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Estado de Minas OS SUDÁRIOS DE EULA

Exposição de arte têxtil ocupa espaço em BH com a força criativa do bordado

Mostra com obras de Eula Teixeira abre lugar para a arte no showroom da designer Mary Arantes na capital


07/07/2022 09:30 - atualizado 07/07/2022 10:07

Eula Teixeira
É pelo tecido e a costura que Eula Teixeira encontra sua identidade na arte (foto: Juliano Arantes/Divulgação)

Entre linhas e agulhas, o desabrochar da arte pelo fio tecido. O nascimento da artista ao som da costura que atravessa entre mãos. A trama que parece reza, tradição que se perpetua, memória despertada. Saber de dentro para fora. Foi percebendo a avó e a mãe criando histórias que partiam da máquina de costurar, espécie de religião que não pede obrigações, que a então menina viu nascer o fazer que daria sentido a uma vida inteira. Eula Teixeira, amante dos armarinhos, encontra nas composições têxteis o caminho para sua expressão criativa. Chamada à criação pelos botões que a convidavam, foi como costureira que se moldou na arte. Inspirações de um percurso entre tecidos diáfanos, sutis, tecidos que esgarçam e puxam fios.

Na exposição Os Sudários de Eula, emergem contornos escorregadios, bichos que escapolem de limites contidos, bordados entrelaçados, entre preto, marinho, roxo, e o vermelho rubro visceral. Entre aquarelas, painéis, esculturas e quadros, as obras têxteis marcam a abertura do espaço do showroom da designer Mary Arantes em Belo Horizonte, que vem sendo ocupado pelas edições da Quermesse da Mary (evento dedicado à moda, design e gastronomia), como galeria de arte. Entre esta sexta-feira (8/7) e domingo (10/7), o salão principal recebe o trabalho de Eula, carinhosamente elencado pela curadoria de Mary.

Obras de Eula Teixeira
Mostra Os Sudário de Eula ocupa showroom de Mary Arantes em BH (foto: Juliano Arantes/Divulgação)

DA INFÂNCIA

O universo da costura e do bordado sempre fez parte da vida de Eula, desde garota. A mãe trabalhava fora e costurava nas horas vagas, e a avó também era uma costureira de mão cheia. "Cresci mergulhada entre linhas, agulhas e tecidos coloridos. Aquilo sempre soou como brincadeira. Até hoje, quando começo a fazer um trabalho, é como se estivesse falando para mim mesma, pequena: Eula, vamos brincar?", diz.

Trabalho de Eula Teixeira
Obras de arte têxtil exploram a beleza do bordado (foto: Hermam Alexander/Divulgação )

A artista é formada pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), pela Escola Guignard, com habilitação em desenho e escultura. Quando ingressou no ensino superior, já era professora de costura e bordado. Lembra que, à época, não tinha a intenção de se tornar artista. Conta que era mais uma curiosidade, um desejo de conhecer outras formas, outros materiais, outras possibilidades. A vontade era explorar a pintura, o papel, o desenho. "A princípio, não disse para ninguém que era costureira. Para mim, aquele era um ofício tão simples e corriqueiro que não valia a pena falar, não tinha novidade".

Pode ser que Eula não percebesse no início, mas a costura lhe daria, logo depois, sua personalidade na arte. "Durante a faculdade é que fui conhecendo artistas que trabalhavam com bordado e costura. E aí eu senti que também poderia utilizar essas técnicas nos meus trabalhos, e isso me possibilitou criar uma identidade muito forte", diz.

SER NA ARTE

Cada painel é um todo, cada painel é parte de outro, contínuo. Uma conversa que convida o inacabado, como se estivesse sempre à espera de um diálogo interminável. Uma linha que entende o erro, que pelo erro pode se tornar um novo, um novo pelo fazer mal feito. Um pedaço que muda de lugar. Para quem aprecia, a vontade de se aproximar, tocar, experimentar a textura.

Obras de arte têxtil
Paleta de cores passeia entre preto, marinho, roxo, e o vermelho rubro visceral (foto: Hermam Alexander/Divulgação )

"O que me importa no desenvolvimento é a simples vontade de fazer. Começa como um impulso, e me interessa o durante na execução do trabalho. É o fazer enquanto se faz, o que inventa o que está por fazer, e o modo de como fazer", descreve Eula. Para ela, o processo criativo muitas vezes flui tranquilamente. Surge a ideia, que leva à escolha do material - ela diz que, na maioria das vezes, é o material que a escolhe.

"Mas, outras vezes, o trabalho fica exaustivo, precisa de um tempo de descanso, de ficar quieto. Nesse momento eu paro, deixo ali por horas, ou dias, e depois retomo. Quando eu volto, pode ser que vou trocar tudo. Desmanchar, cortar, pregar outras coisas. Até acabar o que eu falo que é uma gastura que me dá no estômago. Tenho que tirar aquela gastura. É quando ela sai que o trabalho ficou pronto."

Eula Teixeira costurando
Entre linhas e agulhas, Eula transforma referências da mãe e da avó em seu ofício para a vida (foto: Juliano Arantes/Divulgação)

No caminho do bordar, o processo vai se repetindo ponto a ponto, e para Eula chega um momento em que a produção se desenrola mesmo como uma máquina. É dessa forma que, quando a mão está trabalhando, o pensamento cria as possibilidades de um outro trabalho. "E assim é que vou caminhando, sem saber para onde a arte vai me levar. Mas espero ser levada por ela minha vida inteira."

DE PORTAS ABERTAS

"Pela primeira vez abriremos o espaço da galeria, criada pelo arquiteto Pedro Lázaro, para uma exposição individual no salão principal. Além da Quermesse da Mary, tenho sentido a necessidade de mostrar artistas e pessoas com trabalhos potentes, ciente de que uma mesa no nosso evento é pouco para quem poderia encher nossos olhos e um salão com obras de arte", diz Mary Arantes.

Linhas e agulhas
"É o fazer enquanto se faz, o que inventa o que está por fazer, e o modo de como fazer" - Eula Teixeira (foto: Juliano Arantes/Divulgação)

Ela fala da multiplicidade de artistas que emergem em Belo Horizonte e no estado - são muitos, são únicos. Quase sempre sem ligação com galerias, o que prejudica a visibilidade de seus trabalhos, e as possibilidades de comercialização, como pontua a designer. Em sua opinião, também a mídia virtual não permite a percepção pelo toque, pelos cheiros, pelas diversas sensações que a arte surte no contato ao vivo.

"Sinto desejo de mostrar ao mundo novos talentos, novas descobertas. É o caso de Eula Teixeira. Ela desenvolve uma obra de extrema relevância, além de dar aulas de trabalhos manuais relacionadas ao bordado, à costura e criação artística, amplificando esse fazer em outras vozes", diz Mary.

Criações de Eula Teixeira
Cada painel é um todo, cada painel é parte de outro, contínuo (foto: Juliano Arantes/Divulgação)

A exposição segue na intenção de ocupar cada vez mais a galeria na Serra com arte e cultura. "Se não temos um staff que nos permita trabalhar abertos como galeria, porque não fazer exposições relâmpago, ocupações essas vistas em outros lugares do mundo?", sugere a designer. "Os Sudários de Eula é uma mostra de arte têxtil, impregnada de suor, bordados e aquarelas, que carregam a estampa de Eula, um eu fecundo", complementa.

Os Sudários de Eula
8 a 10 de julho
Sexta e sábado, de 10h às 19h
Domingo, de 10h às 17h
Rua Ivaí, 25, Serra, BH

Curadoria:
Mary Arantes
@coisasdamary 

Obras têxteis:
Eula Teixeira
@eulateixeira


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