Escritora Maria Valéria Rezende sentada na escrivaninha

Literatura de Maria Valéria Rezende se volta para mulheres que não se submetem a regras impostas pela sociedade

Adriano Franco/divulgação

A freira Maria Valéria Rezende, da Congregação de Nossa Senhora – Cônegas de Santo Agostinho, tem 80 anos e mora no mosteiro em João Pessoa (PB). De lá, escreve romances premiados que se destacam na literatura brasileira contemporânea. Em seu círculo social, estão nomes do calibre de Gabriel García Márquez (1927-2014) e Fidel Castro (1926-2016), que conheceu quando trabalhou durante missão em Cuba, entre as décadas de 1980 e 1990.

Autora dos romances “Quarenta dias”, vencedor do Prêmio Jabuti em 2015, e “Outros cantos”, vencedor do prêmio Casa das Américas de 2016, Maria Valéria é a homenageada deste mês do projeto “Letra em cena. Como ler…”, que será realizado nesta terça-feira (30/5), no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas.

Cada edição conta com um convidado para falar sobre o escritor homenageado. Quem abordará a obra de Maria Valéria é a escritora, crítica literária e historiadora Micheliny Verunschk. A leitura dramatizada dos textos será feita pela atriz e escritora Bruna Kalil Othero.

Amizade

Maria Valéria e Micheliny são amigas desde 2014. Na ocasião, Maria Valéria foi a São Paulo lançar “Quarenta dias” e lá encontrou Micheliny. “Para minha surpresa, ela tinha lido um livro meu e me conhecia. Fomos tomar café e, a partir daí, começamos a trocar figurinhas”, lembra a historiadora.

A amizade se estreitou a ponto de Maria Valéria enviar à colega o original de um conto, pedindo a opinião dela e solicitando que fosse lido também pelo filho adolescente de Micheliny. Queria saber como os jovens receberiam seu texto.

“Ela consegue atingir tanto aquele leitor com menos informações quanto o que tem mais habilidades de leitura. Nenhum escrito da Maria Valéria é solto, tudo é muito coeso, muito interessante e muito vivo”, ressalta Micheliny Verunschk.

Esta noite, Micheliny vai tratar essas características da obra de Maria Valéria a partir de “Cartas à rainha louca” (Alfaguara). Lançado em 2019, o livro foi um dos finalistas do Prêmio Jabuti, perdendo para “Torto arado”, de Itamar Vieira Junior.

Escrito por meio de cartas, conta a história de Isabel Maria das Virgens, mulher da época do Brasil Colônia tida como louca e trancada no mosteiro Recolhimento da Conceição, em Olinda (PE), que existe até hoje.

Era prática comum os homens mandarem aprisionar as mulheres em conventos por diferentes motivos – de moças acolhidas temporariamente enquanto os maridos viajavam, até aquelas que tinham filho antes do casamento.

Isabel Maria das Virgens não se enquadrava nesses casos. Rebelde, não concordava com as leis da colônia, mais severas com as mulheres e com os pobres. Foi confinada porque os contemporâneos dela tachavam seu comportamento como algo entre a loucura e a desobediência.

Em seu infortúnio, Isabel decide escrever à Dona Maria I, rainha de Portugal, no intuito de pedir clemência.

Micheliny Verunschk olha para a câmera

Micheliny Verunschk vai abordar a obra de Maria Valéria

Instagram/reprodução
 
“Cartas à rainha louca” é crítica social com alto teor feminista, ainda que, em diversas ocasiões, a autora negue ter sido esta a sua intenção.

“A Maria Valéria é uma mulher do seu tempo. Ela é bem antenada a tudo o que está acontecendo. Então, acabam sendo naturais para ela todas essas discussões, todos esses lugares”, observa Micheliny.

Embora a palestra de hoje seja sobre “Cartas à rainha louca”, Micheliny prefere outro livro de Maria Valéria, “Quarenta dias”, que considera essencial para quem quiser conhecer a obra da autora paulista.

“Esse livro conta a história de Alice, idosa que vai para o Sul do país morar com a filha. Ela acaba indo viver nas ruas por 40 dias, que são relatados no livro. É um romance muito forte, denso e profundo”, conclui.]

“LETRA EM CENA”

• Micheliny Verunschk aborda a obra da escritora Maria Valéria Rezende. Leitura de textos por Bruna Kalil Othero
• Nesta terça-feira (30/5), às 19h, no Café do Centro Cultural Unimed-BH Minas (Rua da Bahia, 2.244, Lourdes)
• Entrada franca, mediante retirada de ingressos no site Sympla
• Informações: (31) 3516-1360