliação do economista-chefe do banco Bradesco, Octavio de Barros, incluindo as baixas preocupações em relação ao repasse do câmbio, sugerem que o ciclo de alta dos juros deve perder força. Ele aposta em aumento de 0,25 ponto percentual no próximo encontro dos diretores da autoridade monetária. “Não acreditamos que haverá espaço para aumentar a taxa de juros na reunião de junho. Até lá, teremos evidências adicionais da deterioração da atividade e do mercado de trabalho”, justificou.

Desemprego aumento
O mercado de trabalho continua a ruir. Em fevereiro, a taxa de desemprego apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) subiu para 5,9% – aumento de 0,6 ponto percentual em relação a janeiro. Esse é o segundo avanço consecutivo e o maior resultado mensal desde junho de 2013, quando o indicador cravou 6%. Em dois meses, a desocupação subiu 1,6 ponto percentual, o nível mais elevado desde fevereiro de 2009, o auge da crise mundial.


Entre as regiões metropolitanas estudadas pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), a taxa de desemprego em Belo Horizonte passou de 4,1%em janeiro para 4,9% em fevereiro. A taxa está um ponto percentual da registrada no mesmo mês de 2014. O IBGE, contudo, minimaliza os resultados negativos para o mês. “É comum a ascensão do desemprego entre janeiro e fevereiro depois de uma queda da desocupação em dezembro”, afirmou a Flávia Vinhaes, economista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do órgão.

O aumento da procura por um posto de trabalho é apontado como um dos fatores para o crescimento do desemprego. A população desocupada, composta pelas pessoas sem trabalhar, mas à procura de uma oportunidade cresceu 10,2% em fevereiro em relação a janeiro, e 14,11% frente a fevereiro de 2014, chegando a 1,4 milhão de brasileiros.

Em contrapartida, a população ocupada teve queda de 1% ante janeiro e de 0,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior, atingindo 22,8. milhões. “São números que chamam a atenção. Não sabemos o que vai acontecer nos próximos meses, mas é possível que esse cenário ceda”, avaliou Flávia.

Contudo, para especialistas, a tendência é que o desemprego mantenha o ritmo de crescimento ao longo do ano devido ao desaquecimento econômico. Carlos Alberto Ramos, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a taxa de desemprego média em 2015 pode chegar a 7%, o que seria o maior resultado anual desde 2009.

A menor geração de postos de trabalho e o aumento do número de pessoas em busca de emprego acabou com o ciclo de alta do rendimento médio real da população empregada. Descontada a inflação, o indicador apresentou recuo de 1,4% em relação a janeiro, e queda de 0,5% na comparação com fevereiro do ano anterior, desabando para R$ 2.163,20.


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