A atriz Michelle Yeoh em cena de luta com espada em 'Tudo em todo lugar ao mesmo tempo'

Michelle Yeoh foi indicada ao Oscar na categoria de Melhor Atriz

Diamond Film/Divulgação

 Surpresa mesmo foi a quantidade de indicações, 11 ao todo. Mas era mais do que esperado que “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, deDaniel Kwan e Daniel Scheinert, fosse o ponta de lança de nomeações na 95ª edição do Oscar, que será realizada no próximo dia 12 de março, em Los Angeles. 

A lista de indicados, anunciada nesta terça-feira (24/1), mostra a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas tentando se encaixar no mundo. Há alguns passos à frente, mas também alguns que ainda referendam a velha Hollywood. 

 

O destaque dado a “Tudo em todo lugar” se traduz em uma busca por diversidade e em dar visibilidade a quem foi pouco ouvido pela indústria. A protagonista Michelle Yeoh, malaia, se tornou a primeira intérprete asiática a ser indicada na categoria de melhor atriz.
 

Por outro lado, o reconhecimento a “Entre mulheres” com as indicações a melhor filme e roteiro adaptado não garantiu à cineasta e roteirista Sarah Polley uma indicação de direção. Mal o anúncio terminou e a hashtag “OscarsSoMale” (Oscar tão masculino) foi criada. 

Além de “Entre mulheres”, outro filme capitaneado por uma diretora que não foi nomeada é “Aftersun”, de Charlotte Wells (indicado a melhor ator com Paul Mescal). “A mulher rei”, de Gina Prince-Bythewood, com Viola Davis, sequer foi lembrado pela Academia.

Também ficaram ausentes das nomeações atores negros na categoria principal. Mas o 95º Oscar já bateu um recorde: esta é a edição que mais conta com intérpretes asiáticos entre os indicados. Além da supracitada Yeoh, “Tudo em todo lugar” recebeu nomeações para ator e atriz coadjuvante, Ke Huy Quan e Stephanie Hsu. E Hong Chau, de “A baleia”, está na disputa de atriz coadjuvante também.

Na sequência do líder em indicações, comédia irlandesa "Os Banshees de Inisherin", de Martin McDonagh, e o alemão "Nada de novo no front", de Edward Berger, empataram com nove cada um. A cinebiografia “Elvis”, de Baz Luhrmann, conseguiu oito, e o drama semi-biográfico “Os Fabelmans”, de Steven Spielberg, sete.

Com a não indicação de “Sideral”, de Carlos Segundo, na categoria curta-metragem, mais uma vez o Brasil ficou de fora do Oscar. Mas tem brasileiro na jogada. O belo-horizontino Daniel Dreifuss, radicado há 20 anos em Los Angeles, é um dos produtores de “Nada de novo no front”. 

E esta não é a primeira vez que um longa produzido por ele chega à reta final do Oscar. Dreifuss também produziu o chileno “No”, de Pablo Larraín, que em 2013 foi indicado a melhor filme internacional.

Com suas nove indicações, “Nada de novo” superou o sul-coreano “Parasita”, que em 2019 recebeu seis – quatro delas viraram estatuetas, inclusive de melhor filme e filme internacional. A produção alemã sobre a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) também foi nomeada nestas duas categorias.

Isto poderá dificultar a vida dos demais candidatos à filme internacional: “Argentina, 1985” (a oitava indicação do país vizinho, que ostenta duas estatuetas nesta categoria), o belga “Close”, o polonês “Eo” e o irlandês “The quiet girl”.

A tradição de Hollywood, dos blockbusters e dos grandes diretores, está bem representada. Filme que amealhou quase US$ 300 milhões mundo afora, “Elvis” foi indicado em oito categorias. Já “Os Fabelmans”, em que Spielberg passa a limpo a sua história familiar durante a infância e a adolescência, foi nomeado em sete.

As maiores bilheterias do último ano também foram lembradas. “Top Gun: Maverick”, que amealhou US$ 1,5 bilhão e mostrou a força de Tom Cruise aos 60 anos, está em seis categorias, incluindo a de melhor filme. “Avatar: O caminho da água”, que já ultrapassou os US$ 2 bilhões, recebeu quatro – e é um dos 10 títulos da disputa do prêmio principal.

Mas o barulho pela sequência de “O caminho da água” no Oscar é muito menor do que a do filme original. Em 2010 “Avatar” recebeu nove nomeações – três delas se concretizaram em estatuetas. E, desta vez, James Cameron não foi incluído na lista de indicados a melhor diretor.

Ainda que falte um mês e meio para a cerimônia, não há como negar que a temporada é mesmo de “Tudo em todo lugar”. Além do Oscar, o filme da dupla que assina como Daniels está com participações de peso em outras premiações importantes: foi nomeado em 10 categorias do Bafta, oito do Independent Spirit, cinco do Screen Actors (Sindicato dos Atores).

Já venceu mais de 250 troféus em festivais e premiações. Mesmo capitaneado por dois nomes da indústria, os irmãos Anthony e Joe Russo são os produtores, o filme é independente e dirigido por dois jovens cineastas formados pela produção de videoclipes. No Brasil, ficou 19 semanas em cartaz – custou US$ 25 milhões e sua bilheteria mundial quadruplicou este valor.

A narrativa não se encaixa em nenhum gênero. É uma comédia, mas carrega muitos dramas. É também uma ficção científica, pois trata de universos paralelos, os metaversos como chamamos hoje. É falado em três idiomas, inglês, cantonês e mandarim, e trata, de uma maneira absolutamente original, da vida de imigrantes – no caso, uma família de chineses com uma vida dura e comum nos EUA.