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Estado de Minas

Desembolsos do BNDES à América Latina multiplicam por sete em uma década

Assim como o Brasil, os demais países da América Latina também correm contra o tempo para sanar gargalos em infraestrutura


postado em 09/09/2011 10:24 / atualizado em 09/09/2011 11:04

O BNDES ampliou em mais de sete vezes seus empréstimos à infraestrutura na América Latina nos últimos dez anos, em uma tentativa de aumentar sua liderança regional e garantir exportações, informou à AFP o banco, que enfrenta críticas sobre a sustentabilidade socioambiental dos projetos de grandes empreiteiras brasileiras na região.

O volume emprestado pelo BNDES à América Latina - 80% destinados a infraestrutura e outros 20% a importadores de produtos brasileiros - deverá encerrar o ano sete vezes e meia maior do que o de 2002, de 202 milhões de dólares para 1,5 bilhão de dólares em 2011, metade da carteira externa total que também inclui Estados Unidos, Europa e África.

Assim como o Brasil, os demais países da América Latina também correm contra o tempo para sanar gargalos em infraestrutura, explica Luciene Machado, superintendente de comércio exterior do BNDES, justificando o aumento. "O banco ficou mais conhecido como financiador de grandes projetos de infraestrutura na América Latina por intermédio do que nós

fazemos em prol das exportações brasileiras. Nossos financiamentos são restritos às exportações brasileiras incorporadas a cada um desses projetos", explica a superintendente.

De fato, a condição para a participação do banco nas obras de infraestrutura latino-americanas é o envolvimento de empresas brasileiras na construção ou na exportação de bens e serviços. "A intenção do banco é expandir qualitativamente as posições que essas companhias têm hoje na América Latina", declara Luciene. As companhias envolvidas nos projetos normalmente são as empreiteiras Odebrecht, Camargo Correa, OAS e Queiroz Galvão.

Para Lia Valls Pereira, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), existe um movimento estimulado pelo governo brasileiro de internacionalização das grandes empresas nacionais. "A estratégia é que, com os investimentos, são criados fluxos de comércio" com os países da região, explica. "E é algo que os governos locais querem, porque gera emprego", completa.

O aumento dos desembolsos do BNDES também reflete a intenção do Brasil em ter um papel mais importante no mercado global por meio de sua liderança regional, afirma Guilherme Carvalho, educador da ONG Fase-Amazônia, uma das mais críticas aos critérios do banco na concessão de empréstimos. Segundo ele, a estratégia do Estado brasileiro de fortalecer grandes empresas brasileiras para que atuem como multinacionais regionais têm como objetivo o "monopólio dos mercados latino-americanos e o acesso aos recursos naturais desses países".

"Nós consideramos que esse tipo de estratégia não vai trazer bons resultados para o país", declara Carvalho, apontando os impactos socioambientais de alguns dos projetos financiados pela instituição. "Se a legislação ambiental brasileira já está sendo ignorada nas grandes obras de infraestrutura, em pior situação estão os outros países latino-americanos onde não existem organismos capazes de fazer monitoramento", declara.

Um dos projetos financiados este ano pelo BNDES e que está sendo alvo de críticas é a estrada de 300 km em construção pela empreiteira brasileira OAS na Bolívia, que deverá atravessar o Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS). O projeto de 415 milhões de dólares é alvo de manifestações de indígenas, que promovem uma marcha de 600 km com destino a La Paz exigindo a suspensão das obras. ONGs brasileiras e internacionais pediram ao BNDES a suspensão do financiamento, considerando que a estrada promoverá a degradação ambiental da reserva indígena.

No entanto, na quarta-feira, o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia, declarou em La Paz, após reunião com o presidente boliviano, Evo Morales, que "não há razão para suspender o financiamento". Polêmicas à parte, é fato que o BNDES vem ganhando espaço frente a outras instituições de fomento na América Latina. Em 2011, o valor de 1,5 bilhão de dólares que o banco pretende desembolsar representa um aumento de 20% em relação a 2010. Já o Banco Mundial (Bird), tradicional credor desses países, encerrou o ano fiscal de 2011 com 2,25 bilhões de dólares destinados à infraestrutura, queda de 28% frente ao período de julho de 2009 a junho de 2010.

Até o fim de 2011, estão previstas participações do banco brasileiro em ao menos quatro hidrelétricas, além de leilões de energia eólica, construções de estradas, e projetos de transporte urbano e siderurgia espalhados por Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guatemala, Nicarágua, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela.


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