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Estado de Minas PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Museu de Ouro Preto recebe livro raro editado por padre inconfidente

Degredado em Lisboa, o religioso e tipógrafo Manoel Rodrigues da Costa traduziu 'Tractado da cultura dos pessegueiros'. Livro ficará exposto a partir de maio


19/04/2022 04:00 - atualizado 18/04/2022 23:36

Interior do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, com mesas e objetos
Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, preserva a memória da Conjuração Mineira (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press)

Na Semana da Conjuração Mineira, quando se lembram “os 230 anos do sacrifício de Tiradentes”, e no ano do bicentenário da Independência do Brasil, Ouro Preto, na Região Central do estado, valoriza ainda mais as páginas da história com a chegada de uma obra importante.

Em cerimônia na tarde desta terça-feira (19/4), no Museu da Inconfidência, haverá a entrega oficial do livro “Tractado da cultura dos pessegueiros”, traduzido do original francês e editado pelo padre inconfidente Manoel Rodrigues da Costa (1754-1844), com publicação em Lisboa, Portugal, em 1801.

A doação do exemplar ao museu – iniciativa do município de Ouro Preto, com apoio do historiador Edson Brandão e patrocínio de empresa privada – mostra que a grandeza do patrimônio se faz com edificações, objetos, documentos e também com os livros.

“O 'Tractado da cultura dos pessegueiros', obra rara a ser exposta a partir de maio, ficará ao lado dos paramentos usados pelo padre Manoel Rodrigues da Costa, já à mostra no Museu da Inconfidência. Temos ainda uma biblioteca no anexo, a Casa do Pilar”, informa o diretor do museu, Alex Calheiros.

Com enfoque em tema agrícola, o livro em língua portuguesa tem 136 páginas, 16 estampas e texto original atribuído a De Combles, com o título original “Traité da la culture des pêchers”. Foi escrito provavelmente na primeira metade do século 18.

REBELDE NONAGENÁRIO

Nascido no antigo Arraial da Igreja Nova, atual Barbacena, o padre Manoel Rodrigues da Costa foi o mais longevo dos inconfidentes – viveu 90 anos – e um dos mais cultos. Possuía  biblioteca, então raridade em Minas Gerais no período colonial.

O sacerdote vivia em sua Fazenda do Registro, remanescente da abertura do Caminho Novo da Estrada Real, pouso de tropeiros e visitada regularmente por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), expoente máximo da Inconfidência Mineira, além de destino das comitivas de Dom Pedro I (1798-1834) em duas ocasiões (1822 e 1831).

Detalhe da capa do livro 'Tractado da cultura dos pessegueiros'
Livro escrito no século 18 foi reeditado em 1801 em Lisboa (foto: Edson Brandão/reprodução)
Conforme as pesquisas do historiador Edson Brandão, que identificou a obra em um leilão e despertou o interesse da Prefeitura de Ouro Preto em levá-la para o Museu da Inconfidência, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), as mais de duas centenas de livros existentes na casa do padre atestavam a vasta cultura dele.

“Sabemos que, além de leitor, ele também produziu manuscritos e um livro de temas agrícolas”, observa Brandão. 

Na condição de “condenado e inconfidente”, o religioso, com atividade política intensa, foi degredado para Portugal e lá viveu na clausura.

“Nesse período, o padre colaborou como tradutor e tipógrafo na célebre tipografia do Arco do Cego, ativa entre 1799 e 1801, casa editorial inovadora por seus temas enciclopédicos e ricas ilustrações”, explica Brandão no texto de divulgação do evento desta terça-feira, que será realizado no auditório do anexo do Museu da Inconfidência, no Centro de Ouro Preto.


Página do livro 'Tractado da cultura dos pessegueiros', publicado em 1801
Tradução para o português é assinada por Manoel Rodrigues da Costa, homem culto da Minas colonial (foto: Edson Brandão/reprodução)
“A tipografia do Arco do Cego foi criada e dirigida pelo franciscano brasileiro José Mariano da Conceição Veloso (1741-1811), o mais importante botânico da época. A fim de se reabilitar diante da corte portuguesa, o padre Manoel Rodrigues da Costa traduziu 'Tractado da cultura dos pessegueiros', com texto original em francês, configurando a obra um esforço daqueles editores em dotar os agricultores brasileiros de mais conhecimentos para produções diversificadas visando ao abastecimento interno, em contraponto ao foco colonial para monocultura exportadora”, informa Brandão.

O raro exemplar, “comprovadamente autêntico”, destinado ao Museu da Inconfidência pertenceu à coleção da Quinta das Lágrimas.

O Museu da Inconfidência abre de terça-feira a sábado, das 9h às 17h. Nesta quinta-feira (21/4), funcionará a partir do meio-dia, devido às cerimônias do Dia da Inconfidência.

No próximo domingo (24/4), o equipamento cultural ficará aberto, excepcionalmente, das 9h às 17h, com entrada franca.


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