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Estado de Minas "A ÚLTIMA SESSÃO DE MÚSICA"

Pacífico Mascarenhas, o 'padrinho' de Bituca

Pioneiro da bossa nova em Minas levou Milton Nascimento para conhecer o Rio e cantar no disco do Sambacana, o primeiro do futuro astro em uma grande gravadora


12/11/2022 04:00 - atualizado 12/11/2022 23:54

Pacífico Mascarenhas toca violão
Pacífico Mascarenhas se orgulha de ter convidado Milton Nascimento para gravar disco do Sambacana (foto: Acervo pessoal)

Neste domingo (13/11), Milton Nascimento se despede dos palcos – mas não da música – em show no Mineirão. Em seis décadas de ofício, jornada iniciada em Belo Horizonte,, são muitas histórias para contar. Uma delas quem revela é o empresário e compositor mineiro Pacífico Mascarenhas, dizendo-se orgulhoso de ser o responsável pela ida de Bituca para conhecer sua cidade natal, o Rio de Janeiro. Afinal, Milton chegou a Minas ainda bebê e foi criado em Três Pontas pelos pais adotivos, Josino e Lilia.

Pacífico conta que em 1963, quando levou Bituca, então com 21 anos, e o amigo Wagner Tiso para o Rio de Janeiro, os dois “conheciam” o Leme, Copacabana, Arpoador, Ipanema e o Leblon apenas pelas canções da bossa nova.

O compositor mineiro, que era amigo de João Gilberto, iria ao Rio de Janeiro gravar o segundo disco autoral, cujas faixas seriam interpretadas pelo grupo Sambacana.
 
Da esquerda para direita: Alfredo Buzelin (crítico musical), Roberto Guimarães (compositor), Milton Miranda (diretor artístico da Odeon), Celinho Piston (assentado no chão), Wagner Tiso (com o contrabaixo), Pacífico Mascarenhas e Milton Nascimento, com o violão, sentado no chão
Da esquerda para direita: Alfredo Buzelin (crítico musical), Roberto Guimarães (compositor), Milton Miranda (diretor artístico da Odeon), Celinho Piston (assentado no chão), Wagner Tiso (com contrabaixo), Pacífico Mascarenhas e Milton Nascimento, com o violão, sentado no chão (foto: Arquivo Pacífico Mascarenhas)
 
 
“Conheci Bituca no início dos anos 1960, quando ele, Wagner, seu irmão Gileno Tiso e mais uns três ou quatro amigos de Três Pontas vieram até minha casa, na Savassi. Na época, eu tinha certa fama em Minas e no Rio, pois havia gravado o volume 1 do 'Sambacana', pela Odeon, que estava fazendo sucesso. Esse álbum contou com arranjos de Roberto Menescal e com o Eumir Deodato nos teclados, além da cantora Joyce Moreno, então com 15 anos, iniciando a carreira”, relembra.

Os rapazes de Três Pontas, segundo Pacífico, disseram a ele que ouviam bossa nova na cidade deles. Adoravam. “Meu disco ‘Sambacana’ era bastante comentado em Belo Horizonte, tocava muito nas principais rádios cariocas daquela época.”, diz. 

A turma ficou ali conversando sobre música, até que Tiso assumiu o piano e Bituca o contrabaixo acústico que Pacífico guarda em casa até hoje.

“Os dois começaram a cantar em dueto vários sucessos da bossa nova. Foi muito legal. Incomparável, a voz de Bituca me encantou logo de cara”, revela Pacífico, que convidou o rapaz para participar do segundo álbum do “Sambacana”.

O disco se chamaria “Muito pra frente” e contaria também com Wagner e Gileno Tiso, Marcos de Castro e Sergio Salles. “Pedi para que ele cantasse as minhas músicas no álbum e Bituca concordou na hora. Eu tinha contrato firmado com a Odeon para dois LPs, só havia gravado o primeiro. Então, era a chance, pois eu havia gostado muito da voz de Bituca.”

Milton e Wagner estavam sem tocar em BH. Pacífico os levou à casa do compositor, pianista e acordeonista Célio Balona. “Balona os convidou para ir até o Ponto do Músico, na esquina de Avenida Afonso Pena com Rua Tupinambás. Os músicos da cidade se encontravam lá para buscar trabalho e conversar sobre o que estava acontecendo no meio.”

Célio pediu para que Milton e Tiso fossem ao Ponto do Músico de terno escuro, pois já haveria trabalho: uma festa à noite. Pacífico levou os dois para se hospedarem numa pousada na Savassi. Assim, eles poderiam ficar perto da casa do maestro Marcos de Castro, local dos ensaios do álbum.

Após vários meses de ensaio, a Odeon marcou o dia da gravação de “Muito pra frente” com o Quarteto Sambacana.

De Simca na BR-3

Meses depois, Milton e Wagner partiram para o Rio de Janeiro, no Simca Chambord 1960 de Pacífico. “No estúdio da gravadora Odeon, a voz maravilhosa de Bituca encantou a todos. Ele colocou alguns vocais nas 14 faixas do álbum”, conta.

“O disco 'Muito pra frente' foi lançado em 1965, marcando a estreia oficial de Bituca como solista em um álbum lançado por gravadora”, garante Pacífico.

Concluído o disco, Bituca e Wagner pediram a Pacífico que os levasse à sede da gravadora RCA Victor. “Quando lá chegamos, encontramos o maestro pernambucano Moacir Santos (1926-2006), um velho conhecido, que estava produzindo o álbum ‘Luiza’ (RCA). Junto do maestro estava a cantora Luiza”.

Moacir convidou os três para fazerem os vocais de uma gravação. “Acabou que eu, Bituca e Wagner participamos do disco de Luiza, que ainda gravou uma parceria minha com Gilberto Mascarenhas, ‘Olhando estrelas no céu’”, relembra o líder do Sambacana.

Com Elis em Copacabana

Depois da gravação, Pacífico e os jovens mineiros foram a uma festa em Copacabana. “Estava cheio de convidados importantes, inclusive a cantora Elis Regina. Apresentei-a para o Bituca. Os dois conversaram bastante e acabaram se tornando grandes amigos depois”, recorda. Pacífico também levou Milton ao apartamento do cantor Tito Madi (1929-2018).

“Quando conheci Bituca, em 1963, resolvi enviar uma fita cassete com ele tocando violão e cantando para o João Mello, produtor da Phillips. O objetivo era que ele a mostrasse ao diretor artístico João Araújo, pai de Cazuza. Infelizmente, não tive retorno”, diz Pacífico.

O mesmo ocorreu quando, por meio de Humberto Reis, diretor da Rádio Tamoio, ele enviou material de Milton para a Equipe, na qual Eumir Deodato gravava.
 
“Infelizmente, a gravadora também não se manifestou. Perdeu a oportunidade de ter em seu cast um dos maiores gênios musicais do mundo”, afirma Pacífico.
 
Milton Nascimento canta no 2º Festival Nacional de Música Popular
Milton Nascimento canta no 2º Festival Nacional de Música Popular, da TV Excelsior (foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/1969)
 
 
Em 1967, Milton Nascimento chamaria a atenção do país ao se apresentar no Festival Internacional da Canção (FIC), cantando “Travessia”, parceria dele com Fernando Brant.

Começou ali uma outra história, que Bituca certamente vai relembrar, neste domingo, para o Mineirão lotado.


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