Atores N. T. Rama Rao Jr. e Ram Charan Teja são jogados para o alto pela multidão em cena do filme ação 'RRR'

Atores N. T. Rama Rao Jr. e Ram Charan Teja em cena do musical "RRR", filme de ação falado em telugo

DVV Entertainment/reprodução

Diretor de filmes repletos de dança e música, S. S. Rajamouli espera que “RRR: Revolta, rebelião, revolução” seja a primeira produção 100% indiana a ganhar um Oscar, cuja cerimônia ocorrerá em 12 de março.

Ficção carregada de ação, efeitos visuais e números musicais, “RRR” conta a história de dois revolucionários do país asiático durante a era colonial.

O filme encantou o público dos Estados Unidos ao Japão, quebrou recordes de bilheteria na Índia e foi indicado ao Oscar de Melhor Canção original, depois de vencer Taylor Swift e Rihanna na mesma categoria no Globo de Ouro.

“Quando vou ao cinema, quero ver personagens exuberantes, situações exuberantes, dramas exuberantes”, afirma Rajamouli.


Fenômeno indiano

Filme falado em telugo, um dos 22 idiomas oficiais da Índia, "RRR" se tornou a maior bilheteria da história do cinema daquele país.

A indicação ao Oscar é uma carta de apresentação do prolífico, embora menos conhecido, cinema do Sul da Índia para o mundo.

Bollywood, a indústria de cinema na língua hindi do país asiático, é reconhecida como a mais produtiva do mundo. Porém, os prêmios internacionais de destaque geralmente são reservados para os filmes em inglês.

Isso mudou quando “Parasita”, longa dirigido pelo sul-coreano Bong Joon-ho, levou quatro estatuetas do Oscar em 2020, inclusive as de Melhor Filme e Melhor Diretor.

As raras obras indianas vencedoras do Oscar foram produções em inglês: “Ghandi” (1982) e o britânico “Quem quer ser um milionário?” (2008), ambientado em Mumbai.
 
 

Rajamouli espera que o prêmio pela cena de dança da canção “Naatu Naatu” abra caminho para outros cineastas indianos.

Filmada em frente ao palácio presidencial da Ucrânia antes da guerra, a cena exibe atuações intensas dos dois protagonistas, enquanto confrontam o rival.

“Estamos abrindo caminho, mas dando passos muito, muito iniciais”, afirma o diretor indiano, de 49 anos. “Veja, por exemplo, o progresso que a Coreia do Sul teve. Deveríamos nos inspirar nisso, em todos os cineastas indianos.”
 

Filho de roteirista, fã de Spielberg e Cameron

Rajamouli nasceu no estado de Karnataka, no Sul da Índia. O pai, roteirista, o apresentou à indústria cinematográfica.

Fã dos diretores Steven Spielberg e James Cameron, suas primeiras influências foram filmes de Hollywood como “Ben-Hur” e “Coração valente”.

O cineasta ganhou fama com o drama histórico de ação “Baahubali” (2015), até então a obra audiovisual mais cara produzida na Índia. O longa influenciou uma onda de filmes do sul do país, que lideraram as bilheterias poliglotas indianas.
 
Diretor  S. S. Rajamouli exibe o troféu do Annual Critics Choice Awards de Melhor Filme em língua estrangeira, em Beverly Hills,

Em janeiro, S. S. Rajamouli recebeu o Annual Critics Choice Awards de Melhor Filme em língua estrangeira, em Beverly Hills

Michael Tran/AFP
 

A sequência de 2017 teve boa recepção do público – os dois longas estão entre as maiores bilheterias da história deste país de 1,4 bilhão de habitantes.

O diretor diz sentir “agradavelmente surpreso” com o acolhimento de “RRR” no Ocidente, onde falta “entretenimento maximalista”, na opinião dele.

Sucesso nas salas de cinema e no streaming

“RRR” está entre os filmes indianos de maior bilheteria nos cinemas dos EUA, apesar de ter entrado para o catálogo da Netflix dois meses depois de estrear em 1,2 mil salas do país, em março de 2022.

Foi algo “sem precedente” e “um caso à parte”, destacou David A. Gross, analista da publicação especializada Franchise Entertainment Research. Embora disponível na plataforma de streaming, o longa continuou enchendo salas de cinema nos EUA.

Filmes de Rajamouli foram comparados aos de super-heróis. Ele se sentiria honrado se fosse convidado para para dirigir um longa do Universo Cinematográfico Marvel.

Apesar dos elogios, “RRR” recebe críticas por algumas nuances preocupantes, como a promoção do nacionalismo hindu e a hipermasculinidade.

O filme ressalta a mitologia hindu e o fervor nacionalista, enquanto cineastas são atacados repetidamente pela direita hindu nas redes sociais.

Defensores dos direitos humanos alertam para as prisões de estrelas de Bollywood sob o governo do primeiro-ministro Narendra Modi, nacionalista hindu.
 
Rajamouli cresceu em família profundamente religiosa, embora seja ateu e diga que “religião é essencialmente exploração”.

O cineasta avisa: “Não tenho nenhuma agenda oculta (...) Faço filmes para pessoas dispostas a gastar o dinheiro que ganham em ingressos de cinema.”

S. S. Rajamouli atribui críticas a seu filme à polarização do debate político na Índia, incapaz de alcançar pontos de concordância. 

AS INDICADAS

Oscar de Melhor Canção original

»  “Applause”
• De Sofia Carson
• Filme: “Tell it like a woman”

»  “Hold may hand”
• De Lady Gaga
• Filme: “Top Gun: Maverick”

»  “Lift me up”
• De Rihanna
• Filme: “Pantera Negra: Wakanda para sempre”

»  “Naatu Naatu”
• De M.M. Keeravaani, Kala Bhairava e 
     Rahul Sipligunj
• Filme: “RRR: Revolta, rebelião, revolução”

»  “This is a life”
• De Son Lux
• Filme: “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”
 

“RRR: REVOLTA, REBELIÃO, REVOLUÇÃO”

Índia, 2022. Direção de S. S. Rajamouli. Com Alia Bhatt, Ajay Devgn, Ram Charan Teja, N.T. Rama Rao Jr., Ray Stevenson e Alison Doody. Dois revolucionários e sua jornada longe de casa antes de lutar contra a opressão do Império Britânico imposta à Índia. Disponível na Netflix.