O ator Dan Fogler caracterizado como o diretor Francis Ford Coppola na série The offer

Série "The offer", disponível no Paramount, conta os bastidores da criação de "O poderoso chefão" pela perspectiva de seu produtor e é tão fascinante quanto o filme

Paramount/divulgação

Toda menção a “O poderoso chefão” (1972) vem seguida de “o melhor filme da história”. Passados 51 anos do lançamento do início da saga da família Corleone, o longa de Francis Ford Coppola continua sendo muito assistido: está disponível no Paramount+, Netflix, Prime Video, Star e Globoplay.

Tanto por isto, é imperdível assistir a “The offer”, a série que conta os bastidores da produção. Não é nova. Foi lançada em 2022 no Paramount , para comemorar o cinquentenário do filme. Mas, com tanta oferta no streaming, passou batida por muita gente. Foi muito menos vista e discutida do que merece. E, depois de assistir aos 10 episódios, invariavelmente teremos que assistir ao filme mais uma vez – agora, com outros olhos.

“The offer”é baseada na experiência do produtor do filme, Albert S. Ruddy, hoje um senhor de 93 anos. O que a gente fica se perguntando o tempo inteiro é como é que a produção saiu, porque tudo, absolutamente tudo, estava contra.
 
 

Estúdio

No final dos anos 1960, Ruddy, interpretado por Miles Teller, era um programador entediado com a vida de escritório. Descobre o mundo do cinema e, bom de papo, consegue um emprego como produtor do Paramount. Na época, o lendário estúdio estava passando por percalços econômicos. 

Era comandado pelo instável executivo (e um tanto histriônico) Robert Evans (Matthew Goode), um profundo conhecedor de cinema. Mas quem dava as cartas era o austríaco Charles Bluhdorn (Burn Gorman) que, de Nova York, presidia a Gulf Western Industries Corporation, a dona do estúdio. O que importava era fazer dinheiro – e a grana estava curta para a Paramount, que pedia sucessos de bilheteria.

Bem, a história vai acompanhando esses personagens, todos reais. Mario Puzo (Patrick Gallo), que finalmente havia conseguido êxito com um livro, é convocado para fazer o roteiro de sua adaptação. Teria como companheiro um cineasta e roteirista em ascensão, Coppola (Dan Fogler). Unir a dupla já foi um êxito de Ruddy, pois na época os estúdios não contratavam romancistas como roteiristas de cinema.

Definir o elenco foi um parto, assim como conseguir um orçamento. O estúdio não acreditava na visão artística que Coppola queria para um filme de gângster, então houve várias quedas de braço para conseguir aprovar Marlon Brando (Justin Chambers), pois era complicado demais, e Al Pacino (Anthony Ippolito), um ator então desconhecido e baixo demais (na opinião de Evans) para dar conta do protagonismo que Michael Corleone merecia.

As questões do estúdio eram, na verdade, fichinha diante de uma questão maior: a máfia. Sim, nos anos 1970, um grupo de famílias ítalo-americanas dominava Nova York – o local definido para as filmagens. E Ruddy, para conseguir realizar o filme, teve que se unir aos mafiosos, um deles em especial, Joe Colombo (Giovanni Ribisi, tão bom que você se pega torcendo por ele o tempo inteiro, apesar de o personagem ser de uma crueldade total). 
 

O capanga no set

A parte mafiosa é tão absurda que parece mentira. Mas tudo aconteceu. Até a palavra máfia foi retirada do filme a “pedido” dos capos. Ruddy se tornou amigo de Colombo, colocando alguns “funcionários” do italiano com funções no set. Houve até um capanga, Lenny Montana (Lou Ferrigno), que interpretou um papel no filme. A cena do ensaio para o personagem Luca Brasi, que Montana fez no longa, é antológica.

Como é uma história de muitos homens poderosos, “The offer” só destaca uma mulher. Bettye McCartt (a sempre ótima Juno Temple) era a secretária de Ruddy, uma figura sagaz que acabou se tornando o braço direito do produtor. Ela passeia pelos diferentes núcleos da série, dos executivos aos mafiosos, sempre com inteligência e ironia. As demais personagens femininas aparecem apenas como escada para os homens da história – como a atriz Ali MacGraw (Meredith Garretson), então mulher de Evans.

“The offer” oferece o retrato de um tempo menos cínico, mas também menos diverso do cinema e do mundo. Nem tudo é verdade nesta ficcionalização – há personagens criados para a série, como o executivo Barry Lapidus (Colin Hanks), um antagonista do grupo que estava realizando o filme. E como a série foi baseada no relato de Ruddy, sua visão pessoal predomina. Mas não há como não se envolver com a trama – tão fantástica quanto o filme que ela aborda.

“THE OFFER”

• A minissérie, com 10 episódios, está disponível no Paramount