Câmeras e imagens de cinema acompanham o drama de vítimas da tragédia

Câmeras e imagens de cinema acompanham o drama de vítimas da tragédia ambiental ocorrida em Minas

Renan Perobelli/divulgação

Em 25 de janeiro de 2019, ocorreu o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho. A tragédia deixou 270 mortos, 300 quilômetros do Rio Paraopeba com água contaminada, 17 municípios afetados e a perda de 138 ha de florestas nativas, equivalentes a 153 campos de futebol. 

Passados quatro anos, corpos de três vítimas ainda não foram encontrados e os sobreviventes vivem um drama. Quase quatro anos antes, outro rompimento, desta vez em Mariana, havia causado crime ambiental com repercussão mundial.

Para que esses eventos não sejam apagados pela ação do tempo, o Grupo Girino idealizou a peça “Desmonte”, que será apresentada nesta terça-feira (24/1), no Teatro Feluma, na programação da 48ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança. Após o espetáculo, haverá bate-papo do elenco com o público.

Homenagem às vítimas

A data da sessão tem motivo. Encenar o espetáculo na véspera dos quatro anos do rompimento em Brumadinho “é uma forma de homenagear as vítimas diretas da mineração predatória”, afirma Iasmim Marques, atriz e produtora do grupo.

Ela vai contracenar com Marco Aurélio Bari e Kely Daiana. O trio interpreta a idosa que passou a vida inteira em Brumadinho e perdeu tudo na tragédia, o funcionário da mineradora e a moça grávida que estava hospedada no hotel destruído pela lama.
 

''Este espetáculo é necessário para que as pessoas não se esqueçam do que aconteceu. Quando mantemos a memória viva, discutimos e pensamos possibilidades para que isso não se repita''

Iasmin Marques, atriz

 

O enfoque nos três tem o objetivo de “personificar” o fato ocorrido em 2019 para que as vítimas não sejam reduzidas a meros números. A senhora que passou a vida inteira na região destruída, por exemplo, simboliza o cuidado com a terra, explica a atriz Iasmin Marques.

“É aquela pessoa que tem memórias e afetos no espaço onde cresceu e mantém relação sustentável com ele. A destruição deste local é o aniquilamento de tudo aquilo que a personagem representa”, ressalta.

O funcionário da mineradora encarna o dilema que vários moradores da região enfrentaram: eram, ao mesmo tempo, dependentes e vítimas da empresa.

Kely Daiana vive alguém que realmente existiu: a administradora Fernanda Damian. Grávida de cinco meses, ela morava com o marido na Austrália. Em janeiro de 2019, havia se hospedado em um hotel na região de Brumadinho para realizar o chá de bebê. A enxurrada de lama tóxica soterrou o estabelecimento, matando Fernanda e o bebê.

“Este espetáculo é necessário para que as pessoas não se esqueçam do que aconteceu. Quando mantemos a memória viva, discutimos e pensamos possibilidades para que isso não se repita”, afirma Iasmim Marques.
 
a objetos cênicos para rememorar dramas individuais das personagens

Sem falas, a peça recorre a objetos cênicos para rememorar dramas individuais das personagens

Hugo Honorato/divulgação
 

Escrita e dirigida por Tiago Almeida, a peça não tem falas. A narrativa se dá por meio de cerca de 160 elementos cênicos, entre bonecos, maquetes e miniaturas. A trilha sonora é assinada por Daniel Nunes.

“Usamos a técnica do live cinema, é como se fosse cinema ao vivo”, destaca Iasmim. “Ao mesmo tempo em que estão encenando, os atores manipulam câmeras que trazem um sistema de projeção. À medida que a narrativa avança no palco, as imagens vão sendo projetadas, explorando a linguagem audiovisual e cinematográfica, por meio do enquadramento e das camadas de sentido”, explica.

Apagamento e solidão

Dividida em três atos, a narrativa apresenta os personagens, o rompimento da barragem e, por fim, as consequências do acidente sobre a vida de cada um.

“Até hoje há pessoas que não foram resgatadas. Elas tiveram vidas e rotinas soterradas pela lama. Seguimos a narrativa na perspectiva de mostrar esse apagamento, a solidão dessas vítimas e o descaso das autoridades”, afirma a atriz.

Também são exibidas imagens vindas de câmeras de segurança da barragem, registrando o momento exato do rompimento. “A essência do espetáculo é mostrar que a vida é muito mais importante do que o lucro”, finaliza Iasmim Marques.

“DESMONTE”

•Texto e direção: Tiago Almeida. Com Iasmim Marques, Marco Aurélio Bari e Kely Daiana.
•Nesta terça-feira (24/1), às 20h, no Teatro Feluma. Alameda Ezequiel Dias, 275, 7º andar, Centro.
•Ingressos a R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) nos postos da Sinparc, localizados no Shopping Cidade (Rua Tupis, 337, Centro, aberto hoje das 10h às 19h) e no Pátio Savassi (Av. do Contorno, 6.061, São Pedro, aberto hoje das 12h às 19h). À venda no site vaaoteatromg.com.br.