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Estado de Minas RESGATE HISTÓRICO

'Largo do Rosário' é reconhecido como patrimônio cultural de Belo Horizonte

Local foi demolido durante o processo de construção da capital mineira e seu registro representa fortalecimento identitário da população negra belo-horizontina


31/03/2022 15:26 - atualizado 31/03/2022 16:13

Imagem representa reconstituição do Largo do Rosário. A capela é comprida e dividida em duas seções, uma mais alta que a outra. Janelas e portas são pintadas de azul e as paredes são brancas. Ao fundo, está o cemitério com as sepulturas.
Reconstituição do Largo do Rosário (foto: Projeto Paisagens Pitorescas (PIBIC)/Negricidade/Reprodução)

 
A Prefeitura de Belo Horizonte reconheceu o território do Largo do Rosário como patrimônio cultural imaterial da cidade nesta quarta-feira (30/3). O título é provisório e passa a ser definitivo se, em 15 dias após a publicação do decreto, não houver recurso movido contra a decisão.

O pedido de abertura deste processo ocorreu em agosto de 2021 e, desde então, o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM-BH) estudou o caso e fez diversos levantamentos para que o título pudesse ser conferido ao bem.

História

O Largo do Rosário era o nome dado ao espaço compartilhado no Curral Del Rey entre um cemitério com 60 sepulturas, inaugurado em 1811 e uma igreja de mesmo nome, inaugurada em 1819. O espaço foi construído pela Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, um dos grupos criados pela comunidade negra como alternativa à exclusão que sofriam das irmandades dos brancos, que já construíam suas próprias associações dedicadas aos santos de sua devoção.

Durante a construção de Belo Horizonte, entretanto, o Largo do Rosário foi demolido juntamente de todas as outras construções que ficavam onde, hoje, é a Avenida do Contorno para dar lugar a outras edificações que abrigariam funcionários públicos vindos de Ouro Preto. O projeto da cidade não previa abrigar as massas de trabalhadores, majoritariamente compostas por negros e imigrantes europeus, que acabaram se deslocaram para as periferias.

Segundo a PBH, com a demolição das construções da região e a proibição do sepultamento ao redor de igrejas, os corpos enterrados no Largo do Rosário permanecem lá até hoje e, para a equipe do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanos (Muquifu), o reconhecimento do local como patrimônio cultural vai muito além da construção em si. “Debaixo do asfalto cinza da cidade de Belo Horizonte dos brancos, tem gente preta sepultada. Percebemos que muito já se fez e muito ainda está por fazer”, comentam em uma live do YouTube sobre o tema.

Em 1897, uma nova capela foi construída para substituir a Igreja do Rosário na esquina da Avenida Amazonas com as ruas São Paulo e Tamoios. A Arquidiocese de Belo Horizonte ficou responsável pela propriedade e as referências à Irmandade do Rosário dos Homens Pretos foram apagadas com o passar do tempo.

Referência histórica

Com o registro do Largo do Rosário como patrimônio cultural imaterial de Belo Horizonte, surgem novas expectativas para a comunidade negra da cidade. Para o Padre Mauro Luiz da Silva, membro do NegriCidade, um projeto de pesquisa e centro de documentação pertencente ao Muquifu, a ação representa a construção de uma nova relação com a capital.

“Não tínhamos o centro de Belo Horizonte como referência para a nossa cultura ou nossa religiosidade. [O registro] é uma referência de que nós [negros] já ocupamos o centro da cidade. Nós já estivemos aqui, já moramos aqui, mas fomos enviados para as periferias e favelas. Para mim, evidenciar essa história é a grande importância de reconhecer o Largo do Rosário como patrimônio cultural imaterial”, comenta Padre Mauro.

A titulação do território é uma grande contribuição para o direito à memória da comunidade negra de Belo Horizonte e dá aos munícipes mais um pedaço da história da cidade, agora, com mais diversidade. Uma placa será instalada no local onde ficava o Largo do Rosário e o Padre Mauro fala sobre novas expectativas. “Será uma oportunidade para que crianças negras, pessoas negras que passem por ali, tenham uma referência a partir de agora”, explica.
 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.  
 
 
 


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