O comediante carioca Diogo Defante, um dos grandes nomes do humor do YouTube Brasil, resolveu surpreender os fãs lançando seu primeiro EP ‘Robson’, na noite desta quinta-feira (20/7). Mesclando humor e música, ele faz sua estreia como vocalista e se prepara para subir aos palcos a partir de agosto, com show em BH em outubro. 


No dia 15 de junho, Defante lançou seu primeiro single, ‘Jerry’, que conta a história de um rato malandro que rouba o queijo de um pirata. A música conta com um clipe com grande produção. Para anunciar o seu trabalho, Diogo passou 12 horas vestido de rato dentro de uma gaiola gigante no centro de São Paulo.


Apesar de já ter escrito seu nome na lista dos grandes comediantes brasileiros, Defante conta que as músicas, por mais que sejam bem-humoradas, não são exatamente comédia. “Eu me acostumei a produzir comédia e não que eu não produza com as músicas, mas não tem o objetivo de fazer gargalhar. É só tipo uma liberdade na letra de falar besteira e com melodias gostosas de cantar juntos, sabe?”, contou, em entrevista ao Estado de Minas

Diogo Defante em 'Robson'

'Robson' conta com cinco músicas, que mesclam diversos estilos brasileiros com o rock

Steff Lima

Defante ainda revelou uma inspiração para lá de inusitada: os musicais da Disney, especialmente o filme ‘A Bela e a Fera’.  Por isso, ele define ‘Robson’ como a "Disney do absurdo". Diogo também diz que não pretende se prender somente ao rock. Até mesmo o EP já mostra isso, com uma música que flerta com o sertanejo raiz. 


Apesar de estar empolgado com a música, ele afirma que não vai abandonar os vídeos de comédia, os quais já têm um público fiel. Confira o bate-papo: 

 

No mês passado, você deu o que falar depois de passar 12 horas vestido de rato no meio de São Paulo para lançar o seu primeiro clipe que é o ‘Jerry’. Agora, você lançou o EP completo, chamado ‘Robson’, de surpresa para os fãs. O que você tem a dizer sobre esse trabalho? 

Tá sendo desafiador, porque eu me acostumei a produzir comédia e não que eu não produza com as músicas, mas não tem o objetivo de fazer gargalhar, do tipo ‘Nossa que bagulho engraçado’. É só uma liberdade na letra de falar besteira e com melodias gostosas de cantar juntos, sabe? O desafio que eu digo é porque eu me propus a entregar minimamente com qualidade esses sons, né? Não é aquela zoeira que normalmente eu faria para o meu canal, tipo desafinando absurdo de propósito para ficar engraçado e tal. Eu quero cantar direitinho, por mais que eu vá desafinar — e tá tudo bem. Não é esse negócio de se levar a sério, mas eu quero que fique minimamente legal, para que fique audível. Eu tô fazendo fono, trabalhando para cantar bem.


Tô produzindo os clipes com qualidade, que é uma parada que a galera tipo não espera. Fica meio “caraca, como assim mano? Tô acostumado a ver os vídeos no canal com a qualidade horrível”. É tudo proposital, né? Porque eu acho muito engraçado, mas esse projeto especificamente eu quis fazer um negócio que outras pessoas que não me assistem consigam absorver bem isso daí, que consiga chegar para mais gente.


Muita gente não sabe, mas você tem toda uma história profissional na música, como baterista. Como é, agora, assumir os vocais?

Como batera, foi uma longa estrada, a gente tocou em muitos lugares do Brasil, apesar de termos sido uma banda anônima, porque era uma banda autoral e é muito difícil todo esse corre de divulgar o som. Então, a gente ficou nessa caminhada de sete anos tentando fazer o som dar certo e chegar ao público. E, de alguma forma a gente não conseguiu, mas eu não vejo como um fracasso. Para mim, foi uma vitória toda essa experiência que eu peguei tocando batera, que é um negócio que, parece que não, mas dá um nervosismo tanto quanto cantar. 


Toda essa caminhada fez eu ficar solto com plateia, tanto que, quando eu comecei a fazer show de comédia, eu já estava com intimidade com o palco, porque eu já tinha tocado muito bateria e às vezes para falar umas groselhas no microfone. Foi maneiro como batera, mas como vocal tem uma pressãozinha talvez um pouquinho maior e talvez eu pare de sentir isso. Acho que é mais nesse início de projeto que eu quero entregar um bagulho que eu não tenho a experiência, mas eu acho que não é muito diferente de você ser baterista. Quando eu começar os shows, tenho certeza que eu vou ficar mais relaxado. Porque agora eu tô naquele preparaçãp para fazer um negócio muito bem feito, tô fazendo fono, tô cantando todo dia para tentar cantar o mais próximo que tá na gravação. Mas a hora da emoção, meu irmão, vai falhar a voz, vai desafiar e tá tudo certo. O negócio é a energia do momento. 


E quais foram suas inspirações para esse projeto?

A maior inspiração foi, desde sempre ,os musicais da Disney. Por exemplo, em ‘Jerry’ tem “seu teimosinho”, tem umas coisas de musicais da Disney. Eu amo essa liberdade porque eu sinto que na indústria da música, no geral, tem uma coisa que parece que limita um pouco ir por uns caminhos muito malucos. Eu gosto de pirar, não que todas as músicas vão ser isso. Mas você me perguntou da influência Inicial, cara, especificamente ‘A Bela e a Fera’ tem uma música do Gaston, que era o vilão, um cara fortão e tal, e tem a música dele. Eu vi isso e falei ‘cara, isso daqui é legal pra caralho’. Então, fica uma coisa meio fantasiosa, meio Disney. Eu chamo de Disney do Absurdo, eu gostei desse título para o meu projeto.



‘A Bela e a Fera’ é uma coisa muito inesperada.

É louco, porque conforme eu tenho postado, as pessoas vêm comparando e fazendo associações, né?  É natural. E como as letras falam de coisas imbecis, vamos dizer assim, são letras bobas, muita gente associa com os Mamonas. E, inicialmente, não foi essa ideia, mas eu amo a comparação, tá ligado? Para mim, é uma honra gigantesca. Acho que não chego nem um terço aos pés deles, mas fico feliz.  Eles tinham um lance, que talvez me influencie de alguma forma, que é passear por qualquer estilo musical, tipo eu não tenho um estilo definido. É uma essência rock, mas, meu irmão, se a gente quiser fazer um reggaezinho aqui, a gente vai fazer, um pagodinho.


Porque eu tive banda muito tempo de hardcore, e na época o hardcore era considerado emo, ea gente ficava um pouco preso, mantendo a essência do estilo, a mesma batida.  E eu acho que uma hora essa parada dá uma cansadinha.  O álbum ‘Robson’ já vai começar com cinco músicas, que passeiam por estilos diferentes: uma tem uns negócios meio mariachi, tem um trompetinho, uma coisa meio toureiro assim. A outra é meio sertanejo a lá Sérgio Reis. ‘Padeiro’ tem um refrão numa pegada meio axé, uma levadinha meio carnavalesquinha. E a letra também, eu não pretendo ter que fazer uma besteira, não. Se quiser fazer uma letra de amor ‘serinha’, porque eu tô apaixonado, eu vou fazer. Acho que vai soar engraçado também, vai ser uma quebra de expectativa.


Eu preciso compartilhar isso aqui: quando aparece conteúdo emo para mim no Instagram, sempre tem lá “curtido por Diogo Defante”. 

A gente é da mesma tribo! Caraca, tá maluco? Eu fui em muitos shows dessas bandas, Granada, Glória, Sugar… Tinha muito show aqui no Rio. Cara, eu vi muito, eu absorvi muito essa parada, só que isso é uma parte que não chega muito não na galera que me consome, porque a galera pegou da comédia para frente, né? Foi uma época muito legal e muito gostosa, eu tenho saudade. Inclusive, eu estava ouvindo Strike ontem. E eu era muito fã do Cadu, que é o batera do Strike. Eu sempre ia no show e ficava tipo namorando ele, não prestava atenção em mais nada. Aí, eu, que fui consumidor disso tudo, agora tô produzindo, tá ligado? Não que eu não produzia antes, mas eu tinha um pouco menos de experiência. Toda essa caminhada com a banda e mais esses aprendizados de todos os anos de comédia eestão fazendo eu transformar esse plano A, que era a música, junto com o plano B, que é comédia. Então, eu não posso estar mais feliz, mano.


Você vai estrear nos palcos em agosto, tem shows marcados para São Paulo e para o Rio de Janeiro. A gente pode esperar que você vai vir para BH também?

Já está com data marcada: dia 1/10, um domingo, no Mister Rock. Se a galera puder prestigiar o pai, vai rolar um rock true, rodinha punk, tudo que tem direito. Eu estou fazendo essa entrevista antes de ter feito o primeiro show, então, eu tô nessa ansiedade, o que eu posso adiantar é que a gente vai tentar botar um bote passando pela galera, eu deitado dentro de um bote e a galera me jogando. Se vai dar certo, se não vai, não sei, mas vai rolar isso. Eu acho que a plateia vai ter que ó ‘lau lau lau’,  me jogar, me passar. Eu acho que vai ter até uma texturinha de linguiça o bote.

Diogo Defante no clipe 'Jerry'

Para a divulgação de 'Jerry', Defante se vestiu de rato e passou 12 horas em uma gaiola no centro de São Paulo, dando o que falar na internet

Steff Lima
 


A gente vê que você gosta desse caminho da música. Mas você pretende deixar de lado a comédia, a gravação de vídeos?

Essa pergunta é importante, porque as pessoas podem se preocupar com relação a isso, até pessoas que não curtam o meu som, mas que eles gostam dos vídeos. Vai continuar assim. Por isso, eu não vou fazer tantos shows, porque tem que manter o “Rango brabo”, que tá que tá indo muito bem e as pessoas gostam muito, o “Repórter doidão” não para, mesma coisa, mesmo conteudinho. A música é um plus só.


Nessa sua trajetória, você percebe que talvez as pessoas te vêem mais como um personagem?

Eu acho que a maioria das pessoas não acessam muito o Diogo pessoa física, mas quem é muito consumidor mesmo me conhece. Eu acho que a maioria me vê como um só um maluco que não sabe o que está fazendo da vida. E não é. Eu tô planejando as coisas, tô montando uma estratégia na minha cabeça para poder manter as minhas produções, seja elas qual quais forem. 


O que me deixa feliz é poder estar tendo a oportunidade de trabalhar com coisas criativas, de poder criar as coisas e ter um público. O desafio sempre me dá um friozinho na barriga, que é o que eu sentia no início quando eu comecei a participar de programas como comediante. Todo esse desafio de você botar a cara tapa e ser julgado por uma coisa que você está propondo a fazer está me dando agora um pouco de novo, porque é uma coisa nova e as pessoas não estão esperando isso. Mas  esse friozinho que é muito importante para a gente se manter feliz, produzindo e trabalhando. Pode ser que em algum momento eu vá por outro caminho, produzir outra coisa, mas a princípio eu acho que eu meu coração vai ser tomado pela pela música. No momento que eu vir a galera cantando ‘Jerry’ numa casa de show lotada, o moleque de 14 anos que montou a banda e que desesperadamente divulgava no Orkut a música autoral da banda dele, agora tá vendo duas, três, quatro mil pessoas cantando a música que eu escrevi. É inacreditável, tá ligado?


Você falou alguma coisa muito legal, que é que as coisas parecem não ser planejadas, mas que você faz esse roteirinho pelo menos mental aí de como fazer. Porque quando a gente vê seus vídeos, parece que tudo muito espontâneo.

 É um pouco no feeling, né? Não tem uma um caminho certo, mas são coisas que instintivamente eu acho que podem instigar as pessoas com uma novidade. É óbvio que eu não consigo fazer tudo, né? Então por exemplo, eu já tive meu programa “Juscelino kubicast”, muitas pessoas ficam tristes porque eu parei esse projeto. Se eu pudesse, eu me multiplicaria e iria fazer tudo. Esse nervosismo que dá em você tomar uma decisão como essa é muito gostoso. É muito desafiador, me dá um me dá um tesão de fazer. É óbvio que é espontâneo, não foi uma coisa tipo calculada. Eu sou muito o que eu tô produzindo ali. Tanto que, quando eu comecei a fazer os vídeos trash, foi numa época que o Porta dos Fundos estava no seu auge, com aquela comédia mais pé no chão e aquela estética de câmera muito maneira; e e eu tava pegando a câmera, balançando.  Nessa época, muitas pessoas falavam “isso é ruim”, mas eu dou risada e se eu tô dando risada dessa merda, eu acho que é bom. E alguém vai ter o mesmo humor que o meu e vai rir dessa merda também. Então fé, vou nessa, cagando para tudo.


O conteúdo é genuíno, mas tem a estratégia de botar muita energia. Agora nesse projeto musical, eu vou ter que enxugar um pouco aqui e tal diminuir um pouco ali para fazer tudo bem, com saúde mental, com tempo para me exercitar e ter minhas relações sociais. Não é uma parada fácil, mas eu gosto de pensar estrategicamente para onde que eu vou e também às vezes é recuar se for necessário. Eu tenho que estar empolgado, tá ligado? São esses dilemas que passam pela cabeça e que as pessoas não imaginam.