Pianista Enrique Graf sorri para a câmera e tem piano de cauda ao fundo

Estreando em BH, Enrique Graf, pianista uruguaio radicado nos EUA, apresenta obras de Ravel, George Gershwin e Vaughan Williams

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Quando a Alemanha declarou guerra à França, em agosto de 1914, o compositor francês Maurice Ravel (1875-1937) foi tomado pela euforia patriótica que acometeu inúmeros conterrâneos seus. “A pátria espera somente por mim para ser salva”, escreveu ao amigo Maurice Delage (1879-1961) antes de se alistar como voluntário no conflito.

Ravel foi para o campo de batalha, serviu como motorista de ambulância e viu seu patriotismo se diluir ao encarar a carnificina no front. Ao voltar, ainda impactado com o que presenciou na guerra, compôs “La valse”.

A peça integra o repertório da apresentação do projeto Concertos da Liberdade, realizada pela Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais, nesta quarta-feira (26/4), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes.

“Pavana para uma princesa morta”, também de Ravel; "Toward the unknown region", de Ralph Vaughan Williams (1872-1958); e "Concerto em fá”, de George Gershwin (1898-1937), também estão no programa.

“A primeira parte do programa (que contém ‘La valse’, ‘Pavana para uma princesa morta’ e ‘Toward the unknown region’) tem toda uma temática que observa a morte sob o ponto de vista musical de cada um dos compositores”, explica a regente da orquestra, Ligia Amadio.

Homenagem a Strauss

A maestrina conta que, durante muito tempo, Ravel alimentou profundo desejo de compor valsas como forma de homenagear Johann Strauss. Mas somente depois e voltar da guerra ele conseguiu escrever e concluir a composição.
“Ela é distinta”, afirma Ligia. “Tem todo o estigma da morte, que Ravel presenciou na guerra. É uma valsa impregnada de elementos dramáticos catastróficos”, emenda a regente.
 

Na peça, os naipes de cordas, madeiras, metais e percussão ora desenvolvem a melodia com crescendos progressivos, ora fazem sonoridade mais suave, com destaque nos fagotes, violinos e harpa.

Já “Toward the unknown region”, de Vaughan Williams, é inspirada no poema "Darest thou now o soul”, de Walt Whitman (1819-1892). No texto musicado por Vaughan Williams, o poeta enxerga a morte como libertação. “Caminhe comigo em direção à região desconhecida... / Até os laços se soltarem, / Tudo menos os laços eternos”, escreve Whitman.

“É uma peça fabulosa, super bem escrita. Tem uma visão muito luminosa da morte, em que a alma se liberta de todas as amarras e se funde ao universo de maneira plena”, ressalta a regente. “Embora, comparado com os outros compositores (Ravel e Gershwin), Vaughan Williams seja um autor, digamos, menos importante; ele é considerado o grande compositor inglês”, informa.

Piano e orquestra caem no jazz

A segunda parte do repertório conta com o “Concerto em fá”, de George Gershwin, para piano e orquestra. Diferentemente das obras executadas anteriormente, esta peça se aproxima muito mais do jazz do que da música clássica.

Gershwin é um dos principais compositores de jazz, tendo emplacado canções em espetáculos da Broadway e em discos de importantes intérpretes do estilo, como Ella Fitzgerald (1917-1996), Louis Armstrong (1901-1971), Miles Davis (1926-1991), Frank Sinatra (1915-1998) e Doris Day (1922-2019), entre outros. Até João Gilberto (1931-2019) gravou Gershwin. “'S wonderful” entrou no disco “Amoroso”, de 1977.
 
Na apresentação desta quarta-feira (26/4), o responsável pelo solo no piano será o uruguaio Enrique Graf. Há mais de 50 anos radicado nos EUA, ele desembarca pela primeira vez na capital mineira. "O jazz me encanta muito. Quando não estou tocando música clássica, gosto de tocar jazz. Portanto, poder executar ‘Concerto em fá’, de Gershwin, é maravilhoso para mim, porque é o mais próximo que chego de apresentar jazz”, conta o pianista.

Ainda que Ravel, Gershwin e Vaughan Williams sejam únicos no estilo em que compõem e escreveram peças com características muito diferentes entre si, há um elo que liga os três: a admiração mútua.

“Ravel conheceu a obra de Gershwin nos EUA, ficou fascinado.  Gershiwn visitou o Ravel em Paris. Eles se tornaram muito amigos. Já Vaughan Williams, na Inglaterra, também estudou com o Ravel e teve influência dele na sua maneira de orquestrar”, afirma Ligia.

“Além disso, a fineza na orquestração que ambos apresentam em suas obras é, sem dúvida, outra característica em comum dos três”, conclui a maestrina.

Agenda de terça

Trechos do concerto de quarta-feira  (26/4) serão apresentados gratuitamente nesta terça-feira (25/4), ao meio-dia, no Grande Teatro do Palácio das Artes. Também hoje, o pianista Enrique Graf ministra masterclass gratuita, das 14h às 16h, na Sala Fernando Pinheiro Moreira da Fundação Clóvis Salgado. As inscrições podem ser realizadas pelo telefone (31) 3236-7388, a partir das 9h. As vagas são limitadas.
 

CONCERTOS DA LIBERDADE

Orquestra Sinfônica e Coral Lírico de Minas Gerais apresentam peças de Maurice Ravel, Ralph Vaughan Williams e George Gershwin. Com participação do pianista Enrique Graf. Na quarta-feira (26/4), às 20h30, no Grande Teatro do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos à venda por R$ 20 (plateia 1, inteira), R$ 15 (plateia 2, inteira) e R$ 10 (plateia superior, inteira) na bilheteria do teatro ou pelo site fcs.mg.gov.br. Nesta terça (25/4),