Palco de festival de música

O mercado de música eletrônica está em crescimento no Brasil

Rutger Geerling
Um dos maiores festivais de música eletrônica do mundo desembarca no Brasil nesta sexta-feira (21/4). Durante dois dias, fãs de 75 artistas vão vibrar em pleno Centro de São Paulo, no Vale do Anhangabaú. A escolha do local é, inclusive, proposital. Com DJs do mundo todo, os quatro palcos abrigam grandes nomes, mas também darão atenção aos artistas brasileiros em ascensão, entre eles alguns mineiros com quem conversamos. 

"A música eletrônica ganhou espaço em outros lugares que não são nichados, por diversos fatores. E o principal deles é uma um entendimento melhor da sociedade em relação ao gênero", afirma Gustavo Luveira, chefe de marketing e sócio da 30E, empresa responsável por produzir esta edição do festival. "Grandes personagens levaram isso para dentro da casa das pessoas, como o Alok, iniciando projetos tocando em festivais que não eram só de eletrônica", diz.

O mercado de música eletrônica está em crescimento no Brasil e a volta do Ultra ao país mostra como essa expansão atrai cada vez mais pessoas. "Junto a isso, tem a entrega dos aplicativos de música que passaram a incluir muito a eletrônica em playlists diferentes. A entrega desse 'mood', somada à uma pessoa midiática, resulta em uma certa identificação e popularização do estilo".
Luveira comenta que outro personagem que contribuiu com a identidade/marca é o Vintage Culture. "Esses movimentos são importantes para desenvolver uma comunidade que consome os produtos e, a partir disso, as empresas passam a entender a necessidade de reproduzir algo para esse público", explica. 

Segunda edição do Ultra Brasil

A primeira edição do Ultra Brasil foi em 2017, no Rio de Janeiro. O festival nasceu em 1997, em Miami, nos Estados Unidos, e atualmente a marca do Ultra Worldwide está presente em 29 países. A escolha do local faz parte de um propósito de incluir a música na cidade. "Como qualquer Ultra do mundo, este também acontece no Centro. É um festival que preza pela relação com a cidade, por isso, é importante estar bem localizado. O Vale do Anhangabaú tem estações de ônibus e metrô ao lado, além de conseguirmos ter controle de segurança para o público", pontua. 
A expectativa é que 60 mil pessoas passem pelo Ultra entre os dias 21 e 22 de abril. E, para agitar todo esse público, a escalação conta com grandes nomes do cenário no palco principal, como Axwell, Marshmello, Alan Walker e DJ Snake. Além do palco Resistance, dedicado ao som underground, o Worldwide que abriga artistas em ascensão mundial e o Regional, que apresenta talentos locais. 

Entre os nomes do Worldwide e Regional, destacam-se os mineiros Almanac, Carol Fávero, The Fish House, Vitor Vinter e Watzgood, que conversaram com o Estado de Minas. 

Confira nosso bate-papo com os mineiros que estreiam no Ultra:

  • Almanac
Victor e Davi, mais conhecidos como Lester e Dave, formam a dupla Almanac. Naturais de Lagoa da Prata, há 3 horas de Belo Horizonte, eles se encontraram em um jogo on-line, quando ainda eram crianças. Com 24 e 25 anos, respectivamente, ambos já tiveram outras profissões antes de conseguirem trabalhar apenas com a música. Victor lembra que uma das épocas mais corridas da vida, foi quando se formou na escola. 

"Trabalhava de manhã em uma loja de roupas, à tarde ia para a agência de design gráfico e, à noite, fazia eventos. Além de produzir o que tínhamos do Almanac. Era bem difícil conciliar, mas foi necessário fazer grana e montar as coisas do estúdio", explica. Davi também desempenhou outras funções, trabalhando em um bistrô da cidade e criando design gráfico. 

Há uma década trabalhando juntos, agora a dupla mora em São Paulo. Desde o início, o projeto leva o nome de Almanac, a partir de uma escolha feita por Davi, após assistir o filme "Projeto Almanaque". Apesar de estarem em outro estado, garantem que o passatempo preferido é ficar ao lado de pessoas que amam, curtir um tempo em casa e, também, visitar a família no interior de Minas. O que os aproximou no início da amizade permanece presente nos hobbies atuais, já que toda semana um horário deve ser reservado para jogar on-line. 

Ansiosos para estrear no palco do Ultra, a dupla está um pouco mais acostumada com grandes públicos, depois de apresentações no Rock in Rio e Lollapalooza. "Já fizemos outras vertentes da eletrônica, mas hoje tocamos bass house. Por ser megafestival, tentamos ao máximo não tocar música de outros artistas, para utilizar o espaço mostrando o nosso trabalho e identidade", explica Lester. 
  • Carol Fávero
Mais ao sudoeste do estado, Carol Fávero, de 26 anos, fez o nome na cena eletrônica de Juiz de Fora. Ela escolheu não ter um nome artístico por já ser conhecida assim. "Produzia eventos antes de tocar. Comecei aos poucos, como um hobby, até mergulhar de cabeça no projeto", diz. 

Desde 2015, ela tocava em festas e conciliava com a produção de eventos. Mas foi na pandemia que a produção musical 'deu um gás'. Durante todo esse tempo, ela teve o apoio da família e, principalmente, de sua mãe. "Foi um processo para acreditar em mim mesma. A minha mãe sempre apoiou, ficou um ano falando para eu começar a tocar, que iria gostar, já que sempre curti muito a música", conta.

Neste caso, as barreiras também foram com o machismo do meio, que é majoritariamente masculino. "O início da produção musical foi complicada, até viver 100% da música, dá um pouco de insegurança. Do lado de ser mulher, demorou para acreditar no meu potencial. Agora, a cena está mudando, mas a maioria são homens, desde o backstage, à produção e line-up".

"Tem sempre uma sensação das pessoas não acreditarem em nós por sermos mulheres ou acharem que tem alguém fazendo algo para estarmos ali. Não só nesta profissão, mas em outras áreas vemos que as mulheres trabalham 10 vezes mais para conquistar a credibilidade", afirma. 

Além do trabalho, Carol tem um hobbie diferente: o hipismo. "Comecei a montar a cavalo aos 5 anos e cheguei a competir em dois campeonatos mineiros de hipismo de salto, até os 14. E, agora, também gosto muito de futevôlei". 

Ela esteve na primeira edição do Ultra, em 2017, e lembra que levou um pendrive com suas músicas. "Estava na minha bolsa no Ultra de 2017, agora ele me deu sorte", brinca. Com foco na produção do set, ela garante que o público pode esperar muito tech house, seu estilo de produção e músicas autorais. 
  • The Fish House
Natural de Divinópolis, no Oeste de Minas Gerais, The Fish House, ou melhor, Rafael Gontijo, de 32 anos, estreia no festival nesta sexta. Descontraído, ele toca eletrônica há mais de uma década, já fez parte de uma dupla e é um skatista de coração. 

"Quando eu comecei, usava meu nome mesmo, mas eu fiz duo com um amigo e éramos muito fãs do Swedish House Mafia, um grupo sueco de house music. Pensamos em algo que fosse legal de falar e saiu 'The Fish House'. Depois de alguns anos, passei a tocar sozinho, mas mantive o nome", explica. 

Em busca de mais oportunidades, ele saiu do interior, chegou à BH com 15 anos e mora na capital desde então. Antes de entrar para a música, ele se apaixonou pelo skate e até viajava para campeonatos. "Sempre amei fazer esportes, mas também gosto muito de ir para bares, encontrar os amigos, fazer um churrasquinho em casa. Tenho procurado valorizar muito a família e os amigos de verdade, passando mais tempo com eles nesses momentos de lazer", diz.

Empolgado para o set, ele confessa que não imaginava conquistar um espaço como este quando começou a carreira. "Estar no Ultra é algo surreal. Quando eu comecei, era muito distante, então é uma realização que vai ficar marcada para o resto da minha vida, com certeza. Tô preparando um show muito muito massa". Atualmente, ele produz tech house com influências de electro house, que já foi sua vertente. 
  • Vitor Vinter 
O jovem Vitor Vinter, ou melhor, Lima, é natural de uma cidade com o mesmo 'sobrenome'. Com muitos sonhos, ele começou a crescer na música no início da pandemia. Hoje aos 22 anos, ele nasceu em Nova Lima, mas cresceu na capital mineira. Interessado por informática, fez um curso na área e foi estagiário em um banco, mas a paixão mesmo é pela eletrônica. 

Vitor começou a aprender sobre música em 2017, período em que muitas festas eletrônicas chegaram a Belo Horizonte. "Fui em um evento ver o set do Alok e quem estava tocando antes era o Gaab. Não era um som que eu estava familiarizado, mas me identifiquei instantaneamente. Logo na segunda-feira após o festival, eu procurei uma escola para aprender a produzir. Aos poucos, fui tocando, ainda sem nome, e aprimorando meu projeto", conta. 

O nome 'Vinter' existe há anos, como usuário de um jogo on-line, e é uma junção do time do coração, o Sport Club Internacional, com seu nome. Fã de futebol, ele conta que um dos seus hobbies é jogar bola e ir ao estádio. Mas tem um carinho por suas gatas e cachorro. 

Estar no Ultra é a realização de um sonho. "Estou ansioso e trabalhando muito no set para a galera curtir bastante, principalmente com as músicas autorais". Vitor toca tech house e estreia no palco Worldwide. 
  • Watzgood
Também da Zona da Mata, a dupla Watzgood é natural de Juiz de Fora e composta por dois amigos de infância, Gabriel e Rodrigo, ambos de 29 anos. Entre projetos musicais antigos e interesse constante pela eletrônica, eles mantiveram o mesmo ciclo de amizade por anos e decidiram formar o duo em 2020. 

O nome é um trocadilho com a pergunta em inglês 'what is good?'. "Tinha que ser algum nome que desse pra gente brincar", conta Gabriel, que já trabalhou em outro projeto de DJs antes desse. Já Rodrigo, chegou a fazer um período de ciências da computação, mas decidiu mudar para um curso de música eletrônica. 

Em tempo livre, eles costumam ver amigos, mas contam que a rotina está apertada. "Ultimamente, temos trabalhado bastante para mudar o projeto e no fim de semana estamos tocando, mas quando a gente tá em Juiz de Fora, gostamos de encontrar com os nossos amigos, comer alguma coisa e fazer festa, sempre", explica Gabriel. 

Agora, a dupla produz duas vertentes de música, o house e tech house e prometem um set recheado. "Estamos bem animados e preparamos um set novo. Vamos começar a usar uma intro a partir do Ultra. Será algo bem autoral, com muita música nova", finalizam.