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Estado de Minas QUEDA DE TEMPERATURA

Por que sentimos mais dor no frio?

Dores nas costas, no joelho, ao levantar depois de um tempo maior na mesma posição: isso ocorre porque o corpo passa por uma deficiência no suporte sanguíneo


19/05/2022 09:00 - atualizado 19/05/2022 01:08

Praça da Bandeira
As temperaturas em BH despencaram nos últimos dias (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)
Belo Horizonte tem batido recordes de baixa temperatura. Os termômetros parecem enlouquecidos. E, neste frio, antes mesmo da chegada do inverno, a impressão é que tudo no corpo dói. E há uma explicação. As dores tendem a ficar mais intensas neste clima, porque o corpo passa por uma deficiência no suporte sanguíneo, há uma diminuição no metabolismo, um encurtamento das fibras musculares, uma limitação articular e alterações que dificultam certos movimentos do corpo. Assim, joelho, lombar, cervical, ombros e tudo mais dão sinais nada agradáveis. Sem falar que, mesmo sem perceber, o frio deixa a maioria mais encolhida, com movimento contidos, rígidos, o que também leva a um incômodo.

O médico Daniel Oliveira, ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do Núcleo de Ortopedia e Traumatologia de Belo Horizonte (NOT), destaca que as dores costumam ser mais frequentes em pacientes que têm problemas articulares, musculares ou de coluna. 
 
De acordo com Daniel Oliveira, a dor aumenta nos dias mais frios porque as pessoas contraem mais os músculos, mesmo que de maneira involuntária e isso ocorre principalmente nos braços e na coluna. Essas contrações têm o intuito de movimentar, gerar energia e aquecer o corpo.

médico Daniel Oliveira
Daniel Oliveira, ortopedista especializado em coluna vertebral e diretor do NOT, diz que a dor aumenta nos dias mais frios, porque as pessoas contraem mais os músculos, mesmo que de maneira involuntária (foto: Violeta Andrada/Divulgação )


"O fato de ficarmos mais encolhidos e também nos movimentarmos menos faz com que haja mais rigidez muscular. Um outro fator que pode ser agravante para essa sensação de dor tem a ver com o fato de o corpo sofrer uma mudança no que diz respeito à circulação sanguínea, que acaba sendo direcionada principalmente para áreas como cérebro, coração e pulmão, por exemplo. Com esse direcionamento, as áreas periféricas, como a musculatura, acabam tendo uma redução dessa circulação. Além disso, temos um líquido dentro da articulação - o líquido sinovial. Ele é responsável por lubrificá-la e, com o frio, torna-se mais espesso", explica o ortopedista.
 
 

Daniel Oliveira avisa que pacientes com doenças nas articulações, como artrite reumatoide, fibromialgia, outras doenças que afetam a cartilagem podem sentir mais dor nesse período de temperaturas mais baixas. "Além disso, aqueles que passaram por cirurgia recente podem sentir desconforto no local da cicatriz pelo fato de elas ficarem mais retraídas."

Mulheres e idosos sentem mais frio


Mulher se prepara para correr
Com a roupa adequada, não deixe de praticar sua corrida (foto: StockSnap/Pixabay )


Com relação aos músculos, o ortopedista lembra que, o corpo, por ser uma máquina perfeita, acaba fazendo com que ocorra maior circulação de sangue e calor na região torácica com o objetivo de manter a temperatura corporal e a homeostase (estado de equilíbrio do meio interno). "Se não aquecermos o corpo, essas dores permanecem ao longo do dia. À medida que o colocamos em movimento, esse incômodo diminui. Mulheres são mais afetadas com essas dores em temperaturas mais baixas do que os homens, devido à questão hormonal, que pode alterar a percepção de dor, e os idosos também tendem a sofrer mais com as quedas bruscas nos termômetros."

Daniel Oliveira explica que coluna, joelho e articulações doem mais. "Isso ocorre porque há uma diminuição do diâmetro dos vasos sanguíneos, porque contraímos mais os músculos e aumentamos a curvatura fisiológica da coluna. Há também um aumento da viscosidade do líquido sinovial, que gera maior rigidez nas articulações e uma variação da pressão atmosférica, que é muito sensível a mudanças repentinas de temperatura. Quando ela cai, os tecidos do corpo podem se expandir, o que acaba pressionando os nervos que controlam os sinais de dor."

Diante da dor, o único pensamento é se livrar dela. Daniel Oliveira diz que em determinados caso o medicamento é inevitável. "Mas é fundamental consultar um médico de confiança para que a medicação seja assertiva. O fato de as pessoas se automedicarem pode fazer com que haja uma resposta contrária àquilo que o paciente precisa no momento. É o profissional quem vai prescrever o que pode e deve ser utilizado, além de investigar corretamente o que está causando a dor."
 
Há outros caminhos, paliativos, no momento da dor. Asiim, para passar pelo inverno e encarar as baixas temperaturas sem tanto sofrimento, Daniel Oliveira recomenda:  
 
  1. Manter o corpo aquecido e protegido do frio intenso. Vale investir em agasalhos e roupas apropriadas, banhos mais quentes e bolsa térmica nos locais que estão doloridos. O calor é fundamental para que aconteça uma descontração dos músculos, tendões e ligamentos, para aliviar a pressão das articulações e melhorar a circulação sanguínea.

  2. Não menos importante, é fundamental manter o corpo em movimento. Fazer alongamentos, exercícios que promovam o aquecimento corporal e praticar atividades físicas regularmente com o objetivo de melhorar a circulação sanguínea, a lubrificação das articulações e  evitar a contração muscular.
 

Manter-se ativo e em movimento

 
Basta fazer frio e muitos praticantes de atividade física, principalmente os mais ariscos, tendem a fugir da academia, do esporte, da rotina de movimentar o corpo. O que é um erro e, dependendo do caso, só vai aumentar a dor física nas baixas temperaturas. Praticar alongamentos, caminhadas ou exercícios com baixo impacto, como hidroginástica e a natação, por exemplo, são ótimos aliados na prevenção das dores.

fisioterapeuta Vitor Alvarenga
O fisioterapeuta esportivo Vítor Alvarenga diz que algumas pessoas fogem da academia no frio, principalmente quem ainda não colocou o exercício físico como prioridade no dia a dia, o que é um erro (foto: Fernando Trancoso/Divulgação)
O fisioterapeuta esportivo Vítor Alvarenga, com pós-graduação em ortopedia e esportes, enfatiza: "O hábito de praticar atividade física é algo construído. Não é de uma hora para a outra, e demanda disciplina e dedicação. Uma pessoa que já está habituada à atividade física no seu dia a dia como um hábito essencial, dificilmente vai abandonar a prática com o frio. No entanto, algumas pessoas realmente sentem essa dificuldade, principalmente as que ainda não conseguiram colocar o exercício físico como uma de suas prioridades no dia a dia. Para essas pessoas, recomendo que procurem encontrar uma atividade física de que gostem, isso é essencial para que consigam incluí-la na rotina. Além disso, lembrar-se de que é melhor fazer algum tempo diário de atividades físicas do que não fazer nada."



Ou seja, não adianta nada querer ficar na academia por várias horas por uma semana e depois simplesmente não fazer mais. "É preferível praticar alguns minutos por dia e conseguir manter consistência, que tentar fazer além da conta e não dar continuidade. Outra dica é estabelecer um horário fixo para a prática e enxergar aquilo como um compromisso consigo mesmo. No cotidiano atual, em meio ao excesso de telas e cargas horárias de trabalho exageradas, praticar atividade física é uma das poucas coisas que fazemos para nós, além de ser essencial para a saúde, tanto física como psicológica. Lembre-se de que, no frio, também tendemos a comer alimentos mais calóricos, então, manter-se sedentário vai contribuir ainda mais para o ganho de peso."

 

Ganho de peso e enrijecimento da musculatura

Vítor Alvarenga lembra que não há uma prática ideal para o frio. O mais importante é que a pessoa procure se conhecer e, dessa forma, identificar alguma atividade física de que ela goste. "É o mais importante para conseguir manter a consistência na prática do dia a dia."


O fisiotereapeuta esportivo alerta que deixar de se exercitar é extremamente maléfico, independentemente da época. "No frio, temos a tendência de comer alimentos mais calóricos, então, o prejuízo para o controle do peso corporal é maior. Além disso, para quem tem problemas crônicos articulares ou musculares, o enrijecimento da musculatura com a ausência da movimentação do corpo, vai contribuir para agravar o problema. Manter o corpo em movimento é importante para tratar dores e problemas crônicos do sistema musculoesquelético de forma geral."

Vítor esclarece que as pessoas precisam entender que enrijecer a musculatura e ficar sedentário só vai piorar o problema. "Se está sem ânimo para ir à academia, faça uma caminhada. Se não está conseguindo ir caminhar, procure um programa de exercícios funcionais que possa ser feito em casa com segurança. Se está incapacitado de fazer exercícios desse tipo, procure colocar em prática um programa diário de alongamentos, principalmente se trabalha sentado por muitas horas. É importante parar de tempos em tempos para alongar."
 
O fisioterapeuta esportivo afirma que a ideia de que o frio aumenta a dor é, na verdade, uma impressão causada justamente porque existe a tendência de contrair a musculatura e ficar mais parado. "Mantendo-se em movimento, você vai conseguir controlar melhor a dor e ainda manter os benefícios para a saúde geral." 

Além da prática de alguma atividade física, Vítor Alvarenga chama a atenção para a importância dos alongamentos, também nas baixas temperaturas. "Os alongamentos vão ajudar a manter a musculatura relaxada, contribuindo para aliviar a sensação de rigidez que ocorre quando contraímos o corpo no frio. Eles também vão ajudar a manter o corpo em movimento, que é importante para a saúde de forma geral. Mesmo assim, é importante procurar associar o alongamento a outras atividades, como uma caminhada ou musculação. E, caso não seja possível, manter pelo menos os alongamentos diariamente." 



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