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"Hoje é impossível comprar" obras de Tarsila, diz Tarsilinha do Amaral

Sobrinha-neta da pintora e administradora de seu acervo diz que tem pequena coleção, adquirida quando valores eram menores, e objetos pessoais da artista


22/10/2022 04:00 - atualizado 21/10/2022 21:47

'A Lua', tela pintada por Tarsila do Amaral
"A Lua", tela pintada por Tarsila do Amaral em 1928, foi adquirida em 2019 pelo MoMA por valor estimado em US$ 20 milhões (foto: MoMa/Divulgação)

Um nome não sela um destino, mas pode dar uma força. Quando o casal Guilherme Augusto e Maria Vilma do Amaral foi nomear sua filha recém-nascida, não houve dúvidas: Tarsila. Naquele momento, meados dos anos 1960, não daria para saber que ela seguiria os passos do pai e cuidaria da obra da tia Tarsila do Amaral (1886-1973).

A menina Tarsila se tornou Tarsilinha. O tempo de convivência com a tia-avó, na época já em cadeira de rodas, foi curto: somente oito anos. “Mas continua muito vivo na minha memória. Eu a adorava, chegava na casa dela, que, mais velha, me dava atenção especial. Tinha perdido a filha e a neta, então havia muito carinho nela”, conta.

Tarsilinha do Amaral carrega não só a responsabilidade de ter o mesmo nome de uma das maiores artistas do Brasil, certamente a mais conhecida, como também de preservar seu legado. Nesta semana, esteve em Belo Horizonte para participar do lançamento da coleção “Tarsila”, da designer de acessórios Rosana Bernardes, na Galeria Murilo Castro. 

Rosana partiu de oito telas da artista – como “Abaporu”, “A Lua” e “Distância” (todas de 1928) e “Paisagem com touro” (1925) – para criar a coleção de brincos, colares e pulseiras.
 
Com formação em museologia, Tarsilinha trabalha há quase 25 anos com o legado de sua tia-avó. Hoje é curadora de sua obra – no lançamento da coleção, participou de palestra com Adriano Gomide, professor da Escola Guignard.

Tarsilinha está à frente do licenciamento de produtos inspirados nas pinturas de Tarsila. Somente nos últimos anos, foram lançadas coleções de roupas, bijuterias, joias e até conjunto de lápis de cor e canetinhas para crianças. 

Perto das crianças

A animação “Tarsilinha”, de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo, lançada em março deste ano, em meio às celebrações do centenário da Semana de 22 (ainda que não tenha participado do evento, ela é o grande nome das artes dos modernistas daquela geração), foi outro meio de aproximar a obra de Tarsila do universo infantil. 

“As crianças amam as obras, estudam na escola. Acho que o licenciamento aproxima as pessoas do artista. Eu, que tive o privilégio de viajar muito para fora, sempre gostei de ir a exposições e depois sempre passava na lojinha dos museus. Vi como isso seria importante para se fazer no Brasil e comecei a ir atrás. Claro que é também uma função econômica, mas, acima de tudo, divulga a obra dela por meio de produtos.”
 
Tarsilinha do Amaral, obrinha-neta da pintora paulista
Sobrinha-neta da pintora paulista, Tarsilinha do Amaral é hoje a responsável pela administração do acervo e licenciamento de produtos  (foto: Florence Zyad/divulgação)
 

Tarsilinha também participa ativamente de exposições de Tarsila. “Em breve, deve haver novas fora do país”, comenta ela, acrescentando que a maior parte dos trabalhos da tia-avó está no Rio de Janeiro e em São Paulo. Tarsila viveu muito, 86 anos, e pintou pouco se considerado seu período em atividade.  

“Suas pinturas não chegam a 250. É por isso também, pela oferta muito pequena, que seus valores são altos”, comenta Tarsilinha.
 
A valorização expressiva tem como marco 1995, quando “Abaporu” se tornou o primeiro quadro brasileiro a ser comercializado por mais de US$ 1 milhão – foi vendido para o colecionador argentino Eduardo Costantini por US$ 1,35 milhão e é uma das estrelas do Museu de Arte Latino-Americano de Buenos Aires (Malba).

“De 10, 15 anos pra cá, sua obra passou a ter valores absurdos. Quando o MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) comprou ‘A Lua’ (o quadro foi adquirido em 2019, por valor estimado em US$ 20 milhões), a coisa explodiu”, comenta Tarsilinha.
 
No início de 2020, “A caipirinha” (1923) foi adquirido em leilão por colecionador brasileiro por R$ 57,5 milhões, batendo o recorde de valor pago por uma obra em venda pública no país.

A família da artista tem poucos trabalhos de Tarsila. “Meu pai conservou alguma coisa, e eu comprei também, quando os valores eram menores. Hoje, é impossível comprar. Tenho uma pequena coleção com alguns desenhos e gravuras.”

Já a coleção de objetos pessoais é maior. Há desde móveis até objetos variados, como uma estola, talheres com as iniciais TA e pincéis. “Estou guardando, e a ideia é um dia doar para um museu.”

Outro projeto futuro é atualizar o catálogo raisoneé de Tarsila, lançado em 2008. “É um trabalho muito importante, pois dá grande confiabilidade à obra. Demorou muitos anos para ser feito e uma atualização é necessária, pois sempre aparecem outras obras e o catálogo raisoneé é uma coisa viva”, afirma Tarsilinha.
 












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