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Estado de Minas 'NA LINHA DO MEU LEMBRAR'

Espetáculo sobre o Aglomerado Santa Lúcia estreia em novembro

Criada por artistas da Casa do Beco, peça abordará a história dos primeiros moradores da Comunidade do Aglomerado; temporada de estreia será de graça


25/10/2022 17:49 - atualizado 25/10/2022 18:29

Quatro atores posam para a foto. Todos vestem um macacão laranja de mangas compridas e há dois homens e duas mulheres, todos negros. Uma das mulheres usa uma máscara simulando a 'avó mítica', com rugas e traços envelhecidos
Peça sobre o Aglomerado Santa Lúcia estreia em novembro na Casa do Beco (foto: Gabriela Matos/Divulgação)

A Casa do Beco, Ponto de Cultura desde 2010, celebrará o mês da Consciência Negra e o Dia da Favela (4/11) com a estreia do espetáculo teatral “Na Linha do Meu Lembrar”. O trabalho foi construído com a participação dos quatro elencos artísticos da instituição, e sua proposta é homenagear os saberes ancestrais periféricos dos primeiros moradores da comunidade. Durante a temporada de estreia, que será entre os dias 3 e 6 de novembro, a peça será aberta ao público, com entrada franca e retirada de ingressos pelo Sympla.

O espetáculo foi montado a partir de pesquisas acadêmicas sobre memória, tempo e história das favelas e da cidade de Belo Horizonte, além de entrevistas gravadas em áudio e em vídeo com moradores das comunidades do Morro do Papagaio, da Vila Estrela e da Barragem Santa Lúcia; artistas; agentes culturais; lideranças locais; e antigos presidentes das Associações de Moradores.

O intuito da peça, segundo a produção, é “preservar, por meio das lembranças, o legado daqueles que vieram antes em um espetáculo poético, dinâmico e divertido”, por meio de relações ambivalentes.

O trabalho é realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte (Projeto 0272/2019), sob patrocínio da Minas Gerais Administração e Serviços (MGS), Lei Federal de Incentivo à Cultura (PRONAC 204880) e Instituto Unimed-BH, viabilizado por mais de cinco mil médicos cooperados e colaboradores, bem como pela Equinox Gold.

Pesquisa

A diretora e dramaturga Liliane Alves, mestra em Teoria da Literatura pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais, explica sobre a pesquisa feita para que a construção do espetáculo retratasse bem a identidade da comunidade do Aglomerado Santa Lúcia.

“A complexidade que a peça busca representar exigiu um cuidadoso processo de pesquisa, porque se trata de levar para o palco a identidade de toda uma comunidade que foi sendo construída ao longo de um tempo, na sua interface com o poder público e a história de Belo horizonte”, afirma Liliane, que também conta que buscou conciliar o academicismo com a casualidade de vivências pessoais dos moradores.

“Se por um lado, eu recorri a leituras de cunho filosófico e acadêmico, para debater sobre a memória e seus mecanismos de lembrar e esquecer, por outro, a peça tem como objetivo sensibilizar o público para as poéticas cotidianas que podem ser encontradas na história de vida dessas pessoas que lutaram para ser reconhecidas em seus direitos”, completa.

De acordo com a dramaturga, apesar dos textos acadêmicos e da literatura popular que inspiraram o espetáculo, as histórias recolhidas durante as entrevistas estavam entre os arquivos mais surpreendentes. Há o exemplo de uma líder comunitária que reservava um quarto no quintal de sua casa para abrigar pessoas que chegavam do interior em busca de uma vida melhor na cidade, mas que não tinham onde ficar; ou de mulheres negras da Vila Estrela que se reuniam, durante anos, em um barracão para rezar pela solução dos problemas que enfrentavam na comunidade, e que tiveram a oportunidade de realizar o desejo de ver o local se tornar “uma igreja de verdade” em 2008 a partir de vendas de rifas, bingos e doações empreendidas por elas.

“São histórias de vida muito inspiradoras e que nos impactam, por serem carregadas de luta, coragem e senso de irmandade”, afirma Liliane.

Execução

Fernanda Carvalho, atriz e integrante do Grupo do Beco, conta como foi executar todas as ideias planejadas para o espetáculo, que reunirá no palco os atores, bailarinos e videomakers que compõem os quatro elencos artísticos da Casa do Beco: Cia Movimento do Beco, Cine Beco, Grupo do Beco e Grupo Teatro Entre Elas.

“Durante as primeiras discussões sobre a peça, a gente entendeu que seria muito desafiador estarmos todos juntos em um mesmo espetáculo, porque cada grupo aqui da Casa sempre trabalhou de forma independente, produzindo os seus próprios trabalhos. Mas, depois, a gente entendeu que o fato de a gente se reunir e juntar as nossas experiências era uma situação muito semelhante ao que fez com que a nossa comunidade se mantivesse em pé até hoje”, afirma ela.

A própria temática do espetáculo foi desenvolvida a partir do pensamento conjunto a fim de celebrar os 25 anos da Casa do Beco, completados ainda em 2021. Alguns dos artistas envolvidos tiveram a ideia de honrar a trajetória de luta dos primeiros moradores e de lideranças comunitárias locais como forma de homenagear o trabalho de fomento artístico, cultural e de desenvolvimento humano que a Casa do Beco tem desenvolvido dentro e fora do Aglomerado Santa Lúcia ao longo dos anos.

Na prática, alguns dos elementos aos quais Liliane Alves recorreu foram o teatro de sombras, a projeção de imagens em vídeo, a criação de um figurino exclusivo e a pintura de dois estandartes que reproduzem a paisagem da favela em dois momentos históricos distintos. O artista plástico Valentinopelé, morador da Barragem, foi convidado para criar uma arte para um dos estandartes especialmente para o espetáculo, batizando-o com o nome da peça, além de reproduzir uma obra do artista José Agostinho Lucas, conhecido como Coelho Pintor, falecido ainda nos anos 1990.

Uma máscara também foi confeccionada especialmente para a peça e será utilizada para dar vida a uma “avó mítica”, que ora simboliza as velhas anciãs dos contos mágicos universais, geradoras de vida e sabedoria, ora reúne em si o conjunto de pessoas que assumiram papéis significativos e de liderança dentro da comunidade.

“Em torno desta personagem, a dramaturgia do espetáculo apresenta, assim, uma narrativa capaz de conciliar tanto a retratação de uma realidade local e particular, quanto à discussão sobre temas universais, como o envelhecimento, a passagem do tempo, a morte e os impulsos humanos de sobrevivência”, afirma a produção do espetáculo.

Serviço

Evento: Espetáculo teatral NA LINHA DO MEU LEMBRAR (Temporada de Estreia)
Sinopse: Na roda da saia rendada de vovó, o tempo desfia seu rosário de histórias. E em cada giro de sua ciranda de lembranças, uma comunidade se refaz, revivendo memórias de lutas e conquistas. O espetáculo “Na Linha do Meu Lembrar” é uma homenagem àqueles que primeiro habitaram os mares de morros da cidade, uma reverência aos saberes ancestrais e à gente simples que, subvertendo a lógica da exclusão, persiste em conquistar o seu direito de pertencer.
Quando:
03, 04 e 05 de novembro de 2022 (quinta a sábado), às 20h
06 de novembro de 2022 (domingo), às 19h
Local: Casa do Beco - Av. Artur Bernardes, 3876 - Barragem Santa Lúcia (Em frente ao Campo de Futebol da Praça Jornalista Eduardo Couri) 
Valor: Gratuito | Entrada franca (retirada no Sympla ou no local, uma hora antes do início do espetáculo). Sujeito a lotação do espaço.
Classificação: Livre
Duração: 1h15
Como Chegar: Ônibus - linhas 101, 8101, 8103, 9101, 1170 - S20
Informações para o público:
(31) 3297-1455 
Redes Sociais:
Instagram: @casa_dobeco || Facebook: @acasadobeco 
 

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