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Estado de Minas

Governo pretende reter estoque de 13 milhões de sacas de café

Ideia é estimular a melhoria dos preços para o produtor


postado em 10/09/2013 06:00 / atualizado em 10/09/2013 07:39

O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, durante a abertura da Semana do Café:
O ministro da Agricultura, Antônio Andrade, durante a abertura da Semana do Café: "recuperação em curto tempo" (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

O governo quer segurar 13 milhões de sacas de café – praticamente metade da safra mineira do grão – e com isso diminuir a oferta no mercado internacional e estimular a valorização do produto. O plano foi destacado ontem pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, durante a abertura da Semana Internacional do Café e da reunião comemorativa dos 50 anos da Organização Internacional do Café (OIC), no Expominas, em Belo Horizonte.

Segundo ele, os R$ 5,8 bilhões em recursos que já começam a ser liberados para a cafeicultura serão suficientes para essa retenção de estoque. “Esperamos recuperar os preços em curto tempo”, afirmou. Na composição dessa estratégia para a melhoria dos valores pagos aos produtores pelo café estão os três leilões de contratos de opções de venda – marcados para as três próximas sextas-feiras, dias 13, 20 e 27. Nos remates, os cafeicultores prometerão as sacas de 60 quilos pelo preço firmado pelo governo, de R$ 343. Os contratos preveem a definição da entrega em 31 de março de 2014.

Apesar de o “socorro” ser bem-vindo, em Minas – estado responsável por 54,4% da produção nacional da commodity – ele pode ter chegado tarde para muitos cafeicultores, sobretudo para os pequenos. Vale lembrar que a colheita já terminou para a maioria e a cotação média da saca despencou de R$ 400 em 2012 para a média atual de R$ 280. Nesse cenário, muitos já venderam a maior parte da safra para pagar custos com insumos, mão de obra e financiamentos bancários.

Lideranças do agronegócio mineiro e cafeicultores do estado avaliaram que o “socorro” já deveria ter ocorrido. “Quase 70% da safra já foram colhidos. Se (os leilões) saíssem antes, o resultado seria melhor. Por outro lado, é aquela coisa do velho ditado: antes tarde do que nunca”, avaliou Roberto Simões, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas (Faemg). “Poderia ter ocorrido antes. O custo de produção em algumas regiões está acima ou empatado com o preço de mercado”, afirmou Elmiro Nascimento, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do estado, que também é cafeicultor.

Os cafeicultores Joaquim Neto e Alisson Rossi já venderam a maior parte dos grãos colhidos(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Os cafeicultores Joaquim Neto e Alisson Rossi já venderam a maior parte dos grãos colhidos (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
LENTIDÃO Para muitos produtores, sobretudo os pequenos, os leilões deveriam ter sido realizados em março, antes do início da colheita. Essa é opinião de Manoel Joaquim da Costa, fazendeiro em Boa Esperança, no Sul de Minas, que negociou cerca de 70% de sua safra. “O socorro vem tardiamente. Gasto, em média, R$ 380 com cada saca, mas vendi cada uma por aproximadamente R$ 250”, lamentou Manoel, que é presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Boa Esperança, entidade que reúne 3,2 mil fazendeiros, dos quais 95% são de pequeno porte. “A maioria deles já vendeu a safra”.

Joaquim Luiz Neto, cafeicultor em Pedro União, no Sul do estado, também lamenta que os leilões ocorram no fim da colheita: “Das 250 sacas, vendi 130. Oitenta estão comprometidas para pagar o adubo e outros custos. O poder público poderia ter se decidido pelos leilões no primeiro trimestre”. Essa é a mesma opinião de Alisson Bueno Rossi, de Muzambinho, outro município do Sul do estado: “Vendi 50% de minhas 400 sacas. Estou tentando segurar o restante, mas está difícil”.

Da mesma forma opina Gilmar Baltar, fazendeiro em Vila Valério, no interior do Espírito Santo, segundo estado com a maior produção de café do país (24% da safra): “Já vendi mais de 90% de minhas cerca de 3 mil sacas. Precisei quitar o empréstimo no banco, pagar mão de obra”.

Para Manoel da Costa, o socorro veio tarde. A maioria dos cafeicultores já negociou a produção(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Para Manoel da Costa, o socorro veio tarde. A maioria dos cafeicultores já negociou a produção (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Outra das estratégias levantadas ontem para agregar valor ao café foi a atração de indústrias que possam beneficiar o grão em Minas Gerais. O governador Antonio Anastasia destacou: “Esse é nosso grande propósito”. Ele lembra que Minas Gerais e o Brasil são os maiores produtores de café em grão do mundo, e não são os maiores exportadores de café processado. “Ao contrário, quase não exportamos nada”. Em sua opinião, faltou para o Brasil ao longo das últimas décadas um esforço maior combinado entre os governos e a iniciatva privada com esse objetivo. “Com a melhoria da produtividade e o estímulo ao empresariado, nós queremos trazer para cá especialmente essas fábricas que possam processar o café.”

O diretor-executivo da OIC, Robério Silva, afirmou que os desafios do setor são gigantescos diante da crise de preços. E  citou também as negociações para a busca de acordos com as quatro maiores torrefadoras de café do mundo para que as vendas do grão brasileiro beneficiado triplique nos próximos anos. Ele acredita ser importante ter estratégias contra a instabilidade do mercado.

Safra recorde para ano de baixa


O Brasil vai colher 47,54 milhões de sacas de café este ano, e Minas Gerais, 26,1 milhões de sacas, segundo os dados divulgados ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) durante a Semana Internacional do Café. O volume da safra nacional é 6,46% menor do que a produção de 2012 (50,83 milhões de sacas), mas o resultado permite duas leituras. A primeira: trata-se da maior safra nacional para um ano de baixa bienalidade. Vale lembrar que uma das características dessa cultura é ter alta produção num ano e baixa no seguinte. A segunda análise: a diferença entre a alta e a baixa bienalidade vem recuando.

Para ilustrar melhor o recorde da produção num ano de baixa bienalidade, basta recordar que a safra nacional em 2011 somou 43,48 milhões de sacas. A de 2009, 39,47 milhões. O aumento no confronto com 2013 e, conseguentemente a queda na diferança entre a alta e a baixa bienalidade, se devem a um conjunto de fatores, como a mecanização. “Também às inovações tecnológicas, às exigências de mercado, à qualidade do produto e à boa gestão da atividade”, esclareceu Sílvio Porto, diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, acrescentando que “para 2014, a safra não vai ultrapassar a do ano passado”. Um dos motivos é a redução do preço médio da saca de 60 quilos ao longo dos últimos meses.

O balanço divulgado pela Conab revelou ainda que a área plantada soma pouco mais de 2,3 milhões de hectares – recuo de 0,74% em relação à de 2012. A maior área está concentrada em Minas (1,2 milhão de hectares). Esse espaço corresponde a 53,5% da área plantada no país. (PHL)


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