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Estado de Minas VITALidade

Mudanças são necessárias mesmo com sofrimento

O que precisamos é apenas de coragem para aceitar a nova realidade e, de acordo com ela, nos portar


06/06/2022 08:37 - atualizado 06/06/2022 08:54

Homem diante de estrada com duas estradas
(foto: PixHere )
Há um texto, comumente atribuído a Fernando Pessoa, mas de fato escrito por Fernando Teixeira de Andrade, que diz que há um tempo em que é preciso abandonar as roupas antigas, que já ganharam a forma do nosso corpo, e esquecer os caminhos de outrora, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o que o autor chamou de tempo da travessia; e, segundo ele, se não ousamos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos. É uma bela passagem e nos mostra que as mudanças são necessárias, ainda que as custas de algum sofrimento.

Não se tem dúvida que a vida pode mudar completamente e para isto não haverá pedido de licença nem tampouco período de adaptação, o que precisamos é apenas de coragem para aceitar a nova realidade e, de acordo com ela nos portar. 

Diante das mudanças que nos trazem benefícios, apesar de inicialmente poder haver algum período de adaptação, na maior parte dos casos, recebemos elas bem e ainda nos consideramos pessoas de sorte. No entanto, em relação às mudanças que acabam por acarretar algum prejuízo para nossa existência, a adaptação pode se mostrar mais complicada.

A verdade é que a maioria das pessoas não gosta de mudanças, e não há problema nisto, pois os hábitos foram responsáveis por muitos dos nossos avanços sociais e nos possibilitaram a economia de energia na realização de tarefas. Só que há momentos em que precisamos trocar os velhos hábitos e reorganizar nosso modelo mental, sob pena de ficarmos a margem de nós mesmos, como bem lembra nosso autor.

O fato gerador da mudança que nos traz desconforto pode ser a descoberta de uma doença, a morte de um ente familiar querido, a mudança de alguém que amamos para outro país, o emprego de tantos anos que perdemos ou até mesmo uma notícia inesperada que transforma negativamente nossa vivência.
Quando tais fatos ocorrem, juntamente com a dor vem também a possiblidade de transformação e mudança, e não adianta fingir que não percebemos que precisamos nos movimentar, que está tudo bem, pois sabemos que não está. Correto estão aqueles que afirmam que quem não aceita as mudanças acaba adoecendo.

Na medida em que envelhecemos tendemos a nos tornar mais refratários às mudanças, no entanto, por este ser um período da vida permeado por perdas, os convites para mudança são frequentes e não as aceitar pode trazer grande dor e desconforto existencial para os idosos. Felizmente é possível que desenvolvamos habilidades que, ao final, podem fazer com que os processos de mudança sejam menos dolorosos. 

A capacidade de se adaptar às mudanças implica na capacidade que temos de nos transformar diante das circunstâncias e se relaciona com um emaranhado de ações que precisamos determinar novamente, eis que as que já estávamos habituados não são mais passíveis de serem usadas. Haverá um verdadeiro processo de reorganização mental e não se tem dúvida do quão trabalhoso ele pode ser. 

Esta capacidade de se adaptar às mudanças está relacionada, ainda, com o fato de sermos resilientes diante dos infortúnios da vida. Não se trata de ser passivo diante da realidade, mas sim de compreender que algumas perdas são parte do processo natural de vivência e de envelhecimento e não podem ser negociadas. 

Stephen Hawking afirmava que a capacidade de nos adaptarmos às mudanças é sinal de inteligência e as modernas teorias sobre ela nos remetem à mesma conclusão, ou seja, inteligente é quem é capaz de se adaptar aos novos ambientes e situações. A inteligência residiria em percebermos, compreendermos, aprendermos e nos adaptarmos à nova realidade que se apresenta. 

Em última instância, adaptação às mudanças nada mais é que nossa capacidade de revermos processos mentais arraigados para, então, criarmos novas competências. Mas não se preocupe se o processo de mudança demorar um pouco a acontecer, isto é normal, pois cada pessoa tem seu tempo de adaptação, o que não pode acontecer é permitirmos que o clamor por mudança feito pelas circunstâncias da vida, ao invés de nos movimentar, nos mantenha inertes e assustados. 

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