
O projeto de transposição, orçado em R$ 5 bilhões, prevê a construção de dois canais. O primeiro, cujo início é próximo a Cabrobó, a 530 quilômetros de Recife, é chamado de Eixo Norte e percorrerá 402 quilômetros até os rios Salgado e Jaguaribe, ambos no Ceará, Apodi, no Rio Grande do Norte, e Piranhas-Açu, que corta a Paraíba e o Rio Grande do Norte. O segundo ramal, o Eixo Leste, cujo início é no município de Floresta (PE), também está em obra para levar parte do leito ao agreste de Pernambuco e da Paraíba. Além de empresas que venceram licitações, alguns trechos também são feitos pelo Exército, como o canal próximo a Cabrobó.
Outro desafio para a revitalização é a poluição do leito. Um exemplo disso ocorre em Propriá (SE), conhecida como a Princesinha do São Francisco. A cidade, que já foi a segunda economia do estado, atrás apenas da capital, Aracaju, ocupa hoje, segundo a prefeitura, a 22ª posição. Para sobreviver, muitos moradores fazem bico lavando carros, motos, ônibus e caminhões às margens do rio. Embora a atividade seja proibida, muitos “flanelinhas” chegam a estacionar os veículos com duas rodas dentro do rio, para onde escorrem sabão e outros produtos químicos usados na limpeza.
Irregularidades
O Tribunal de Contas da União investiga as obras de transposição do São Francisco. Em abril, técnicos do TCU encontraram indícios de fraude, no valor de R$ 29,9 milhões, na execução do contrato de um dos consórcios responsáveis por parte da obra. Desse total, mais de R$ 27 milhões já teriam sido pagos ao consórcio pelo Ministério da Integração Nacional, pasta responsável pelo projeto. A suspeita é a de que o valor – ou boa parte dele – tenha sido repassado para pagar funcionários fantasmas.
O relatório dos técnicos do tribunal sustenta, entre outras coisas, que “há a possibilidade de que os profissionais constantes dos boletins de medição não tenham sido contratados de fato, situação que ensejaria ilícito grave, caso comprovada”. Em nota, o ministério informou que instaurou processo administrativo interno para apurar o caso.
As obras da transposição começaram em 2007, mas ainda dividem opiniões. Para o presidente em exercício da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf), Clementino Coelho, “o empreendimento é ousado e será de grande valia para região do semiárido”. O secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Adriano Chaves Magalhães, por sua vez, defende a revitalização do rio e debate em torno do projeto. “Um projeto dessa magnitude não pode ser realizado sem uma ampla discussão com a sociedade, especialmente com as comunidades que serão afetadas com a transposição”, defende.
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Bom exemplo
Pedras de Maria da Cruz (MG)
Moradores desta cidade do Norte de Minas, a 570 quilômetros de Belo Horizonte, plantaram diversas árvores ao longo do leito do Velho Chico.
