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Estado de Minas MÚSICA

Veteranos do Barão Vermelho, Guto Goffi e Rodrigo Santos se reinventam

Baterista estreia na poesia com o livro "Quem alimenta quem" e baixista lança "Simples'', seu primeiro disco solo no formato acústico


01/01/2022 04:00 - atualizado 01/01/2022 15:25

O baixista Rodrigo Santos olha para a câmera, com o violão no colo, tendo ao fundo morro carioca
Rodrigo Santos gravou "Simples" dentro do quarto, disposto a se reconectar com sua própria trajetória (foto: Dantas Jr/divulgação)

Nunca é tarde para “estrear”. Prova disso vem de dois veteranos do pop rock nacional, integrantes da banda Barão Vermelho: o baterista Guto Goffi, de 59 anos, e o baixista Rodrigo Santos, de 57. Goffi acaba de lançar seu primeiro livro de poemas, “Quem alimenta quem”, enquanto Santos mandou para as plataformas digitais seu primeiro álbum solo acústico, “Simples”. Ambos flertam com as artes visuais, cuidando pessoalmente das imagens dos novos trabalhos.
 
Deixar para trás o “mais do mesmo” – essa é a proposta dos “Barões”. “Não gosto de repetir fórmulas, tenho sempre de estar seduzido por algo estranho. Consigo me achar ali, produzir, não gosto muito dessa coisa de zona de conforto”, diz Goffi.
 
“Confesso que a ideia de fazer um álbum acústico não passava pela minha cabeça”, revela Santos, contando que seus shows pré-pandemia quase sempre ocorriam no formato power trio (guitarra, baixo e bateria).
 

"Não sou mais banda de multinacional. Se fosse, ficaria engessado, sempre com a mesma fórmula. Consegui me afastar disso e o campo criativo aumentou muito" Guto Goffi, músico e escritor

 

VERSOS SEM CANÇÃO

O livro de Guto Goffi traz tanto letras musicadas pelo Barão Vermelho quanto outras que ele musicou em projetos solo, além de versos que ainda não se tornaram canção.
 
“Quem alimenta quem” surgiu do desejo do baterista de registrar pensamentos, mostrar o seu jeito direto de dizer as coisas. “Na poesia, somos todos singulares. As pistas e significados das coisas que nos cercam e se desnudam no dia a dia estão neste livro”, avisa.
 
Guto revela outra faceta de seu talento. Foi ele quem criou as ilustrações do livro, que traz 40 poemas e 40 imagens criadas por ele.
 
“São quatro capítulos com 10 letras cada. Já vinha ilustrando desde quando começou a pintar o computador”, conta. Ele gosta de transformar fotos, usando recursos da arte digital para alterar imagens.
 
O primeiro capítulo se chama “Aumenta o som”; o segundo, “O inferno é aqui”, o terceiro, “Mil nadas”; e o último, “Eu nunca estou só”. As letras foram selecionadas de acordo com cada subtítulo.

De boné e óculos, músico Guto Goffi olha para o lado
"Na poesia, somos todos singulares", afirma Guto Goffi, autor do livro "Quem alimenta quem" (foto: Vanessa Angelo/divulgação)


Batizar o livro foi um desafio. “Já tinha uns 30 títulos e saí gastando todas as ideias. Até que mostrei para uma amiga e ela me perguntou: 'Por que não fazer subtítulos?'. Foi assim que saquei essa coisa dos quatro capítulos”, explica.
 
O pequeno livro ganhou o formato de CD. “Ele será também comercializado em um box junto de meus discos autorais. É mais uma extensão do que faço na arte. Tem a bateria, mas tenho também o lado compositor. Separada da melodia, a letra tem outra respiração, vira outra coisa.”
 
Feliz com seu trabalho, o músico acaba de completar 59 anos. Fundador do Barão Vermelho, já são quatro décadas de palco. “Estou na reta final, jogando o terceiro tempo. Tudo o que puder deixar da minha visão sobre arte e sobre o mundo, vou tentar fazer”, comenta.
 
O outro livro de Guto Goffi saiu em 2007. “Barão Vermelho – Por que a gente é assim?” (Editora Globo) foi escrito a seis mãos pelo baterista, o mineiro Ezequiel Neves, mentor da banda, e o jornalista Rodrigo Pinto. “Narra a nossa história até 2013, quando aconteceu a última turnê com o Frejat”, explica o músico.
 
Por sua vez, “Quem alimenta quem?” começou a ser escrito em 1985, quando Cazuza deixou a banda. “Minhas primeiras letras foram com o Ezequiel Neves. A partir de 1987, comecei a fazer sozinho. Aí continuei produzindo para o Barão e para meus próprios discos”.

Goffi lançou os álbuns solo “Alimentar” (2011), “O bem” (2016) e “C.A.O.S.”. O próximo, “Respirar agora”, ainda está em aberto.
 
O artista carioca também planeja criar um disco para cada letra do alfabeto. “É o meu sonho. Não sei se vou ter saúde para produzir isso. Já fiz 17 discos com o Barão e estou no quarto CD autoral”, diz. “Trabalho muito. Música é assim, quando você descobre que está em um mundo de muitas possibilidades. Não tenho mais gravadora, não sou mais banda de multinacional. Se fosse, ficaria engessado, sempre com a mesma fórmula. Consegui me afastar disso e o campo criativo aumentou muito”, comenta.

PRODUÇÃO PANDÊMICA

O campo criativo de Rodrigo Santos se ampliou durante a pandemia, inspirando o álbum “Simples”. Das 11 faixas, mixadas pelo amigo e guitarrista Gustavo Camardella, sete são autorais e quatro nasceram de parcerias com Roberto Frejat, Fernando Magalhães, Maurício Barros e Mauro Santa Cecília.
 
A capa do disco foi desenhada pelo próprio Rodrigo. Com novos arranjos, as canções “Trem bala”, “32 segundos”, “7 vidas”, “Tempos difíceis” e “Nunca desista do seu amor” se juntaram a “Tanto faz”, “Juntos de novo”, “O meu juízo” e à recém-lançada “Sem você”.
 
Durante a pandemia, o baixista fez lives e passou a ensinar violão. Agora está envolvido na montagem de um curso on-line chamado “Luau rod san – O início de tudo”.
 
O novo trabalho surgiu do contato com os fãs, era um pedido antigo deles. O confinamento social acabou promovendo o reencontro de Santos com sua própria obra. Em lives caseiras no formato acústico, ele notou o quanto o público se identificava com letras de canções escritas e lançadas entre 2007 e 2020.
 
“Naquele momento de isolamento coletivo, elas ganharam outro significado, como é o caso de '32 segundos', 'Estrangeiro' e 'Um pouco mais de calma'”.
 
Em setembro, com a retomada dos shows presenciais, Rodrigo optou por apresentações de voz e violão, formato mais intimista. “Presente de Natal de última hora para admiradores do meu trabalho, o disco veio da vontade de me reconectar com meus próprios pensamentos em registros simples e caseiros”, observa.
 
Em 2020, ele havia lançado o álbum “Livre”, mas com outra proposta. “Na verdade, coloquei ali muitas pessoas para gravar, acabei fazendo muitos arranjos, era um álbum mais completo em termos de instrumentos”, explica. E confessa: “Fiquei devendo o acústico não só para os fãs, mas para mim mesmo. 'Simples' é reflexivo, intimista. Ainda não tinha feito um trabalho assim”.
 
De 2017 para cá, ele usou muitos instrumentos nos álbuns que gravou, o que acabou norteando o resultado final. “A canção acabava indo para outro lado”, comenta. Com “Simples”, ele pôde regravar letras que julga interessantes e com as quais as pessoas se identificam, sobretudo na pandemia. “Entendi o valor dessas letras e o público também. As pessoas falavam muito isso nas lives.”

Não foi um processo simples. Rodrigo foi selecionando o repertório entre várias canções até chegar a 20. Gravou todas, mas escolheu 11 faixas para “Simples”.
 
Em duas noites de novembro de 2021, no estúdio montado em seu próprio quarto, ele trocou o violão com cordas de aço por outro com cordas de nylon. “Fiz tudo tocando ao vivo. Sentei, coloquei o microfone e gravei violão e voz. Não tem nada regravado, foi tudo de take direto. Pensei: o disco será simples, cru. Quero que as pessoas escutem o barulho dos dedos nas cordas do violão, que escutem o dedilhado até quando ele estala mais. Algo que eu ouvia com o trio folk Crosby, Still e Nash”, conclui.
 
Na capa do disco ''Simples'', ilustração mostra o perfil do músico Rodrigo Santos
(foto: Reprodução)
 

 “SIMPLES”

Disco de Rodrigo Santos
Mins Música
11 faixas
Disponível nas plaaformas digitais 
 
Capa do livro ''Quem alimenta quem'' mostra desenho com pássaros sobre linhas de pauta musical
(foto: Reprodução)
 

“QUEM ALIMENTA QUEM?”

Livro de Guto Goffi
Editora Caçadores de Sonhos
100 páginas
R$ 95


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