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Estado de Minas COMPORTAMENTO

Filosofia clínica: conhece-te a ti mesmo

Na filosofia clínica não há determinação a priori do que seja boa saúde mental, do que é normal, nem mesmo do que seja correto


01/08/2021 04:00 - atualizado 29/07/2021 11:59

(foto: chenspec/Pixabay)
(foto: chenspec/Pixabay)


Uma aproximação do aforismo grego “conhece-te a ti mesmo”. Assim é possível explicar para o leigo a proposta da filosofia clínica, de acordo com Elizabeth Alves, filósofa clínica e professora de yoground (www.yoground.com).

“Na filosofia clínica não há uma determinação a priori do que seja uma boa saúde mental, do que é normal, nem mesmo do que seja correto. Não há um protocolo que direcione a pessoa para a saúde ou para o bem-estar ou para ficar rico. A filosofia clínica busca estar ao lado do partilhante ajudando-o a compreender sua representação de mundo.”

Conforme Elizabeth Alves, de modo geral, a procura pela filosofia clínica tem a mesma demanda das demais terapias, ou seja, as pessoas se dizem estressadas demais e querem ser mais pacientes com quem amam ou trabalham, outras estão aborrecidas ou indecisas a respeito de algo na vida, tiveram perdas e se sentem emocionalmente frágeis.

Há quem deseja voltar a ter um sono tranquilo ou quer sair (ou não) de seus vícios emocionais ou físicos. Há até quem procure a filosofia clínica por curiosidade ou estão desiludidas com outras vertentes terapêuticas.


SEM MEDICAMENTO 


Elizabeth Alves destaca o que diz o dr. Lúcio Packter (fundador da filosofia clínica no Brasil), de que a filosofia clínica é um dos caminhos, entre outros, de se fazer terapia. Ela é um método de fazer terapia com metodologia, respeito e amizade. O filósofo clínico é um amigo, não aquele que lhe dá conselhos, mas que lhe escuta profissionalmente e tenta fazer com que o partilhante compreenda como reage à sua representação de mundo.

(foto: Arquivo Pessoal)
(foto: Arquivo Pessoal)

Procuramos nos aproximar do processo de construção de conceitos da pessoa, conceitos estes que a trouxeram à atual circunstância terapêutica. Usamos ferramentas que a própria pessoa já usa informalmente em sua vida e outras que virão

Elizabeth Alves, filósofa, especialista em filosofia clínica e professora de yoground



“Na prática, procuramos nos aproximar do processo de construção de conceitos da pessoa, conceitos estes que a trouxeram à atual circunstância terapêutica. Usamos na maioria das vezes ferramentas que a própria pessoa já usa informalmente em sua vida e outras que virão. Há uma série de ferramentas filosóficas, desde analítica da linguagem, lógica, ética, matemática simbólica e vários outros instrumentos de pesquisa e submodos que o filósofo poderá usar. É importante dizer que não aconselhamos quaisquer alterações na conduta com medicamentos.

RESPOSTAS PRONTAS 


A filósofa clínica explica que a insistência por perguntas em terapia tira do partilhante a oportunidade de perceber o que ele está falando. “Em filosofia clínica, essa atitude se chama agendamento e é uma interferência que fazemos minimamente. Nem todos têm facilidade de falar sobre a própria historicidade. Há várias formas de expressão e o filósofo clínico usa esses meios de semiose. A reflexão sobre a própria vida impede respostas prontas vindas de um livro, de uma receita, de um questionário, sejam de quais métodos forem. Nem todos querem respostas, a maioria quer resultados e algumas nem querem mudanças, pode acreditar. Estas querem partilhar as dúvidas, os pesos, o vazio, talvez compreender o que está acontecendo. E o resultado só pode vir de dentro da pessoa que busca o filósofo clínico, jamais o contrário. Nessa aproximação do mundo do outro, não é a filosofia clínica que leva perguntas e tampouco emite respostas. É nessa interseção de cuidado e atenção que a clínica é elaborada.”
 
Com toda a riqueza e profundidade da filosofia, todos se inspiram a partir de ideias desenvolvidas como a do filósofo alemão Arthur Schopenhauer que disse que “todo homem tem a sua representação de mundo”, bem como o pensamento do filósofo espanhol Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minha circunstância.” Por isso, Elizabeth Alves avisa: são tantos e diversos os pensamentos filosóficos e alguns até contrários entre si que não há como escolher alguns filósofos. Os pensamentos filosóficos utilizados serão os que podem ser comportados dentro da estrutura de pensamento de cada pessoa.

Elizabeth Alves explica que a filosofia clínica é um princípio metodológico que conjuga algumas áreas do saber, instituída como uma profissão autônoma, não dependente e em interface com outras áreas das ciências humanas e biológicas.

“Tecnicamente, dispomos de uma tabela de 32 ferramentas que poderão ser utilizadas em clínica. Há clínicos, psiquiatras, professores, enfermeiros, assistentes sociais fazendo a pós-graduação em filosofia clínica, no Brasil e em países como Israel, Portugal, México e Espanha. Estamos fazendo clínica e precisamos estar juntos e atentos em conversações que ampliem a dimensão de pessoa, de alteridade, de cuidado e acolhimento.”


ONDE MAIS PESQUISAR

O pensamento de cada filósofo é instrumento poderoso no processo do autoconhecimento(foto: morhamedufmg/Pixabay)
O pensamento de cada filósofo é instrumento poderoso no processo do autoconhecimento (foto: morhamedufmg/Pixabay)

 

2 – Associação Nacional de Filósofos Clínicos: www.anfic.org.br

3 – Instituto Mineiro de Filosofia Clínica (IMFIC): https://www.imfic.org/

4 – Diretrizes curriculares nacionais para a formação em filosofia clínica: 
https://www.anfic.com.br/documentos/diretrizes-curriculares-nacionais-para-a-formação-em-filosofia-clinica/
 


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