Atores com jaleco branco em corredor de hospital olham para a câmera com expressão séria

Na série francesa "Hipócrates", estudantes de medicina se veem responsáveis por um hospital em seu primeiro dia de trabalho

Reserva Imovision/Divulgação

E se um setor inteiro de um hospital público ficasse sob responsabilidade de estudantes de medicina inexperientes? Esse é o mote de “Hipócrates”, série francesa do cineasta e ex-médico Thomas Lilti, recém-lançada pela plataforma Reserva Imovision.

Depois de se formar em medicina e trabalhar por alguns anos em hospitais públicos de Paris, Lilti migrou para o cinema em 1999 com o curta "Quelques heures en hiver" ("Algumas horas no inverno", em tradução livre). Dirigiu e roteirizou longas-metragens, até fazer sua estreia em séries com “Hipócrates”.

A trama acompanha o drama dos residentes em medicina do hospital público Raymond-Poincaré, de Paris Chloé (Louise Bourgoin), Alyson (Alice Belaïdi) e Hugo (Zachaire Chasseriaud), que, justamente no primeiro dia de trabalho, recebem a notícia de que os médicos responsáveis por orientá-los foram afastados por tempo indeterminado, após ter contato com paciente morto por um vírus desconhecido.

Farsa

Faltando claramente com o juramento de Hipócrates, que, entre outras coisas, recomenda aos médicos aplicarem os conhecimentos da medicina “para a utilidade dos doentes de acordo com a minha capacidade e meu juízo, abstendo-me de qualquer malefício ou dano (injustiça)”, a diretoria do hospital propõe que os residentes atendam os pacientes apresentando-se como médicos já diplomados e com certa experiência.

É óbvio que a farsa promovida pelo hospital trará consequências graves e irreversíveis – envolvendo, inclusive, a morte de pacientes. Lilti, no entanto, não pretende se limitar a apenas mostrar o caos. 

A proposta é partir do caos para mostrar como cada personagem lida com dilemas éticos – tais dilemas não são enfrentados somente pelos residentes, mas sim por todos que têm alguma relação profissional com a casa de saúde e sabem da farsa que ela está promovendo.

Diferentemente de produções americanas do gênero (“The good doctor” e “Grey’s anatomy”, só para citar algumas), “Hipócrates” traz personagens que se assemelham a pessoas “normais”, fugindo dos padrões estéticos que guiam a escolha do elenco de seus pares norte-americanos. 

Além disso, Lilti faz questão de mostrar certas incoerências de muitos médicos, ao inserir personagens que aproveitam o tempo de descanso para fumar no estacionamento do hospital.

Embora tenha todos os indícios de ter sido criada durante (ou depois) da pandemia, “Hipócrates” é anterior ao novo coronavírus. A produção foi ao ar originalmente em 2018 e a ideia do roteiro partiu de quando Lilti trabalhava como médico em hospitais públicos de Paris, ainda na década de 1990. 

A série, no entanto, ganha ressignificado nos dias atuais e passa a fazer mais sentido por não estar tão longe da realidade. Ainda que não seja uma obra-prima, “Hipócrates” é uma boa diversão.

Em 2021, o cineasta lançou a segunda temporada, que ainda não está disponível no Brasil. 

“HIPÓCRATES”

A série, em oito episódios, está disponível na Reserva Imovision