Geraldo Magela, o 'Ceguinho', sorri para a câmera

Geraldo Magela, o "Ceguinho", afirma que nestes 26 anos em cena apresentou ao público um novo olhar sobre a deficiência física

Rogério de Souza e Silva/Divulgação

A comédia “Ceguinho é a mãe”, com Geraldo Magela, volta ao cartaz em Belo Horizonte neste sábado (17/6), para celebrar seus 26 anos, iniciados quando o humorista decidiu usar o riso para desconstruir preconceitos e estereótipos associados aos cegos.

“Depois de 26 anos, sempre tem coisa nova, sempre tem alguma novidade”, afirma Magela, ao ser perguntado sobre o que mudou nas quase três décadas do espetáculo. Deficiente visual desde a infância, agora, aos 65 anos, o comediante continua compartilhando com a plateia situações inusitadas e até pitorescas que ele e outros cegos vivenciam no dia a dia. Detalhe: sempre com humor.

Na busca por sempre atualizar o espetáculo, Magela fala sobre a necessidade de incluir mais pessoas com deficiência visual em seu projeto. “Uma das novidades é que agora temos um sonoplasta, que também é uma pessoa cega. Ricardo Malta é professor da PUC, DJ e dançarino. Ele é ótimo e isso é muito legal. Inclusive, em uma apresentação há pouco tempo, foi divertido: tínhamos um cego no palco, um na sonoplastia e uma na bilheteria. Isso é importante”, afirma Magela.

Satisfeito com o retorno que recebe há 26 anos do público, abordando diferentes temas durante as apresentações, Magela afurna que, com humor, conseguiu mudar a percepção preconceituosa de muitas pessoas. 

“Desde o primeiro (espetáculo), mudou muita coisa, muita gente me agradece e diz que muitas pessoas já não tratam a questão de forma errada porque aprenderam comigo no rádio e na televisão”, conta.

Com a forcinha do Jô

Também radialista, o mineiro iniciou sua carreira no teatro interpretando textos de amigos. Disposto a criar seu próprio espetáculo, Magela assumiu o apelido de “Ceguinho” e utilizou a sua história pessoal como chave para se tornar sucesso nos shows de humor. “Criei um desafio comigo mesmo. Falei: ‘Vou escrever um espetáculo todo com ideias minhas’”, relembra.

A ideia surgiu depois de sua participação no programa “Jô Soares onze e meia”, em 1997, exibido no SBT/Alterosa. A expectativa, até então, era arrecadar fundos para viajar ao exterior com a esperança de realizar uma cirurgia que recuperasse sua visão. Magela chegou a fazer a cirurgia, mas ela não gerou os resultados esperados. A entrevista com Jô repercutiu tanto no Brasil quanto em outros países, como Portugal.

A partir daí, Magela, que era a voz de programas como “Alegria brasileira” e interpretava textos de Ricardo Faria (à época diretor da Rádio Inconfidência), decidiu partir para “Ceguinho é a mãe”.

“O Ricardo brincou comigo, pelo fato de eu interpretar apenas os textos dele e nunca ter escrito nada. Então, decidi escrever. Quando fui criar o espetáculo, lembrei as histórias que acontecem com pessoas cegas no dia a dia, que, por falta de informação, são tratados de maneira até mesmo cômica. Fui juntando e pontuando os momentos com efeitos sonoros, em função de eu ser radialista e ficou muito legal”, lembra o humorista.
 

A primeira coisa que fez foi criar o nome, inspirado, sempre com humor, na forma como ele era tratado socialmente. “Antigamente, ceguinho era um termo utilizado de maneira muito pejorativa. ‘Ceguinho é a mãe’ é o nome, porque era uma fala muito agressiva e eu quis mudar isso. Hoje já é diferente, o mundo mudou muito, muitas pessoas estão mais conscientes, mas acontece que alguém sempre acaba dando alguma gafe ou perguntando coisas desconfortáveis e toscas para nós”, explica.

 

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Ao completar 26 anos nos palcos do país e fora dele, Geraldo Magela fala com orgulho que já viajou com o espetáculo praticamente por todas as capitais brasileiras e se apresentou em Atlanta, Boston e Orlando, nos Estados Unidos. “Ceguinho é a mãe” também está disponível em versão gravada no Google Filmes.
 

'Antigamente, ceguinho era um termo utilizado de maneira muito pejorativa. 'Ceguinho é a mãe' é o nome, porque era uma fala muito agressiva e eu quis mudar isso. Hoje já é diferente, o mundo mudou muito, muitas pessoas estão mais conscientes, mas alguém sempre acaba dando alguma gafe'

Geraldo Magela, humorista e ator

 

Retinose pigmentar

Diagnosticado com retinose pigmentar, doença degenerativa rara, o mineiro enxergava pouco desde a infância, o que acabou piorando e resultou na perda total da visão. A doença ocular é hereditária, normalmente se manifesta nos primeiros anos de vida e acometeu cinco dos oito irmãos dele.

Sempre agitado e divertido, o garoto nunca deixou de se comunicar bem. “Desde pequeno, sempre fui muito engraçado e brincalhão. Eu enxergava muito pouco, então me ligava muito à comunicação, ao rádio, foi daí que surgiu o sonho de trabalhar com isso. Eu tive oportunidade no teatro, depois veio a televisão e no rádio aprendi a produzir”, afirma Magela.

Outros projetos

Além de radialista e humorista, Magela encontrou, durante o período de pandemia, espaço para se tornar palestrante motivacional, além de escritor, estreando com o livro “Um cego de olho no futuro”. Ele ainda apresenta shows gratuitos com o projeto “Humor na praça” pelas cidades do interior de Minas Gerais. A próxima edição ocorrerá em 30 de junho, em Itabirito, quando o município completa 100 anos.

“CEGUINHO É A MÃE”

Espetáculo com Geraldo Magela. Neste sábado (17/6), às 20h, no Teatro do Pátio Savassi (Av. do Contorno, 6.061 – São Pedro). Ingressos: R$ 40 (inteira). Compras antecipadas pelo site Sympla. Informações: @magelaceguinho (Instagram).

* Estagiária sob a supervisão da subeditora Tetê Monteiro