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COVID: vacinas de Pfizer e Moderna têm baixo risco de inflamações cardíacas

Estudos associam vacinas à ocorrência de miocardite e pericardite, que afetam músculos e tecidos do coração, respectivamente. Segundo autores, o efeito é raro


30/06/2021 07:54

Área de observação após a aplicação de vacina em Seattle, nos EUA: país registrou casos de complicação rara (foto: Jason Redmond/AFP)
Área de observação após a aplicação de vacina em Seattle, nos EUA: país registrou casos de complicação rara (foto: Jason Redmond/AFP)
Dois estudos publicados, nesta terça-feira (29/6), na Revista da Associação Médica Norte-Americana (Jama) descreveram um tipo de evento associado às vacinas de RNA mensageiro (mRNA) da Moderna e da Pfizer. No total, 27 pessoas apresentaram inflamação no músculo cardíaco (miocardite) após receberem a segunda dose do imunizante. Contudo, tanto os pesquisadores quanto os especialistas independentes ressaltam que são efeitos colaterais raríssimos, muito menos comuns do que os danos cardiovasculares causados pela COVID-19.

Os dois artigos foram precedidos por outros estudos que também registraram casos de miocardite e pericardite (quando a inflamação é nos tecidos que circundam o coração) nos Estados Unidos e em alguns países europeus. Na semana passada, o Centro de Controle de Doenças norte-americano, o CDC, realizou um painel sobre segurança de vacinas no qual foi divulgada a informação de que há uma “provável associação” entre os imunizantes de mRNA e o risco raro de inflamação coronariana em adolescentes e jovens adultos.

Segundo o CDC, foram confirmados 383 casos após a segunda dose da vacinação com as substâncias de RNA mensageiro. Quando se incluem também pessoas com mais de 30 anos, o número de registros passa para 1,2 mil. No início do mês, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) divulgou um comunicado informando que o comitê de segurança do órgão acompanha atentamente os efeitos colaterais do tipo.

De acordo com o relatório da agência, até o fim de maio, foram registrados 122 casos de miocardite após a vacina da Pfizer e 16 depois da Moderna. Estatisticamente, é um risco muito baixo: o universo de doses aplicadas no mesmo período dos dois imunizantes foi, respectivamente, de 160 milhões e de 19 milhões. Já as ocorrências de pericardite foram 126 (Pfizer) e 18 (Moderna). O Ministério da Saúde de Israel também reportou, no início de junho, que, entre dezembro de 2020 e maio de 2021, entre mais de 5 milhões de pessoas vacinadas, foram detectados 275 casos de miocardite. A maior parte dos pacientes era homem, com 16 a 30 anos.

Até agora, esses dados são observacionais: ou seja, não se estabeleceu uma relação de causa e efeito. É o mesmo caso dos estudos publicados ontem no Jama. Em um deles, pesquisadores das Forças Armadas norte-americanas e da Clínica Mayo, entre outras instituições, relatam 23 casos de miocardite em homens jovens, incluindo 22 militares previamente saudáveis, ocorridos em um universo de 2,8 milhões de doses de vacinas de mRNA. Os sintomas surgiram entre 12 e 96 horas depois da injeção.

Recuperação rápida

Todos os 23 pacientes apresentaram sintomas de dor torácica intensa e níveis significativamente elevados de troponina cardíaca, um marcador de proteína usado para medir danos ao coração. A recuperação foi rápida, o que, combinado com o momento em que os primeiros sintomas surgiram, sugere o diagnóstico de miocardite de hipersensibilidade, um tipo incomum de inflamação coronariana, geralmente relacionado a uma alergia a medicamentos.

“A miocardite de hipersensibilidade após a vacinação é rara, com exceção da vacina contra a varíola”, explica Leslie Cooper, presidente do Departamento de Cardiologia na Clínica Mayo na Flórida e autor sênior do estudo. “O risco de miocardite após receber a vacina de mRNA é muito menor do que o mesmo problema causado pela infecção por COVID-19”, destaca.

Até 60% das pessoas com a forma grave da doença apresentam lesões no coração, e quase 1% dos atletas em boa forma que tiveram infecção leve por Sars-CoV-2 foram diagnosticados com miocardite. “Pessoas de todas as idades devem escolher receber uma vacina porque os riscos são extremamente baixos em comparação aos benefícios. Além disso, o crescente corpo de pesquisas mostra que a miocardite associada à vacina se resolve rapidamente em quase todos os casos”, ressalta Cooper.

O outro artigo publicado na Jama é de pesquisadores do Centro Médico da Universidade de Duke, nos EUA, e envolve um pequeno número de pacientes — quatro pessoas — que apresentaram sintomas de miocardite cinco dias depois de serem vacinados com os imunizantes de mRNA. Três eram homens de 23 a 36 anos, e um era uma mulher com 70 anos. Todos receberam alta hospitalar em até quatro dias de hospitalização.

“Os dois estudos mostram uma associação da vacinação com miocardite, mas, certamente, não implicam em causa”, observa o cardiologista Chris Semsarian, da Universidade de Sydney, na Austrália. “A incidência de miocardite nesses estudos é extremamente rara entre aqueles que foram vacinados e infinitamente superada pelos benefícios surpreendentes da vacinação para a COVID-19 na prevenção de insuficiência cardiorrespiratória e morte, especialmente em pessoas com doença cardiovascular preexistente”, afirma.

Saidi Mohiddin, professor de cardiologia da Universidade de Londres, ressalta que os casos apresentados nos dois estudos podem, inclusive, não ter relação alguma com a vacina. “Apresentações clínicas muito semelhantes de miocardite têm uma incidência sazonal. Frequentemente, são mais vistas em homens jovens e podem seguir infecções torácicas leves ou gastrointestinais não caracterizadas, que são, geralmente, de causa incerta”, diz. “Precisamos de estudos de associação em grande escala para nos dizer se há uma relação entre vacina e miocardite, bem como mais pesquisas básicas que nos mostrem o porquê.” 

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