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Estado de Minas MÚSICA

Shows gratuitos celebram (com atraso) o Dia Nacional do Choro hoje em BH

Apresentações na Praça Duque de Caxias e no Memorial Vale neste domingo (24/4) destacam o gênero musical festejado em 23/4, data do nascimento de Pixinguinha


24/04/2022 04:00 - atualizado 24/04/2022 07:05

apresentação do grupo Abre a Roda - Mulheres no Choro
O grupo Abre a Roda - Mulheres no Choro é uma das atrações de hoje na Praça Duque de Caxias (foto: Groove Studios Audiovisual/Divulgação)

O calendário registra o 23 de abril – data em que nasceu Pixinguinha, há 125 anos – como o Dia Nacional do Choro, mas as celebrações em torno do gênero, pelo menos em Belo Horizonte, estão mesmo concentradas neste domingo (24/4). 

A Praça Duque de Caxias, no bairro Santa Tereza, será palco para a retomada do projeto Minas ao Luar, que, em parceria com o Clube do Choro de Belo Horizonte, promove uma série de shows, a partir das 9h. No Memorial Vale, o cavaquinhista Warley Henrique também se apresenta, com repertório focado em clássicos do choro.

Ao longo da semana, entre a próxima quinta-feira (28/4) e o dia 1º de maio, os integrantes do Clube do Choro seguem com uma série de rodas, em diferentes bares da cidade. Já o grupo Regional da Serra dá continuidade, também ao longo da semana, ao projeto “Encontro com o melhor público”, que estreou no início deste mês e consiste em apresentações em diversas casas de amparo a idosos da cidade.

Tais eventos fazem emergir, após mais de dois anos de restrições impostas pela pandemia, o gênero que, na capital mineira, sempre se mostrou vigoroso, com uma quantidade significativa de músicos, grupos, público e espaços que abrigam esse contingente. 

Sobretudo a partir dos anos 2000, Belo Horizonte assistiu a uma constante renovação no ecossistema do choro, com uma notável ampliação de seu raio de alcance – o que redunda, também, na presença frequente na cidade de artistas de renome nacional que se dedicam ao gênero.

O Minas ao Luar oferece um belo painel desse cenário. A programação prevê apresentações do Clube do Choro, do coletivo Abre a Roda - Mulheres no Choro e de uma seleção nacional de acordeonistas – Marcelo Jiran (MG), Bebê Kramer (RS), Marcelo Caldi (RJ) e Luizinho Calixto (PB) – que terão seu momento solo e, ao final, se juntam aos músicos do Clube do Choro para o encerramento do show.

Acordeom 


Atual diretor do Clube do Choro de Belo Horizonte, Paulo Ramos explica que, desde a primeira vez que a entidade promoveu uma celebração em torno do gênero, o mote é a homenagem não a um artista, mas a um instrumento.

Ilustração
(foto: Ilustração/EM/D.A Press)
Na edição inaugural foi o trombone, depois o bandolim, depois a flauta e agora, nesta retomada das atividades presenciais, o acordeom. “Com essa premissa, a gente convida pessoas que tocam o instrumento dos mais diversos cantos do Brasil, para que se tenha um panorama nacional”, diz Ramos.

Ele adianta que o repertório que será apresentado se ancora, principalmente, nos clássicos do gênero que, ao longo do tempo, foram formatados com uma instrumentação que comporta o acordeom. 

“Tem muita coisa da velha-guarda que se encaixa. ‘Santa morena’, do Jacob do Bandolim, certamente será executada, porque permite ao solista uma performance interessante no acordeom. Waldir Azevedo também se adapta muito bem a essa proposta. Teremos este ano um pouco menos de Pixinguinha, justamente por suas composições serem menos adaptáveis ao acordeom”, observa.

Se a apresentação do Clube do Choro é calcada na tradição, a do Abre a Roda - Mulheres no Choro (grupo que, como o nome entrega, é formado apenas por mulheres) traz ares de contemporaneidade ao Minas ao Luar, já que o repertório que será executado mescla os clássicos do gênero com composições assinadas por suas integrantes.

Paulo Ramos credita a pujança do choro em Belo Horizonte, em grande parte, à constante renovação de público e de instrumentistas, que não apenas executam o repertório clássico, mas também compõem, num movimento de permanente arejamento do gênero.

Mescla 


“Até onde eu sei, Belo Horizonte é a única cidade do país que tem uma agenda de choro a semana inteira, com rodas acontecendo de segunda a segunda em bares e espaços culturais. É um gênero muito bem recebido na cidade, com gente jovem ouvindo e fazendo choro. E existe uma mescla, porque os músicos da velha guarda tocam lado a lado com essa meninada”, comenta. Ele aponta que o Clube do Choro, que completa 16 anos de fundação em maio, vai retomar um projeto que visa justamente jogar luzes sobre a atual produção do gênero.

“É uma iniciativa nossa muito interessante que a pandemia interrompeu e que agora vamos ativar novamente. Existem muitos compositores de choro por aí cujos trabalhos nem sempre chegam ao público. Esse projeto do Clube do Choro é um concurso de músicas inéditas aberto para o Brasil inteiro. Quem sabe tem alguma pérola escondida por aí que ainda não conhecemos? O Clube tem essa ótica da renovação, porque também é uma forma de divulgar e de preservar. Tem quem já fez, quem esteja fazendo e quem ainda vai fazer”, diz.

Ramos conta que trabalhou como produtor na Festa da Música, evento realizado ao longo de sete anos pela Fundação Assis Chateaubriand, pelo jornal Estado de Minas e pela Guarani FM, e que essa foi uma inspiração para que criasse, em 2008, o festival BH Choro – o que ele considera um marco do gênero na capital.

“Criei esse projeto, que foi selecionado no primeiro edital Natura Musical. O BH Choro levou o gênero, que estava limitado aos bares, para a praça pública. A gente tinha recursos, então trouxemos Paulo Moura, Hamilton de Holanda, Silvério Pontes, Zé da Velha e juntamos com a nata do choro em BH. Acredito que tenha sido um ponto de virada, porque, a partir dali, começaram a aparecer vários outros projetos similares. Nada acontece de forma isolada, mas o BH Choro foi um tijolo importante na construção desse cenário que temos hoje”, diz.

Mulheres 


Formado por Maria Elisa Pompeu (cavaquinho), Luciana Alvarenga (piano), Alice Valle (flauta), Thamiris Cunha (clarinete), Marina Gomes (cantora e percussionista), Raíssa Anastasia (flauta e bandolim), Maria Bragança (sax), Shari Simpson (flauta), Fernanda Vasconcelos (violão), Claudia Sampaio (sax) e Bárbara Veronez (canto), o Abre a Roda - Mulheres no Choro também é um bom exemplo de como o gênero se espraia pela cidade.

Também diretora musical do grupo, Raíssa conta que o Abre a Roda surgiu, em 2017, a partir da percepção de que não havia mulheres nas rodas de choro que aconteciam na cidade. “A gente, que frequentava as rodas, sentia essa ausência de mulheres tocando. Foi a Michelle Barreto, que também é cantora e atriz, quem teve a ideia de montar um grupo e aglutinou o pessoal”, afirma.

Ela recorda que, no início, eram mais de 20 musicistas integrando a formação, todas diletantes, mas algumas com pouca ou nenhuma experiência de tocar em uma roda de choro. “Ensaiamos e depois passamos a nos apresentar em bares. Começamos com o repertório tradicional do choro. Eu não compunha antes, me tornei compositora a partir da criação do grupo. É um movimento muito interessante, muito acolhedor, porque a gente se fortalece como coletivo, como mulheres e como musicistas”, diz, acrescentando que a formação do grupo muda constantemente, sempre com algumas integrantes saindo e outras chegando.

Autorais 


Na apresentação de hoje no Minas ao Luar, Luciana Alvarenga e Maria Bragança estarão ausentes, em razão de outros compromissos, mas todas as outras sobem ao palco para executar um repertório que inclui tanto os clássicos do gênero quanto temas autorais. A formação se completa com a presença do cavaquinhista Zé Carlos, que é padrinho do grupo e comparece como convidado especial, executando temas de Waldir Azevedo.

Raíssa destaca que o roteiro musical privilegia obras de compositoras, o que é uma premissa do grupo desde sua criação. “É uma forma de dar visibilidade para as mulheres no âmbito da música instrumental. Tem clássicos do gênero, de Chiquinha Gonzaga a Luciana Rabello, mas também tem composições minhas, da Thamiris, da Luiza Mitre e da Mariana Bruckers, que são ex-integrantes do grupo”, diz.

Essa será a primeira apresentação em palco desde a chegada da pandemia – o grupo vinha fazendo, desde dezembro do ano passado, uma roda fixa, às terças-feiras, com formação reduzida a cinco instrumentistas, no Santo Boteco, no bairro São Pedro.

Assim como Paulo Ramos, ela também enxerga a capital mineira como o mais importante polo do gênero no país. “Viajo muito e sempre frequento rodas de choro onde vou. Na minha percepção, Belo Horizonte é a capital do choro no Brasil, por causa da quantidade de músicos, de instrumentistas que se dedicam ao gênero. A gente tem rodas acontecendo a semana inteira. Estão sempre surgindo novos grupos e novos músicos, é um movimento que não para e que está sempre crescendo. A gente imaginou que ia arrefecer com a pandemia, mas voltou com força total”, ressalta.

Público cativo 


ara Warley Henrique, não é de hoje que Belo Horizonte é um importante polo para o cenário do choro em âmbito nacional. Ele também destaca o fato de as rodas acontecerem de segunda a segunda, sempre mobilizando um público cativo e numeroso. “Era uma realidade anterior à pandemia e que agora voltou a ser. Isso se mantém porque sempre aparecem grupos novos. É uma presença cada vez mais marcante”, diz.

Veterano da cena, ele considera gratificante perceber que as sementes lançadas seguem dando frutos. “Sou de uma geração que ocupou muito a cidade com rodas de choro, descobrimos e nos instalamos em vários espaços. É muito bom ver esse cenário se expandindo, com uma outra geração chegando e dando continuidade. Essa ideia de descobrir e ocupar permanece”, diz. 

Warley destaca o surgimento de novos redutos do gênero, como o que ele próprio mantém na Pampulha, a Vila Cultural Chora Cavaco, na Avenida Otacílio Negrão de Lima, que recebe rodas de choro todos os domingos.

“É um gênero que atravessou o século e segue firme, com os músicos se apropriando dessa linguagem, tocando, compondo, gravando, promovendo festivais. É um estilo de música muito potente e que continua aí, na ordem do dia”, destaca. 

Sua apresentação de logo mais no Memorial Vale, em duo com o percussionista Robson Batata, em celebração pelo Dia Nacional do Choro, será pautada por um repertório focado principalmente em Pixinguinha, mas que também contempla nomes como Waldir Azevedo e Jacob do Bandolim, com temas como “Carinhoso”, “Rosa”, “Naquele tempo” e “Pedacinhos do céu”.


PROJETO MINAS AO LUAR 
Com Clube do Choro, Abre a Roda - Mulheres no Choro, Marcelo Jiran, Bebê Kramer, Luizinho Calixto e Marcelo Caldi, neste domingo (24/4), das 9h às 13h, na Praça Duque de Caxias, Santa Tereza. Gratuito

WARLEY HENRIQUE E ROBSON BATATA
Show do cavaquinista e do percussionista, em homenagem ao Dia Nacional do Choro, neste domingo (24/4), às 11h, no Memorial Vale (Praça da Liberdade, 640, Funcionários). Entrada franca, mediante retirada antecipada de ingresso no local.


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