Maestro Alexis Soriano segura a batuta

O maestro Alexis Soriano montou programa para agradar fãs de ópera e sinfonia

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Um dia antes da Páscoa de 1282, italianos que viviam em Palermo, na Sicília, rebelaram-se contra o domínio francês e promoveram verdadeiro massacre na ilha. A confusão foi tamanha que envolveu até o papa Martinho IV, que excomungou os envolvidos na rebelião.


“Vésperas sicilianas”, no entanto, não alcançou a mesma popularidade de outras obras do compositor, como “La traviata” ou “Nabucco”. Mesmo assim, causou enorme rebuliço quando estreou. Foi ovacionada na Ópera de Paris, na França, e censurada na Itália. O motivo é evidente: na obra, os franceses são vítimas de fúria cruel dos italianos, que não gostaram nenhum pouco de terem sido retratados como bárbaros.
 
Bairrismos à parte, “Vésperas sicilianas” tem grande complexidade e merece destaque. Por isso, sua “Abertura I” encabeça o programa do concerto “Va, pensiero”, da Orquestra Sinfônica e do Coral Lírico de Minas Gerais, que será realizado hoje e amanhã (6 e 7/6), no Grande Teatro do Palácio das Artes.

O programa conta ainda com “Gli arredi festivi” e “Va, pensiero” (da ópera “Nabucco”), “Patria oppressa” (da ópera “Macbeth”), “Fuoco di gioia” (da ópera “Otello”) e “Zitti zitti” (da ópera “Rigoletto”), todas de Verdi. Há ainda “Intermezzo”, da ópera “Cavalleria rusticana”, de Pietro Mascagni, e a “Sinfonia nº4, op.36, em fá menor”, de Tchaikovsky.
 
Os concertos ocorrerão sob a batuta do maestro espanhol Alexis Soriano, diretor artístico da Sociedade da Ópera de Nova York. “Já participei como regente convidado da orquestra em duas ocasiões. Foram experiências muito satisfatórias”, lembra ele.
 

Fã de Villa-Lobos

Soriano regeu a Sinfônica pela primeira vez em 2015, em concerto comemorativo à Festa Nacional da Espanha. “Era um programa com obras espanholas, mas acabou que consegui incluir ‘Uirapuru’, do Villa-Lobos, obra muito interessante”, comenta.

Em 2019, Soriano voltou a Belo Horizonte para reger a orquestra e o Coral Lírico no concerto que contava com duas sinfonias “Nº 3”, compostas pelo finlandês Jean Sibelius e o alemão Johannes Brahms.

Agora, Soriano optou por um programa mais amplo, contemplando desde os que gostam de ópera, a partir da seleção de peças de Verdi, até quem prefere sinfonias, com obras de Mascagni e Tchaikovsky.

Chegar ao veredito sobre os nomes do atual programa não foi tarefa fácil. O repertório é fruto do entendimento entre Soriano e Ligia Amadio, regente titular da Orquestra Sinfônica.

“Ela mandou várias sugestões e ainda ofereceu a participação do coro para fazer extratos de óperas do Verdi. Me pareceu uma ideia muito boa para combinar com Tchaikovsky, no intuito de montar um programa para todos os públicos”, diz o maestro espanhol.

Sem palavras 

Cada obra tem especificidades incapazes de serem descritas em palavras, de acordo com o maestro. Em comum, expressam a vivência do ser humano.

“Diria que a sinfonia (de Tchaikovsky) é uma boa amostra das diferentes emoções que há ao longo da vida do ser humano, com suas aventuras e momentos. Ao final, sugere que todos têm o mesmo destino, um destino que pesa sobre os homens e do qual eles não podem escapar: a morte”, afirma.

A leitura de Soriano se conecta ao contexto no qual a peça foi concebida. Na época, Tchaikovsky se sustentava dando aulas de música. Não se pode dizer que tinha vida muito confortável. A viúva de um engenheiro, que lhe encomendara peça para violino e piano, gostou tanto que decidiu financiar a carreira do compositor.

Ela se apaixonou por ele, revelou seus sentimentos. Sabendo que se tratava uma paixão platônica – há boatos de que o compositor era homossexual e, além disso, vivia um relacionamento conturbado com a ex-aluna Antonina Miliukova –, a mecenas impôs uma condição: para continuar patrocinando o músico, eles não poderiam se conhecer pessoalmente. Isso impactou o artista, que compôs a sinfonia em homenagem a ela.  Verdi, por sua vez, era um autor vital, diz o maestro. 

“Ele  sabia se conectar com a parte otimista e grandiosa do ser humano. Tinha visão muito humanista, o que acaba se refletindo em sua obra”, conclui Soriano.

CONCERTOS DA LIBERDADE

• Com Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais. Peças de Verdi, Mascagni e Tchaikovsky. Regente convidado: Alexis Soriano
•  Nesta terça-feira (6/6), às 12h, e quarta-feira (7/6), às 20h30
• Grande Teatro do Palácio das Artes (Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro)
• Inteira: R$ 20 (plateia1), R$ 15 (plateia 2) e R$ 10 (plateia superior). À venda na bilheteria do teatro ou pelo site fcs.mg.gov.br.