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Estado de Minas ENTREVISTA

Planejamento é a arma contra crise, garante Fuad Noman Filho

Em entrevista ao Estado de Minas, o economista defende luz própria para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conduzir medidas de controle fiscal, combate à inflação e corte severo de gastos públicos


postado em 22/02/2015 00:12 / atualizado em 22/02/2015 07:33

Com a larga experiência que adquiriu na gestão pública em Minas Gerais e Brasília, o economista Fuad Jorge Noman Filho retomou o trabalho como consultor de empresas, convicto de que, mesmo no cenário de indefinições na economia brasileira, apertos monetário e fiscal, um planejamento bem estruturado pode abrir oportunidades de investimentos e garantir caixa equilibrado para o setor privado. Ex-secretário de Fazenda e Transportes e Obras Públicas do governo Aécio Neves, ele ocupou a presidência e diretorias da Cemig no governo Antonio Anastasia, depois de ter atuado nos ministérios da Casa Civil e da Fazenda. Desde dezembro, Fuad Noman dedica todo o seu tempo à consultoria, especialmente para médias e grandes empresas, governos e entidades de empresários, no comando da EconPrev Consultoria, criada há 10 anos. Acostumado ao ambiente de pressão nas decisões que envolvem receitas e despesas, Noman Filho considera a incerteza decorrente de uma crise de confiança no país o maior desafio para o empreendedor manter-se na atividade e continuar investindo. “Em economia, não há o certo e o errado. O que existe é planejamento. Quanto maior for a crise, mais cuidados ela exige, mas não quer dizer que se deva fechar a fábrica e ir embora para casa”, afirma. Nesta entrevista, ele defende luz própria para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conduzir medidas de controle fiscal, combate à inflação e corte severo de gastos públicos.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, admitiu que a economia brasileira pode ter fechado 2014 em queda e reconheceu desafios em 2015. Como o senhor avalia a situação brasileira, do ponto de vista do dia a dia nas empresas?
Vivemos, sem dúvida, uma crise de confiança. A população já acredita que a inflação e o desemprego crescerão e a atividade econômica vá diminuir. Enfrentamos denúncias de corrupção (nos contratos da Petrobras), que envolvem um conjunto de empresas da iniciativa privada geradoras de emprego e de renda no país. Há também a crise de insumos (água e energia) e o mercado internacional olha para o Brasil com desconfiança. Neste momento, é hora de as empresas fazerem uma grande reflexão. Elas podem começar a ter problemas de fluxo de caixa ou passivos que precisam ser reorganizados. Ou seja, é preciso rever a produção e as vendas, verificar se a capacidade de pagamento está adequada ou se aquela organização corre o risco de ter dificuldades no curto prazo. A área de compliance está hoje preparada para enfrentar os desafios de uma legislação anticorrupção forte? As responsabilidades dos administradores são seríssimas pela legislação. Essas são as grandes perguntas que toda empresa tem de fazer hoje.

A questão fiscal também desafia não só as contas públicas. Como as empresas devem se orientar neste sentido?
De fato, é um problema que faz parte das preocupações do setor privado, hoje. Existe um cenário de ameaças na economia. A previsão é de que o país vá ficar muito próximo de uma estagnação e a inflação está batendo na porta fortemente. Ficar parado, esperando o que vai acontecer, é o pior remédio. A empresa tem de se antecipar. Se existe o risco de determinada venda não ocorrer, é preciso produzir menos ou então ela pode estar numa situação confortável, com o fluxo de caixa ajustado. Precisa conhecer suas forças e qualidades e as dificuldades para preparar as ações e enfrentar os problemas de 2015. Se tem compromissos com vencimento no curto prazo, talvez vá enfrentar dificuldades de rolar suas dívidas. Como sair desse conflito?

A escolha da equipe econômica foi acertada?

O ministro da Fazenda é um técnico altamente qualificado, isso não se pode questionar, mas ele não tem luz própria. Precisa da luz da presidente e que ela encampe todas as suas ideias e dê projeção a ele. Se isso ocorrer, nós teremos uma grande equipe econômica. Do contrário, corremos o risco de não evoluir. A incerteza é o maior dos nossos males hoje. Temos um grande profissional na área da economia. No entanto, temos dúvidas de que ele consiga implementar as medidas necessárias. O histórico da presidente é de delegar pouco e, nisso, a situação do ministro da Fazenda não é boa. Precisamos tomar medidas sérias de controle fiscal, combate à inflação e de corte severo de gastos públicos. A expectativa está criada.

Alguns analistas de bancos e corretoras têm traçado um cenário carregado de nuvens para os investimentos. À frente da EconPrev, o que o sr. tem aconselhando aos clientes?
A decisão de investir é extremamente delicada. Quanto mais incerteza, mais difícil decidir sobre um projeto de investimento, mas, em muitos casos, a decisão surge na oportunidade. Às vezes, quando todo o mercado desacredita e aquela empresa vislumbra uma perspectiva boa. Dizer, simplesmente, que o mercado está ruim e que não é hora de investir não é regra. A prudência manda que, quando o cenário é desfavorável, a empresa reestude com muito mais cuidado as suas opções de investimento. Não acho que a empresa tenha de parar de investir. Em economia, não há o certo e o errado, o que existe é planejamento. Quanto maior for a crise, mais cuidados ela exige, mas não quer dizer que se deva fechar a fábrica e ir embora para casa.

A alta dos juros e as indefinições vão afetar até que ponto as decisões de investimento?
Além da identificação da oportunidade do projeto, de fato, confiança, juros baixos e garantia dos insumos são condições essenciais para nortear os investimentos. A sensação, hoje, é de que a maioria das empresas precisa reduzir ou fazer uma parada estratégica para se reposicionar, e isso deverá afetar os investimentos em 2015. Pode haver uma retomada para o segundo semestre. Primeiro, se o governo cumprir o ajuste que se compromete a fazer e conseguir injetar confiança na economia. Precisamos também contornar os efeitos da crise de energia e água. A probabilidade de uma evolução é pequena porque nada, em economia, acontece de uma hora para outra. Se tivéssemos condição de conversar com o mercado e com as empresas, mostrando uma política consistente de desenvolvimento do país, eliminaríamos boa parte dos problemas. É preciso entender que o governo é o indutor do desenvolvimento e é ele quem tem de gerar confiança.

Com a experiência que o sr. tem na gestão de receitas e despesas, como será o comportamento das empresas e do próprio setor público em relação à busca de crédito?
O que preocupa são os créditos de capital de giro, quando a empresa não consegue rodar o fluxo de caixa com a geração própria de recursos e, então, precisa buscar recursos de curto prazo, que são caros. É preciso ficar muito atento à capacidade de pagamento. Quando a empresa consegue se planejar, ela tem acesso a recursos mais baratos e em prazos mais longos. A situação dos estados e municípios é um pouco diferente porque como eles têm uma receita e compromissos definidos pela lei, sofrem mais nas crises da economia. Quando a atividade econômica cai, afeta a receita, mas não a despesa, que é permanente. Aqui sempre há uma discussão sobre o desequilíbrio fiscal. E o federalismo, no Brasil, ainda está carente de soluções que levem recursos aos estados e municípios. Mesmo assim é possível fazer uma estruturação e redução de gastos que permitam, senão equilibrar o caixa, pelo menos buscar a condição de administrar do orçamento.


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