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Estado de Minas TELEVISÃO

Nova geração de autores assina as três principais novelas da Globo

Alessandro Marson, Thereza Falcão, Mauro Wilson e Lícia Manzo representam um sopro de modernização na teledramaturgia brasileira


01/01/2022 04:00 - atualizado 01/01/2022 08:28

A novelista Lícia Manzo em sua mesa de trabalho
Seguindo a trilha de Gilberto Braga e Manoel Carlos, mas com seu próprio estilo, Lícia Manzo assina "Um lugar ao sol" (foto: João Cotta/divulgação)


Com três novelas inéditas no ar depois de quase dois anos, a Globo mostra a força de autores novatos na arte de escrever folhetins diários.
 
Desde que a pandemia interrompeu “Amor de mãe” e “Salve-se quem puder”, apressando também o final de “Éramos seis”, não víamos três novelas inéditas nos horários importantes para a teledramaturgia da emissora. Agora estão aí “Nos tempos do imperador”, de Alessandro Marson e Thereza Falcão, na faixa das 18h; “Quanto mais vida, melhor!”, de Mauro Wilson, na faixa das 19h; e “Um lugar ao sol”, de Lícia Manzo, na faixa das 21h.

SOPRO DE RENOVAÇÃO

Além do ineditismo, as três atrações têm outro fator em comum: a renovação de autores. A chegada de novos nomes ao seleto grupo de novelistas da Globo traz a esperança de um sopro de criatividade e de certa ousadia, mesmo que calculada.
 
Interessante notar que os quatro têm a sua própria marca (claro, a ser desenvolvida em próximas tramas), mas também bebem da fonte clássica, o que é ótimo.
 
Thereza Falcão e Alessandro Marson chegaram à segunda novela das respectivas carreiras e também ao segundo folhetim que criaram em parceria. A primeira foi “Novo mundo” (2017). Porém, “Nos tempos do imperador” não chega a empolgar como sua “prima-irmã”, da qual é uma espécie de continuação.

Os novelistas Thereza Falcão e Alessandro Marson conversam com a atriz Leticia Colin nos estúdios da novela Nos tempos do imperador
Thereza Falcão e Alessandro Marson com a atriz Leticia Colin, que interpreta a princesa Leopoldina, no set de "Nos tempos do imperador" (foto: Estevam Avellar/Globo)

 
A trama derrapa em retratos da história, especialmente no que se diz respeito à escravidão no Brasil. Mas não dá para negar: faz delicioso paralelo com a realidade, tal qual Cassiano Gabus Mendes em “Que rei sou eu?” (1989) – esta, sim, assumidamente uma sátira.
 
O discurso negacionista de autoridades diante da epidemia de cólera que atingia o Rio de Janeiro no século 19 e a negociação de Lota (Paula Cohen, perfeita em cena) com o deputado Tonico Rocha (Alexandre Nero) para que ele nomeie seu filho embaixador dos EUA, mesmo sem o rapaz seguir carreira diplomática, são exemplos de como a realidade do século 21 se expressou naquele histórico império.
 
Estreante em novelas, mas experiente em seriados, Mauro Wilson não nega as origens e leva o ritmo das séries para “Quanto mais vida, melhor!”. O resultado é quase um Carlos Lombardi 2.0, mas sem a turma dos descamisados.
 
O humor rápido, irônico, e as cores fortes de Mauro dialogam com o Lombardi de “Perigosas peruas” (1992) e “Quatro por quatro” (1994), além do Silvio de Abreu de “Sassaricando” (1987) e “Guerra dos sexos” (1983).

O novelista Mauro Wilson olha para a câmera
"Quanto mais vida, melhor!" ganhou o ritmo das séries que Mauro Wilson já criou (foto: Marília Cabral/divulgação )

 
A mais experiente dos novatos é Lícia Manzo. A autora de “Um lugar ao sol” chega ao horário das nove, mas fez sucesso de crítica e público anteriormente com “Sete vidas” (2015) e, especialmente, com “A vida da gente” (2011), ambas na faixa das 18h.
 
Impossível não notar o DNA de dois mestres do folhetim na obra de Lícia Manzo. Manoel Carlos se faz presente a cada cena não desperdiçada, a cada retrato do cotidiano, como as refeições da família reunida. Sem falar em discussões levadas para o universo feminino, como prazer sexual, crise da meia-idade e insatisfação com o próprio corpo.
 
O outro mestre a quem Lícia parece render homenagens é Gilberto Braga. Especialmente no núcleo encabeçado por Ana Beatriz Nogueira como Elenice e nas artimanhas armadas pela Bárbara de Alinne Moraes. Túlio (Daniel Dantas) poderia ser cria de Gilberto.

A MARCA DE GILBERTO

Os “ganchos”, que levam o espectador a correr para a internet à caça do que vem por aí, também se tornaram marca registrada da trama herdada do estilo Gilberto Braga, que nos deixou em 2021.
 
Com tudo isso, Lícia ainda dá a cara dela à trama. “Um lugar ao sol” faz parte de uma espécie antiga de novelas, daquelas que a gente precisava ver todo dia para não perder o fio da meada.
Os conflitos se desenvolvem rapidamente para dar lugar a outros ou para se enrolar novamente, como nos folhetins clássicos.
 
Em se tratando de um gênero cuja morte é alardeada há anos, a chegada dessa moçada cheira a revigoração.
 
Sentado numa cadeira, o novelista Walcyr Carrasco olha para a câmera e sorri
Walcyr Carrasco está feliz com a nova exibição de ''O cravo e a rosa'' (foto: Estevam Avellar/Globo)

Veterano é “selo” de sucesso 

Walcyr Carrasco, de 70 anos, foi o escolhido para ousada estratégia vespertina da Globo: a reprise de uma segunda novela antes de “Vale a pena ver de novo”. Desde o início de dezembro do ano passado, a emissora exibe “O cravo e a rosa”, folhetim de Carrasco, logo após o “Jornal Hoje”. Com isso, a emissora briga pela audiência na TV aberta, ameaçada pelo avanço do streaming.
 
A novela, que estreou em 2000, se inspirou em “A megera domada”, de Shakespeare. O elenco traz Adriana Esteves, Leandra Leal, Eduardo Moscovis, Drica Moraes e Luís Melo, entre outros. “O cravo e a rosa” já é veterana em repetecos: passou em 2003 e 2013 no “Vale a pena ver de novo”; em 2019, no Canal Viva; e também está disponível na plataforma de streaming Globoplay.
 
O “selo Walcyr Carrasco” avaliza a aposta da emissora. Afinal de contas, ele assinou “Êta mundo bom!”, “A dona do pedaço”, “Chocolate com pimenta”, “Verdades secretas” e “Xica da Silva”, o grande sucesso da extinta TV Manchete, que estreou em 1996 e lançou Taís Araujo.
 
O segredo de “O cravo e a rosa” pode estar na “mistura” de roça e cidade, com base nas memórias de Walcyr. “Fui criado no interior e tanto o humor como a estética caipira sempre mexeram muito comigo. Mas sou um homem urbano. Então fundi meus dois universos”, explica.

Primeira campeã de audiência do veterano na Globo, “O cravo e a rosa” tem significado especial para seu autor.
 
“A novela virou um clássico. Todas as vezes em que é reprisada, faz sucesso, e isso para mim é uma grande emoção: saber que uma novela não é instantânea, mas que pode permanecer”, comemora.
De acordo com Walcyr, o desafio do novo horário é bem-vindo: “Que autor não gostaria.?” E destaca como um dos atrativos de seu folhetim-comédia a personagem Marcela. “Drica Moraes como vilã é um sucesso. As cenas dela com o porquinho são inesquecíveis”, conclui. (Agência Estado


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