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Estado de Minas CONTRADIÇÃO NA AVENIDA

Mulheres brancas são maioria entre rainhas de bateria no Carnaval 2022

No Rio e em São Paulo, mulheres negras estão em menor número nos postos de rainha de bateria, mas a temática negra é abordada na maioria nos sambas-enredos


20/04/2022 11:31 - atualizado 20/04/2022 14:37

Lexa como rainha de bateria da Unidos da Tijuca no galpão da escola
Mulheres brancas são maioria entre rainhas de bateria nos desfiles das Escolas de Samba do grupo especial no Rio de Janeiro e em São Paulo (foto: Reprodução)
Tradicionalmente, os componentes das escolas de samba são pessoas oriundas da própria comunidade onde as agremiações foram fundadas. No entanto, ano após ano, as rainhas de bateria nascidas e criadas nas escolas estão sendo substituídas por celebridades. 

A preferência por celebridades em detrimento de pessoas da comunidade pode ser  constatada no  vídeo, que viralizou nas redes sociais,  no qual a princesa da bateria da Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, Mayara Lima, aparece ensaiando com os ritimistas. A maneira perfeitamente sincronizada com que a princesa samba ofuscou Thay Magalhães que ocupava o posto de rainha de bateria.
 
Da comunidade, Mayara é negra e Thay é uma mulher branca que vem de fora. Esse vídeo simboliza o que se tornaram as escolas de samba. Nos desfiles extemporâneos deste ano no Rio de Janeiro e São Paulo, as mulheres brancas são maioria.

Devido à pandemia de COVID-19, os desfiles do grupo especial do Rio de Janeiro, em 2022, serão realizados  nos dias 22 e 23 de abril. No Rio de Janeiro, das 12 rainhas de bateria seis são brancas, cinco negras e  uma é amarela. Entre as 14 escolas de samba de São Paulo, cada uma com uma rainha de bateria, com exceção da Águia de Ouro com três musas, oito são mulheres brancas, sete são negras e  uma é amarela. 

A substituição de mulheres negras por brancas, em especial quando são celebridades, mostra o processo de busca por visibilidade e investimento de uma cultura popular que é televisionada nacionalmente. Ainda hoje no Brasil, apesar da luta contra a desigualdade social, a mulher negra é desvalorizada colocada em segundo plano em diversas esferas da sociedade, como mercado de trabalho, no mercado de beleza. No carnaval, essa distorção se repete.

Contradições na Sapucaí

Apesar de as mulheres negras serem minoria entre as rainhas de bateria nos desfiles de 2022, a temática da representatividade negra está presente na maioria dos sambas-enredos das escolas do Rio de Janeiro. Das 12 escolas do Grupo Especial,  sete apresentarão temas relacionados à resistência negra. 

A Grande Rio apresentará “Fala, Majeté! Sete chaves de Exu”, homenageando a entidade Exu com o objetivo de fortalecer a luta contra o preconceito religioso. Na mesma linha, Mocidade Independente de Padre Miguel desfilará ao som do enredo “Batuque ao caçador”, que homenageia o orixá Oxóssi. Ironicamente, no ensaio do dia 3 de abril, na Sapucaí, as duas escolas sofreram ataques de intolerância religiosa ao serem chamadas de “Lollamacoomba” em referência ao festival Lollapalooza.



“Repudiamos qualquer manifestação de racismo religioso. Levaremos para a Avenida o grito dos discriminados e excluídos por parte de uma sociedade que ainda teme o que vê no próprio espelho. Viva a pluralidade de crenças e culturas, e as potências nascidas em nossas encruzilhadas”, declarou a escola de samba Grande Rio em uma rede social.

A Paraíso do Tuiuti tem como samba-enredo "Ka ríba tí ÿe - Que nossos caminhos se abram", que ressalta a luta, história e sabedoria do povo negro, com carro alegórico em homenagem a Wakanda, o país mítico do herói Pantera Negra, da Marvel, que se tornou símbolo de exaltação da força e beleza negra nos últimos anos.  

A Portela trará o enredo “Igi Osè Baobá”, em homenagem a árvore milenar que tem importante simbologia na história e cultura africana, como ancestralidade, memória e identidade. “Resistência” é o tema da Salgueiro, que reforçará a resistência do povo negro e discutirá o apagamento histórico que acontece no Brasil.



A Beija-Flor trará para a avenida o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija-Flor” e segundo a escola virá para "enaltecer as glórias e as histórias dos negros" e também discutirá o racismo. Por fim, Vila Isabel apresentará o enredo “Canta, canta minha gente! A Vila é de Martinho!”, personalidade negra ídolo da escola.

Luta negra no Sambódromo do Anhembi

Em São Paulo as temáticas de resistência e representatividade negra não chegam a ser maioria, mas estão presentes em sete das 14 escolas. A Gaviões da Fiel desfilará com o enredo “Basta!” que apresentará lutas sociais tendo como principal inspiração o movimento “Black Lives Matter”. 

A escola Águia de Ouro trará para a avenida o enredo “Afoxé de Oxalá – No Cortejo de Babá, um canto de luz em tempo de trevas”. A Barroca Zona Sul tem como enredo “A evolução Está na Sua Fé… Saravá, Seu Zé” em homenagem a Zé Pilintra, uma importante entidade dos cultos afro-brasileiros. 



A Vai-Vai homenageará os povos africanos com o samba-enredo “Sankofa! Volte e pegue, Vai-Vai". A Tatuapé falará do café por meio da simbologia do preto velho com o enredo “Preto Velho canta a saga do café num canto de fé”. As escolas Colorado do Brás e Mocidade alegre farão homenagem a importantes mulheres negras, a escritora Carolina Maria de Jesus, que marcou a literatura negra brasileira com o livro “Quarto de Despejo – diário de uma favelada” e a cantora Clementina de Jesus, respectivamente.

Ouça e acompanhe as edições do podcast DiversEM




 
*Estagiária sob a supervisão de Márcia Maria Cruz 


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