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Estado de Minas MÃOS QUE RESISTEM

Artesanato, pesca e agricultura ainda garantem sustento a famílias ribeirinhas


postado em 31/05/2011 06:00 / atualizado em 31/05/2011 06:53

Fã de aleijadinho, mestre Roque Santeiro já vendeu imagens para europa e ásia. o ex-presidente lula também comprou uma peça(foto: Gladystonb Rodrigues/EM D.A Press)
Fã de aleijadinho, mestre Roque Santeiro já vendeu imagens para europa e ásia. o ex-presidente lula também comprou uma peça (foto: Gladystonb Rodrigues/EM D.A Press)

São Francisco (MG), Pirapora (MG), Barra (BA) e Petrolina (PE) – Três das atividades mais antigas da humanidade resistem ao longo do São Francisco. A agricultura e a pesca garantem a sobrevivência de milhares de ribeirinhos, que oferecem o excedente nos tradicionais mercados municipais das cidades banhadas pelo rio. O artesanato da região, cuja fama ultrapassou as fronteiras do Brasil com as carrancas esculpidas em Petrolina e em Juazeiro, também mostra fôlego e contribui para o crescimento do setor – no país, estima-se que o artesanato movimente R$ 50 bilhões por ano e garanta renda a 8,5 milhões de pessoas.

Os 20 artesãos que ganham a vida na oficina do Mestre Quincas, um dos endereços mais procurados pelos turistas em Petrolina, trabalham em ritmo acelerado durante toda a semana. Eles esculpem imagens sacras, animais e carrancas feitas com grossos troncos de umuarama. “São árvores derrubadas para dar lugar às plantações de uva, manga… Morreram para dar vida à arte”, diz mestre Roque Santeiro, como é conhecido Roque Gomes da Rocha, de 50 anos.

As habilidosas mãos do artista, fã de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, impressionaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comprou uma de suas peças. Roque já enviou imagens para o outro lado do Atlântico e do Pacífico. “Há peças na Itália, na Alemanha, no Japão...”, conta o artesão, enquanto termina uma imagem de São Francisco. Uma de suas carrancas, exposta na entrada da oficina, está à espera de algum cliente disposto a desembolsar R$ 1,3 mil.

O preço, garante o colega Wanilson Soares dos Santos, de 42 e que aprendeu o ofício aos 12, é o que menos importa para o artesão. O prazer de ver o trabalho benfeito é o que alimenta o entusiasmo do grupo. “Há carrancas pequenas, de R$ 5 a R$ 10. Vendo de 300 a 400 unidades por mês. Muitas vão parar nas lojas da cidade, onde os comerciantes as repassam por até R$ 20”, conta. Embora parte da produção seja exportada para vários países, Tânia Machado, diretora da organização não governamental Mãos de Minas, revela que muitos artesãos se negam a vender para o mercado chinês. “Porque eles vão acabar dando um jeito de copiar tudo para exportar para o Brasil”, diz.

A pesca também move a economia de cidades ao longo da Bacia do São Francisco. Em Pirapora, Paulo Sérgio de Souza, de 46, e José Raimundo dos Santos, de 54, passam horas dentro do Opará, como os índios chamam o rio, à caça de dourados. “O maior que peguei tinha 18 quilos. Este deve pesar 15”, conta Paulo, enquanto mostra o peixe. De tão pesado, o dourado precisou ser carregado com a ajuda de um amigo.

Longe dali, em Barra (BA), o vaivém de pescadores e clientes no movimentado mercado, erguido em 1917 e tombado pelo Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia (Ipac), mostra a importância da atividade na economia da região. Em Casa Nova (BA), 10 empresários já criam tilápias em tanques. O preço médio do quilo do peixe varia entre R$ 4 e R$ 5.

Chicos e chicas

O leito também sustenta a agricultura de subsistência. Em São Francisco, moradores da Ilha União plantam, principalmente, feijão, mandioca, abóbora, arroz e milho. Lá, chama atenção uma família inteira de Chicos e Chicas. “Nosso nome é um agradecimento ao rio”, diz Argemiro Francisco, de 64. Perto dele, Valdomiro Francisco, de 50, Josué Francisco, de 28, Manoel Francisco, de 32, Almir Francisco, de 59, José Geraldo Francisco, de 34, Luzia Francisca, de 63, e Antônia Francisca, de 66, também sobrevivem do que colhem.

O grupo negocia o excedente na feira de São Francisco. “Vamos de canoa”, conta dona Antônia, responsável por coar o café enquanto os demais enfrentam o sol forte na lavoura. A viagem à sede do município, rio acima, demora cerca de 30 minutos. Há dias em que a viagem demora pouco mais, pois o barco de madeira precisa parar às margens de outras ilhas para dar carona a algum conhecido. “Uma mão sempre lava a outra”, explica seu Argemiro.

O vaivém das coloridas canoas no Velho Chico reforça a importância da agricultura para os moradores das ilhas. Algumas famílias, como a de dona Altina Franco Cardoso, de 75, navegam por quase duas horas, do distrito de Lajedo à sede da cidade, para negociar parte do pouco que produzem no mercado municipal. “É com a venda de milho, de abóbora e de mandioca que compramos carne de segunda.”

Seu Joaquim Vieira dos Santos, de 50, também aproveita um pedacinho de uma das ilhas para plantar banana. “Minha profissão mesmo é pescador, mas, nas horas vagas, jogo as sementes na terra”, diz, mostrando um cacho de banana-maçã que, segundo ele, pesa 10 quilos. “Só tenho a agradecer ao Velho Chico.”

Navegando
Carrancas, sempre

Petrolina (PE)
Se no passado as carrancas eram colocadas em embarcações com a missão de afugentar os maus espíritos ao longo do Velho Chico, no presente são peças decorativas que garantem bons lucros aos artesãos de Petrolina. O artesanato ajudou a cidade a ganhar fama internacional. Por décadas, marujos recorriam às carrancas para espantar o Caboclo d’Água, ser mítico que, segundo a crença popular, nunca se afasta do leito do São Francisco, de quem é protetor. Uma forma de agradá-lo, ainda segundo a lenda, é jogar fumo na água.


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